Festival de Sundance 2018 – Dia 7 #ConexãoSundance
Festival de Sundance 2018 – Dia 7
Conexão Sundance

Festival de Sundance 2018 – Dia 7 #ConexãoSundance

Festival de Sundance 2018 – Dia 7: Maurício Costa vai do céu à terra em um único dia. Os três filmes exibidos são basicamente: um razoável, um ruim e um bom. O primeiro é uma crítica ao racismo dirigida por um chileno (Tyrel), o segundo é um filme experimental sobre uma menina com distúrbios psiquiátricos (Madeline’s Madeline), e o terceiro é o polêmico e controverso Assassination Nation.

 

Festival de Sundance 2018 – Dia 7:

 

Tyrel

Estados Unidos, 2017, 86 min. Ficção. Direção: Sebastián Silva

Dirigido pelo chileno Sebastián Silva, radicado nos Estados Unidos há muitos anos, o filme foi feito “planejado para o público americano”, e isso faz sentido. O personagem principal é o Tyler, que por ser negro sempre precisa dizer que “não é Tyrel, é Tyler”. Ele vai com um amigo para uma festa de aniversário em uma cabine na floresta. Chegando lá, ele é o único negro, e as coisas começam a ficar mais complicadas. Maurício conta que, apesar de parecer, ele é bem diferente de “Corra!”. O filme tem o objetivo de discutir as “micro agressões” que ele sofre. Piadinhas racistas, coisas que são apenas “brincadeira” e questões de estereótipo. Em nenhum momento a coisa descamba para um grau de violência física. Na verdade, há uma incompreensão, e isso se dá em duas vias: ao mesmo tempo que os brancos não se dão conta de que as coisas que eles falam ou fazem podem ser ofensivas, como dar risada de memes que comparam atrizes brancas com atrizes negras. Tyler se sente deslocado, mas não se sente agredido fisicamente. Por isso, você tem na prática um microcosmo que reproduz a lógica da segregação. O próprio Tyler não consegue entender porque está se sentindo daquele jeito, já que não está sendo agredido. Isso na verdade torna o filme numa experiência que pode ser mal compreendida, já que mostra um bando de homem fazendo coisas que homens toscos fazem reunidos em uma cabana. O próprio diretor falou que ver o filme como um monte de homens fazendo coisas toscas em uma cabana é uma total falta de empatia com a comunidade negra nos Estados Unidos, já que as pessoas não conseguem entender como as “micro-agressões” diárias podem causar danos, e os negros convivem com isso todos os dias. Segundo o crítico, é um bom filme e fica com uma boa nota.

 

Madeline’s Madeline

Estados Unidos, 2018, 94 min. Ficção. Direção: Josephine Decker

Filme difícil. É um filme experimental e com proposta poética de fazer um filme tenso, segundo Maurício. Ele tem como protagonista uma personagem adolescente que já teve episódios de problemas psiquiátricos, e que faz aulas de teatro como parte da terapia. Ele vai trabalhando a relação conflituosa dela com a mãe, com flashbacks e flashforwards, e a relação doentia que ela cria com a professora de teatro, que não tem muita ideia do que aconteceu com a garota. Ao mesmo tempo, acaba se utilizando dos distúrbios para a execução do projeto de teatro, porque ela incorpora bem os personagens. É um filme sobre o método Stanislavsky aplicado a alguém com transtornos psiquiátricos. Mas o crítico analisa que o filme não foi uma boa experiência. Ele tem uma trilha sonora dissonante, é muito centrado em planos muito fechados, usa muito desfoque. Tem uma fotografia perfeita, e a atriz principal (Helena Howard) está muito bem no filme, e a que faz a professora (Molly Parker) está muito bem. Mas, apesar dessa combinação técnica boa, isso acaba resultando em uma experiência muito ingrata. É bem difícil de se engajar e de chegar ao final, mesmo com uma combinação de bons fatores, trilha e montagem, que resultam em uma experiência ingrata para o público. Segundo o crítico, existe um problema de roteiro e de direção que complicam muito o resultado da experiência. Até agora, é o filme mais fraco do festival.

 

Assassination Nation

Estados Unidos, 2017, 110 min. Ficção. Direção: Sam Levinson

Considerado o filme mais controverso e que mais causa barulho no festival, e que vai se tornar um clássico instantâneo e alcançar o cinema muito rápido, é Assassination Nation. Maurício começa se lembrando de Gosssip Girl, onde tinha o rapaz que fazia as fofocas nos torpedos. A lógica deste filme é a seguinte: um hacker começa a divulgar os dados pessoais dos celulares de várias pessoas da cidade de Salem, começando pelo prefeito e pelo diretor da High School. Depois ele começa a divulgar de algumas meninas famosas no instagram, até que ele começa a divulgar os dados de todas as pessoas da cidade, que enlouquece e acaba caindo em uma espiral de assassinatos e vingança. A premissa do filme pode não ser muito absurda, mas é de fato exagerada, segundo o crítico. Ela leva ao extremo muitas coisas que acontecem no mundo de hoje. O vazamento de histórico de que sites as pessoas visitam, vazamentos de fotos de nudes e o efeito que isso tem nas pessoas, que emerge um moralismo gigantesco. Esse moralismo se reflete em agressividade baseada em sexismo, machismo, preconceito de gênero e várias outras coisas. O ponto interessante no filme é que, na primeira leva, começam a ser divulgados os segredos dos homossexuais e das meninas que são famosas no instagram, e que começam a ser perseguidos. Mas quando o hacker começa a divulgar as informações de todo mundo, a raiva se torna tanta que as pessoas querem pegar quem está hackeando, e ao mesmo tempo seguir na culpabilização das mulheres e adolescentes por serem sexualmente livres. Que diabos é esse filme? É um filme sobre machismo, sexismo, e sobre como lidar com o comportamento de liberação feminina. Maurício prevê que o filme será boicotado por muita gente do público conservador, vai ser chamado de “feminazi”, e vão dizer que é um culto a tudo que tem de pervertido na sociedade. Na prática, ele é uma crítica pesadíssima à sociedade das redes sociais e à hipocrisia. É uma fábula de redenção e de vingança das pessoas que são vitimizadas, e é uma crítica política pesada que faz muito sentido no contexto dos Estados Unidos, e também no Brasil. O filme tem a Bella Thorne e várias atrizes famosas, e personagens diversos: um transgênero, o diretor negro, o prefeito homossexual, o jogador de futebol que não é tão tosco quanto parece. O filme perverte os estereótipos e faz uma narrativa poderosa.

Maurício ainda conta que é um filme tecnicamente lindo e maravilhoso. Na fotografia, direção de arte, atuações e a maneira como ele homenageia os filmes adolescentes e as comédias românticas, mas na verdade ele é um filme de terror que descamba para o gore. No meio do filme tem um plano sequência filmado de um jeito impressionante, em que a câmera vai se movimentando e acompanhando vários personagens, sem corte ou com corte bem escondido, de forma sensacional. As sequências de ação são absurdas. Alguns poderiam dizer que tem conveniências de roteiro, mas na verdade não: mesmo o que causa um ponto de virada para a sequência final não é algo absurdo nos Estados Unidos, e na verdade acontece na cultura americana. É um dos melhores filmes do festival.

 

Participam da cobertura do Festival de Sundance 2018 os seguintes sites e canais: Razão:de:Aspecto, Cinem(ação), Cine Drive Out, Artecines,  O Sete e Correio Braziliense.

 

Confira a cobertura do #ConexãoSundance:

Cobertura do Festival em 2017

Festival de Sundance 2018 – Dia 1

Festival de Sundance 2018 – Dia 2

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