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A distopia cruel e real de Guerra Civil

Ao nos depararmos com a sinopse de filmes que se passam no futuro é comum vermos frases como “em um futuro distópico”… e automaticamente já imaginarmos um futuro pós-apocalíptico, um planeta Terra destruído com catástrofes naturais, vírus zumbis, ataques alienígenas ou coisa do gênero, sempre colocando tudo no mesmo pote. Mas esses são conceitos com grandes diferenças.

A distopia não significa um estado de destruição total, física e palpável, mas sim uma experiência social onde determinado povo vive sob um regime autoritarista, de extrema opressão, violência e privação de muitos direitos e liberdades civis, um exemplo dessa temática na cultura pop seria os quadrinhos e adaptação cinematográfica V de Vingança.

O filme Guerra Civil, dirigido por Alex Garland, que estreou nos cinemas brasileiros em 18 de abril de 2024, mostra um futuro distópico, extremamente cruel (por ser facilmente possível de acontecer) nos Estados Unidos, e assustadoramente faz o espectador mais sensível – e pessimista – imaginar acontecendo aqui no Brasil.

*ATENÇÃO: a partir de agora, o texto traz SPOILERS:

A trama do filme durante sua narrativa vai nos construindo um pouco o panorama político-social desses Estados (não tão) Unidos da América, nunca extremamente expositivo, vamos conseguindo fragmentos de informação e juntando tudo em nossa mente.

Em algum ponto futuro o presidente atual (que não tem um nome sendo chamado apenas de “o presidente”), interpretado por Nick Offerman, deu um golpe político estendendo sua estadia no comando do governo americano para um terceiro e inconstitucional mandato. Isso acaba criando uma quebra no na união dos estados, que já são separados por leis estaduais e organizações, de uma forma diferente ao que ocorre aqui em nosso país tropical, levando assim a uma Guerra Civil.

Hoje, no nosso mundinho real, em muitos países temos visto a polarização exacerbada da população, que acaba por procurar políticos duros como salvadores da pátria, seguindo-os para onde forem sem pensar por si próprios, dando um poder assustador a eles sempre com a desculpa do patriotismo ou do bem maior.

Durante o filme sabemos pouco da divisão dos estados americanos, apenas no começo vemos uma imagem na televisão que a fotógrafa de guerra, Lee, interpretada por Kirsten Dunst, está assistindo, e também mais ao final do filme acompanhamos o grande grupo contra o governo golpista, sendo a mais interessante a união de dois estados, que tradicionalmente estão em lados políticos totalmente opostos, a Califórnia e o Texas, que se uniram formando as Forças Ocidentais, mostrando que apesar das diferenças políticas, existe algo maior que o pensamento deles, a constituição americana e o governo da terra da liberdade que o povo americano tanto se orgulha, e apresentando uma nova bandeira com apenas duas estrelas, representando os dois Estados.

O diretor deu uma entrevista ao site americana The Hollywood Reporter falando sobre o tema, vale a pena ler e entender um pouco mais aqui.

Em outro momento ouvimos que a Flórida também se separou, tentando também fracassadamente levar os estados da Carolina do Norte e Carolina do Sul consigo, fato esse que leva a uma das melhores e mais tensas séries do cinema moderno, quando o personagem do sempre excelente Jesse Plemons, caracterizado como o grande estereótipo do americano, fortemente armado, preconceituoso e sem limites pergunta para o jornalista Joel, interpretado por Wagner Moura, que ao dizer: “somos todos americanos” recebe como resposta: de qual américa? América latina, América do Sul, e respondendo que é da Flórida, ouvimos que o cruel personagem já chama o local de América Central. A escolha também é interessante uma vez que a Flórida é um dos estados com maior população brasileira dentro dos Estados Unidos.

Por fim, Guerra Civil nos apresenta um mundo muito próximo que nos faz refletir e querer saber ainda mais de como a sociedade chegou no ponto em que somos jogados no filme, com um final sínico e realista, que me remeteu a uma das cenas finais da série Narcos, também protagonizada por Moura, em uma foto ao final de uma sangrenta caçada.

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