PRATO NACIONAL: O DRAGÃO, O COELHO E O UNICÓRNIO - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Cinema Nacional

PRATO NACIONAL: O DRAGÃO, O COELHO E O UNICÓRNIO

Hoje será um típico jantar romântico, mas não pelo clima amoroso e muito menos pela companhia. Será um jantar romântico porque teremos inesquecíveis FOTOGRAFIAS!!

Em um restaurante, uma fotografia costuma registrar a paixão do momento e os pratos de hoje tem isso de sobra! Completamente diferenciados! Únicos! Continua a se destacar, mesmo hoje em dia nos deparando com tanta imagem por aí. A fotografia não vive só de publicidade e redes sociais, também vive de cinema! E a cozinha nunca havia preparado pratos com tanta alma. Com tanto sabor.

Sente-se e aguarde. Cada prato será de lamber os beiços. O Chef promete!

Caso procure por algo diferente, eis o nosso MENU com a temática dos pratos anteriores:

Sabor do Horror

Gostinho de Aprisionamento

Tempero Paulistano

Corte Criminal

Preferência dos Pais

Delícias do Brasil

Fome de Futebol

ENTRADA

Esta entrada é um clássico em todo restaurante que se preze. Um prato que não perde o gosto, não perde o tom. E se é histórico e tradicional em uma boa mesa, não pode ser atoa. Então mesmo que você não vá com a cara de carne de Dragão como entrada, deixe o paladar falar por si.

NA BEIRA DO FOGÃO TEMOS:

    Glauber Rocha, o homem que revolucionou o cinema brasileiro.

INGREDIENTES:

Estamos falando de temperos como:

Baiano nascido em Vitória da Conquista.

É o mais velho de 4 irmão, alfabetizado pela própria mãe.

Perdeu uma irmã para leucemia, outra para um fosso de elevador. Ganhou uma meia irmã e confidente para toda a vida, gerada de um caso do seu pai com uma cigana fora do casamento.

Foi do momento estudantil e desde jovem participou em grupos de teatro, programas de rádio e cinema amador.

Começou estudando Direito, trocou pelo Jornalismo, mas sempre manteve vivo o amor pelo Cinema.

Respeitava a mensagem, a posição e o plot, mas fazia isso através de um cinema estético.

Sofreu perseguição política e chegou a se exilar.

Morreu de pneumonia em Portugal, mas não antes de ganhar o mundo com a sua diferente arte e inovar todo o cenário nacional.

MODO DE PREPARO:

Para fazer o dragão certinho, bata cordel e ópera por alguns minutos.

Adicione na música, alguns ritos folclóricos.

Em uma travessa, lambuze de uma narrativa metalinguística.

Vai começar a ter um odor de aventura com uma cara de western.

Essa massa é conhecida como a 34ª melhor de todo o cenário fílmico pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema.

Com isso, promova uma espécie de ritual antropofágico nordestino no interior de um forno largo.

Adicione uma famosa cobertura usada em outras massas do Glauber, chamada Antônio das Mortes.

Deixe esfriar e sirva de forma vibrante e alegórica através de um bom ângulo.

POR QUE VALE PROVAR??

Primeiro porque estamos falando de um diretor que destoa de tudo tanto daqui como de terras estrangeiras.

Glauber Rocha modificou muita coisa, mas principalmente ele deu força para nosso cinema e instigou muitos outros profissionais.

É difícil listar tantos diretores ao redor do mundo que beberam e ainda bebem de suas obras.

O cara é o ÚNICO brasileiro que VENCEU como Melhor Diretor em Cannes 1969, exatamente por este filme.

Este longa também foi indicado como Melhor Filme no Festival.

Mesmo diretor que fez filmes como Deus e o Diabo na Terra do Sol, e Terra em Transe.

Possui um elenco lindo, contando com Othon Bastos, Odete Lara, Joffre Soares, Rosa Maria Penna, Lorival Pariz e a melhor atuação da vida de Maurício do Valle.

Porque foi trilhado da melhor forma possível com Marlos Nobre e o sem igual Sérgio Ricardo.

E claro, é um puta faroeste.

SABORES:

Psicodélico. Marcante. Autoral. Uma obra de arte que deve ser apreciada por todos.

PRATO PRINCIPAL

Um prato grande e bem recheado. Coelho como você nunca provou antes. Muito bem feito, bem colorido e quebra bem as expectativas. Lançou para o mundo o dono da receita. Algo a ser provado!

NA BEIRA DO FOGÃO TEMOS:

    Afonso Poyart, um desbravador autoral.

INGREDIENTES:

A maioria forte, como:

Paulista de Santos.

Iniciou a sua carreira como artista de Motion Graphics.

Trabalhou com pós-produção na área da publicidade.

