Prato Nacional: Cheiro do Burrinho Neon - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Cinema Nacional

Prato Nacional: Cheiro do Burrinho Neon

Hoje temos enfim, o segundo episódio da série que levarei por todo o ano, trazendo MOTIVOS para você consumir mais Cinema Nacional, mas apelo para um formato diferente. Mas por que pratos? Bom, se nossos filmes tivessem a oportunidade que damos para experimentar coisas novas na culinária, certamente seria muito mais explorada, fora que talvez se eu montar direitinho o prato aqui, abra o seu apetite!

Estes MOTIVOS irão te fazer provar dessa nossa gastronomia e também servirá de munição para alvejar os seus coleguinhas e familiares que metem o pau na nossa película, jurando de pé junto que aqui só existe porcaria. Quero provar que nossos sabores vão além do arroz e feijão da Globochanchada. Temos temperos mais fortes que ‘’Candidato Honesto’’ e modos de preparo que vão além de ‘’É Fada!”.

Trarei pratos dos quais você deveria experimentar os seus sabores. Para quem não sabe, estes sabores muitas vezes são tão elaborados quanto dos argentinos, tão profundo quanto dos italianos, tão assustadores quanto dos japoneses, por vezes, melancólicos quanto dos franceses, ganham prêmios e mais prêmios por aí, mesmo sem ter os ingredientes absurdamente caros dos norte-americanos.

Só teremos filmaços neste menu que preparei. E relembrando a estrutura será a seguinte: A entrada será sempre um true classic, daqueles nomes que fizeram o nosso Cinema repercutir e ganhar força. Depois vamos com o prato principal, sempre algo extremamente gostoso e muitas vezes desconhecido pela massa. E aí encerramos com estas putas sobremesas que tem saído nestes últimos anos, que lutam para conseguir público em meio a tantos blockbusters do Tio Sam.

Hoje o restaurante está temático para você! Hoje o sabor escolhido pela casa está APRISIONADO em cada prato.

Vou repetir todo este texto acima nas primeiras três edições, para todos gravarem e ficarem familiarizados!

Para conferir o primeiro PRATO NACIONAL, clique Aqui.

PENTRADA

Nosso prato de entrada, tem o típico sabor católico, mas com pitadas da comida africana. Tem que ter bom estômago, mas vale muito a pena!

NA BEIRA DO FOGÃO TEMOS:

    Anselmo Duarte, aquele que colocou Cannes aos seus pés.

INGREDIENTES:

Estamos falando de temperos como:

Começar a sua trajetória no Cinema sendo figurante de um filme de ninguém mais e ninguém menos que Orson Welles.

Se tornar um dos maiores galãs deste país na década de 40, e graças a isso, chegar a ser conhecido por ter o maior salário dentro da Vera Cruz.

De 1942 a 1957, evoluiu absurdamente. De figurante a ator coadjuvante, protagonista, galã, roteirista e enfim, diretor. Mas tomou as estrelas em 1962, foi o primeiro (e último) filme brasileiro (100% nacional) a conquistar a Palma de Ouro em Cannes e ser o primeiro longa tupiniquim a concorrer um Oscar.

MODO DE PREPARO:

Devo admitir que é dificílimo conseguir alcançar o ponto certo deste drama. É de uma força e simplicidade que impacta o público pra sempre.

Temos um grande personagem anônimo por todo o filme, que faz a história ganhar vida e o enredo fluir a cada decisão mesmo nunca aparecendo.

Para esquentar e pegar consistência, leve ao forno em uma forma grande, para que caiba ego, má índole, classes sociais e claro, muita religião.

Sirva da forma certa, como a cena final pede e o Zé do Burro merece. De preferência em uma refratário em formato de cruz.

Consuma com cuidado, é um prato pesado e muito saboroso, vai querer te obrigar a repetir.

POR QUE VALE PROVAR??

Tem cheirinho da ética verde e amarela tudo a ver com a temática deste episódio, pois o personagem está APRISIONADO a uma PROMESSA que salvou a vida de um amigo.

Explora o sabor da Religião em formas distintas, da doçura acolhedora até o amargo preconceito.

Se trata de um dos maiores sucessos que o nosso país já concebeu. Não é atoa que é lembrado por todo mundo lá fora, e deveria ser ao menos apresentado para todos aqui dentro.

Porque fomos a pé até Cannes, levando este filme nas costas e fomos muito bem recebidos, pagando a promessa e levando de volta pra casa uma Palma de Ouro.

E claro, porque o burrinho Nicolau nos apresentou para o Oscar s2

SABORES:

Conflitante. Devoto. Doloroso. Tem uma boa mensagem para passar

PRATO PRINCIPAL

O prato principal de hoje ultrapassa fronteiras culinárias. Não fica preso a sabores como estamos acostumados e nem se apega ao foco oriental das texturas. O prato principal de hoje, trabalha odores. Prepare-se para experimentar algo completamente novo.

