Festival de Sundance 2018 – Dia 9 #ConexãoSundance
Festival de Sundance 2018 – Dia 9: O novo filme de Aly Muritiba, Ferrugem, é um dos melhores filmes conferidos pelo crítico Maurício Costa neste 9º dia do Festival de Sundance! Os outros são o israelense Foxtrot, que por pouco não chegou ao Oscar, e o francês Revenge.
Festival de Sundance 2018 – Dia 9:
Ferrugem (Rust)
Brasil, 2017, 100 min. Ficção. Direção: Aly Muritiba
Do mesmo diretor de Para Minha Amada Morta, o filme surpreende, deixando o crítico embasbacado. Ele fala da nossa vida na era das redes sociais, em que dois adolescentes viajam em uma excursão da escola, e na brincadeira acaba vazando um vídeo íntimo da protagonsita, a Tatiane. Depois disso, eles vão ter que lidar com as consequências do vazamento do vídeo, tanto para ela quanto para o Renet, com quem ela estava se envolvendo (mas que não está no vídeo). Aly Muritiba consegue tratar o tema com muita seriedade e sensibilidade. É de forma bruta, mas de forma muito realista. Ele divide o filme em duas partes: na primeira se discute basicamente as consequências do que aconteceu para a menina, e na segunda ele mostra as consequências do que aconteceu para o Renet. E com isso a gente consegue desenvolver uma boa empatia por ambos os personagens, e entender como essas questões do mundo virtual acabam podendo destruir a vida das pessoas, assassinando reputações. Nos dias de hoje, se uma menina manda um nude para o namorado, ele espalha para um grupo, ela se torna a “piranha e vagabunda” da história, começa a ser perseguida e sofrer perseguição misógina, machista, conservadora e hipócrita: de pessoas que fazem as mesmas coisas.
Por outro lado, o filme trata da forma irresponsável com que os adolescentes lidam com essas coisas, e a falta de preparo dos pais para lidar com esse tipo de situação. Os pais mais jovens não cresceram nessa era, então isso gera uma série de obstáculos para criá-los com mais responsabilidade. Para o diretor, o título “Ferrugem” é uma metáfora dupla: por um lado, é a corrosão interna do que acontece com a Tati, e depois o endurecimento e envelhecimento que acontece depois na vida do Renet. Ele tem um tema universal e uma linguagem visual e tratamento universal, sem aquela “cara” de filme brasileiro. Essa história poderia acontecer em qualquer escola dos Estados Unidos ou qualquer outro lugar com internet. É um drama pesado que pode ser de qualquer um de nós.
O filme dialoga com o “Depois de Lúcia”, por exemplo, e o próprio “Assassination Nation”, que está agora em Sundance. Maurício reflete que os filmes brasileiros foram os dois melhores vistos na mostra de filmes estrangeiros em competição, ao contrário do ano passado.
Foxtrot
Israel, 2017, 113 min. Ficção. Direção: Samuel Maoz
O segundo filme foi Foxtrot, que entrou na pré-lista de indicados à categoria de Filme Estrangeiro no Oscar, mas não passou para a lista de indicados. Ele trata de um jovem soldado israelense que cuida de um ponto de passagem de suprimentos no meio do deserto, sem muito significado. O nome do ponto é Foxtrot, que tem relação com a dança. Acontece uma confusão e uma notícia equivocada para a família dele de que ele tinha morrido, e isso leva a uma série de eventos que levam ao grande problema do filme. O filme tem um tom muito seco, e as sequências na casa da família dele são sempre muito mais sombrias e escuras, e as que se passam no posto de controle são muito mais bem humoradas, com situações absurdas. Desde o comportamento dos soldados e as conversas que eles têm, ou as pessoas que eles precisam avaliar se passam pelo ponto ou não, e que está ironizando a guerra com a Palestina, e o nível do absurdo que o conflito pode chegar. Apesar de o final ficar previsível, ele surpreende não com o que acontece, mas com o como acontece.
Revenge
França, 2017, 108 min. Ficção. Direção: Coralie Fargeat
O filme da sessão da meia noite foi Revenge, um torture porn francês, desse novo movimento de filmes de terror francês modernos. Esse fime deixou o crítico com sentimentos dúbios. É basicamente um filme no estilo “I Spit on your Grave” de vingança. É uma premissa simples, mas nesse tipo de filme o que importa é a execução. Na execução vem os sentimentos dúbios: o longa se passa no deserto em uma mansão, onde um grupo de homens se reuniu para uma caçada e um deles leva sua amante. Tem uma fotografia muito bonita, o filme é lindo e explora a amplidão do deserto e os planos abertos, e como aquela mansão se destaca no meio do deserto e o luxo que tem por ali. Quando entra no assunto que o faz um filme de terror, ele começa a se complicar um pouco: a plateia riu na maior parte do tempo, e em alguns momentos pode ter sido um grau de humor involuntário. Tem muito gore e cenas horrorosas com dedo na ferida, sangue para todo lado. Mas a coisa passa do limite da suspensão de descrença: a própria sobrevivência da mulher que é agredida diz respeito a sobreviver às leis da física e à resistência biológica do ser humano. Depois do que ela passou ali, era impossível ela ter sobrevivido, e se tivesse, ela não recuperaria forças para se vingar. São situações que podem ser bem humoradas, mas prejudicam um pouco. Em um certo momento, você vê que a protagonista é o Rambo. O filme pecou um pouco nesse ponto. Por outro lado, não é um filme ruim: só não dá pra esperar que ele seja o melhor gore e a melhor vingança feminina da história. Ele fica melhor para quem não leva a sério.
Participam da cobertura do Festival de Sundance 2018 os seguintes sites e canais: Razão:de:Aspecto, Cinem(ação), Cine Drive Out, Artecines, O Sete e Correio Braziliense.
Confira a cobertura do #ConexãoSundance:
Festival de Sundance 2018 – Dia 1
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