Dirigiu videoclipes do Charlie Bronw Jr, Felipe Dylon e Marjorie Estiano, chegando a concorrer o VMB.

Eu Te Darei o Céu, o seu primeiro curta-metragem, ganhou quatro prêmios no Festival de Gramados.

Dirigiu Mais Forte que o Mundo, a cinebiografia do lutador de MMA José Aldo.

É um dos diretores da série Global, Ilha de Ferro.

E graças a 2 Coelhos, foi para Hollywood trabalhar no longa Solace, dirigindo grandes nomes como Colin Farrell, Jeffrey Dean Morgan e Anthony Hopkins.

MODO DE PREPARO:

Pegue não apenas um, mas dois coelhos.

Salgue com muita cultura pop e nerdisses.

Aqueça em uma temperatura que o humor se torne ácido.

Quando crocante, se tornará algo bem divertido.

Evoque diálogos Tarantinescos, cortes e cenas ala Guy Ritchie e dois dedinhos de gráficos alucinantes e espalhafatosos com umas assinatura que lembra o velho Snyder.

Irá transbordar bons personagens em um elenco fortíssimo e carismático.

Sirva em uma boa lente, tudo isso sem dó nem piedade.

POR QUE VALE PROVAR??

Ganhou a Melhor Montagem no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

Tem uma puta linguagem moderna, trazendo um respiro para o nosso território fílmico.

Um roteiro bem europeu sem deixar as raízes paulistanas.

Faz clichês funcionarem.

Tem um final bem interessante.

Muda várias vezes de tom sem perder o ritmo.

Violência e situações satisfatórias.

Alessandra Negrini e Fernando Alves Pinto fazem um puta casalsão da porra.

SABORES:

Inovador. Estético. Próprio. A fotografia aqui fica por conta da coragem.

SOBREMESA

Espere a comida assentar no estômago, respire fundo, chupe uma mexerica ou tome um café. Não tenha pressa para começar a saborear esta sobremesa. Aliás, não é sempre que provamos Unicórnio. Saboreie com toda a calma do mundo. Vai valer a pena.

NA BEIRA DO FOGÃO TEMOS:

   Eduardo Nunes, prima por imagens inesquecíveis.

INGREDIENTES:

Carioca de Niterói.

Diretor, roteirista, montador e editor de som formado pela Universidade Federal Fluminense.

Foi um dos roteiristas de Árido Movie.

E também um dos diretores do 5x Chico – O Velho e Sua Gente.

Foi reconhecido em sua estreia, por sua grande direção em Sudoeste.

Filme no qual dedicou 10 anos de sua vida.

Já conquistou 18 prêmios nacionais e exibição no Festival de La Havana, Festival Internacional de Chicago e competiu no Festival de Roterdã.

MODO DE PREPARO:

Pegue gerações diferentes e misture bem. Comece pela velha guarda com Patrícia Pillar e Zé Carlos Machado, adicione o ator onipresente em boas obras, Lee Taylor e a estreante Bárbara Luz.

Para o unicórnio ficar cremoso e com gosto de romã, adicione interessantes questionamentos, uma curiosa animação e muitas ausências.

Leve a geladeira que aqui chamarei de “câmera” de temperatura.

Deixe ganhar densidade ao discutir ciúmes, sexualidade, infância, saudade e solidão.

Adapte em um refratário feito pela Hilda Hilst.

Sirva com a maior fotografia da história brasileira. Não uma grande, ou uma boa, eu disse a maior!

POR QUE VALE PROVAR??

Bom, o longa competiu no Festival do Rio e Berlim.

É uma puta adaptação.

De uma leitura muito particular.

É de encher os olhos e ficar na memória.

Filosófico e até metafísico.

Você se transporta para um lugar muito belo e solitário.

Uma fábula atemporal que engole o público.

Relaxante e misterioso. Provoca a sua mente com enigmas.

E claro, Patrícia Pillar sempre muito magnética.

SABORES:

Poético. Intrigante. Visual. Nunca consumi algo tão lindo por aqui, é de uma estética maravilhosa. Fantasia não verbalizada.

Estou aqui para derrubar o preconceito usando armas verdes e amarelas. Logo, os filmes aqui não terão uma crítica minha e sim a receita! Expondo pontos do tempero, modo de preparo e porque vale a pena provar. E assim como a nossa culinária, cultura e costumes, se encontra um pouquinho de cada parte do planeta em uma mistura cheia de ginga, criatividade e esforço, basicamente o DNA do nosso povo.

A crítica fica por conta de vocês! Convido cada um dos leitores deste artigo para que assista a lista (e se já provou o sabor), venha aqui expor a sua opinião nos comentários!

DELICIE-SE!!!!

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