NA BEIRA DO FOGÃO TEMOS:

    Heitor Dhalia, o cirurgião de câmera na mão.

INGREDIENTES:

A maioria forte, como:

Pernambucano sonhador, que cruzou o país para seguir os seus sonhos e hoje cruza o mundo.

De redator publicitário a diretor internacional, passando por assistente, ator e roteiro.

Começou em um dos longas mais poéticos e experimentais que o Brasil já criou e fez uma repercussão positiva. Um Copo de Cólera ao lado de Aluízio Abranches.

Roteirizou esta obra em cima de uma das obras mais incríveis de Lourenço Mutarelli.

Dirigiu grande nomes gringos como Emily Wickersham, Jennifer Carpenter, Sebastian Stan e Amanda Seyfried, em um suspense de sua autoria.

MODO DE PREPARO:

Um prato muito especial e perigoso, mas escolhido a dedo. Se errar a mão, o humor negro poderia queima-lo para sempre no mercado.

Uma receita barata, que entrou para história gastando um pouco mais de R$300 mil.

E mesmo sendo tão barato, contou conta com um dos ingredientes mais caros da época, o incrível Selton Mello.

Tempere com perversão e metáforas fortes.

Adicione autoconhecimento e leve ao forno com um grande elenco.

Melancolia irá começar a dourar quando o realismo assar.

Você saberá quando estiver pronto, pelo cheiro…

POR QUE VALE PROVAR??

Também tem tudo a ver com a temática deste episódio, pois o protagonista está APRISIONADO a sua DOENÇA. A sua loucura.

Ganhou dezenas de prêmios importantes, inclusive uma menção honrosa em Sundance e Punta Del Leste.

Porque Lourenço é um personagem e s p e t a c u l a r.

A busca em preencher o seu vazio interior passa por tantos níveis diferentes, que acaba desenvolvendo diversos tons e sabores.

Porque é um retrato do desespero humano. Um reflexo triste e frio da solidão.

Porque é repulsivamente magnético.

E claro, temos o amor sincero e proibido entre um homem e uma bunda s2

SABORES:

Barato. Doentio. Perverso. Um extravagante e abstrato soco no estomago.

SOBREMESA

Agora algo doce para fecharmos a conta. Doce como sonhos, bem coloridos, misturando neon e glacê. Algo para provar e nunca mais esquecer.

NA BEIRA DO FOGÃO TEMOS:

   Gabriel Mascaro, e o dom de gerar profundidade sem movimentar as suas lentes.

INGREDIENTES:

Um jovem diretor pernambucano que ganhou o mundo muito cedo.

Diversos documentários no currículo.

Dois troféis ibero-americanos e prêmios em Cartagena, Adelaide, Marrocos, Varsóvia e menção honrosa em Toronto.

Convidado de honra em Oslo, na Noruega.

Fez parte da lista do New York Times que escolheu os 10 melhores filmes daquele ano, sendo citado pelo crítico Stephen Holden.

Abominação por relações explícitas sobre elipses.

MODO DE PREPARO:

Hora de montar!

Bata bem um protagonista ímpar com vaquejadas e adicione sonhos que surpreendam o público.

Pegue novos traços e dê profundidade para o Cinema brasileiro.

Crie uma cena onírica e completamente fora da curva, recheando o filme.

Na cobertura, derrame cenas esdrúxulas, de sexo e situações 100% BR’s.

Deixe a câmera completamente estática e a use como diferencial.

Quando estiver pronto, dê apenas uma fatia daquela história, para o telespectador consuma apenas o necessário da vida de Iremar.

POR QUE VALE PROVAR??

Cheio de símbolos, metalinguagens e um mise en scene de cair o queixo.

Contém cenas pesadas, tristes e reais.

Temos um personagem imenso para mergulharmos.

Porque em décadas, não tínhamos um produto com a nossa cara.

Temos um puta personagem APRISIONADO a um doloroso DESTINO.

Também lembra um pouquinho Bye Bye Brazil.

Porque é um show, uma aula, uma ato de coragem.

SABORES:

Inverso. Estiloso. Rústico. Uma fogosa cavalgada nas áridas terras do experimental.

Estou aqui para derrubar o preconceito usando armas verdes e amarelas. Logo, os filmes aqui não terão uma crítica minha e sim a receita! Expondo pontos do tempero, modo de preparo e por que vale a pena provar. E assim como a nossa culinária, cultura e costumes, se encontra um pouquinho de cada parte do planeta em uma mistura cheia de ginga, criatividade e esforço, basicamente o DNA do nosso povo.

A crítica fica por conta de vocês! Convido cada um dos leitores deste artigo para que assista a lista (e se já tenha assistido), venha aqui expor a sua opinião nos comentários!

DELICIE-SE!!!!

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