CRÍTICA: O MECANISMO - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
4 Claquetes

CRÍTICA: O MECANISMO

O Mecanismo de toda a sujeira que afetou os brasileiros nos últimos anos está aqui.

Ficha técnica:

Direção: José Padilha (piloto), Felipe Prado (2 episódios), Marco Prado (3 episódios) e Daniel Rezende (2 episódios)
Roteiro: Elena Soárez
Elenco: Selton Mello, Caroline Abras, Enrique Díaz, Lee Taylor, Jonathan Haagensen e Otto Jr.
Nacionalidade e lançamento: Brasil, 23 de março de 2018 (mundial)

Sinopse: O obcecado delegado da Polícia Federal Marco Ruffo (Selton Mello) investiga com afinco uma pessoa no qual ele tem certeza que está ligado à algo maior. Eis que ele e sua parceira Verena Cardoni (Carol Abras) descobrem a maior lavagem de dinheiro da história do Brasil.

Primeiramente antes de qualquer dado mais técnico ou realmente destrincharmos o Roteiro e avaliarmos qualquer atuação ou o setor de Direção, temos que parabenizar – para alguns aceitar – a coragem deste homem chamado José Padilha. Quando mexeu com a corrupção de dentro da Polícia – em Tropa de Elite Tropa de Elite 2 – foi ameaçado e teve que sair do país. Depois de fazer RoboCop – que sempre abordou assuntos interessantes – tivemos Padilha na frente da série Narcos onde mexeu na história não só do tráfico de drogas mundial como focou também na política Colombiana. Agora ele – um dos Criadores da série juntamente a Roteirista Elena Soárez – vem mostrar tudo que se passou de baixo dos nossos narizes em meio a esta batalha colossal que tem sido a Lava Jato contra os nossos sujos Governantes, pois esta Operação tem como alvo entender e parar a lavagem de dinheiro de Empreiteiras associadas a Políticos interessados, sendo eles de Esquerda ou de Direita. Muitos veem na Série, um ponto de vista que cai matando sobre o Governo PT, e logo, associam a um ponto de vista de Direita, pois erram em associar desta forma, uma vez que o ponto de vista é da Polícia Federal, completamente neutra politicamente prezando pelo ponto de vista da Lei e apontando imundice em ambos os lados. Palmas a José Padilha, um grande homem e de uma coragem maior ainda.

Temos aqui um Roteiro complicado de se escrever, uma vez que são muitos nomes envolvido, artifícios usados por ambos os lados e falamos aqui sobre uma Investigação que ainda não chegou ao seu fim. A Lava Jato ainda está em processo, na caça, mesmo tendo cada vez mais dificuldades em levar os envolvidos a cadeia e mais ainda em mantê-los lá. Elena Soárez Roteirista de séries como Treze Dias Longe do Sol e o inesquecível Cidade dos Homens, traz uma pesquisa muito bem feita e de um empenho descomunal. Tem alguns deslizes talvez na parte didática demais?? Para alguns. Para outros serve bem na proposta, fora que temos que entender que é uma série para um público Mundial – via Netflix – e não só para o nosso território. Foi um Roteiro para todos entenderem o que se passa por aqui.

Com cenas marcantes, como os envolvidos na lavagem de dinheiro comemorando a ida do julgamento ao STF – Supremo Tribunal Federal – ou a chegada do JPR no presídio de Jaraguara, onde sentimos a tensão do que aquilo poderia acabar acarretando tanto para o próprio como para os demais fora dali. Com diálogos bem arquitetados, alfinetando todos os lados da Política Tupiniquim, sempre ácidos e de bom ”bate e volta”. Frases vultosos como o proferido por Ruffo: ”Fez merda é?? Vem comigo desfazer” ou o impactante da boca de Verena: ”Respeita a Polícia, Porra!!” que tem muito a cara e a malícia das obras de Padilha – inclusive no artifício muito usado como sua assinatura, a Voz Off. Temos aqui também resgate das clássicas, como a Presidenta Janete dizendo a pérola – real – sobre a necessidade de ter que se ”estocar o ar”.

Grandes personagens povoam toda a temporada, todos inspirados em pessoas reais, desde nosso protagonista que seria o Gerson Machado até o Ex-Presidente Lula, passando por Moro, Aécio e Odebrecht, todos com suas participações importantíssimas nas mãos de grandes atores. Selton Mello – dos recentes O Filme da Minha Vida Soundtrack – como Marco Ruffo foi algo que de cara não me agradou muito, não que eu esperasse mais uma vez a dupla Padilha e Wagner Moura, mas eu não estava entendendo o seu personagem. Quando ele começa a fazer sentido – pra mim – eu achei que a abordagem que Selton procurava desde o piloto me ganha e começo a aceita-lo sem tanta agressão. Ruffo tem um protagonismo encardido que me agrada demais, me lembra de leve alguns Polícias em True Detectiveem posição, gana e distúrbios.

Em meio a tantos nomes famosos como o de Otto Jr e Arthur Kohl, temos a grande surpresa que foi Caroline Abras como a Delegada Verena. Em um cenário completamente machista e escroto, temos esta forte personagem feminina liderando uma equipe em uma jornada histórica – parabéns também a Erika Marena na vida real por tal feito – desbravando a porcaria que acontecia no Clube dos 13. Caroline Abras é limitada, não tem gigantesco carisma mas flutua bem quando precisa ser protagonista e carrega a série em alguns episódios. Dedicada, Abras acaba chamando atenção

nesta temporada após ter o seu valor em novelas e no incrível Longa; Gabriel e a Montanha.

Não podemos deixar de falar sobre o incrível antagonista, Roberto Ibrahim (Enrique Diaz), que além de ter uma química estupenda com Selton, Diaz ainda dá uma humanidade, uma safadeza para o Ibrahim de uma forma tão leve, sem perder temperatura de um vilão odiável, horroroso, no qual torcemos por mais e mais minutos em tela, para vermos no que vai dar. Enrique Diaz é o típico ator que transforma obras com o seu trabalho, talentosíssimo, sempre com os personagens completamente em suas mãos.

Nunca havia feito uma Crítica de Série até então, difícil analisar de uma só vez 4 Diretores. Temos Padilha apenas no Piloto, já dando o ritmo que ele quer para os demais episódios, fomentando a pegada alá Tropa de Elite, que Felipe Prado e Marco Prado se esforçam para manter nos 5 episódios seguintes. Temos o ar documental, a câmera na mão, os takes duros e a imagem sincera, o que é modificado pelos 2 últimos episódios – os melhores de toda a série na minha opinião. Temos aqui Daniel Rezende – Montador Oficial das Obras do Padilha, Indicador ao Oscar por Cidade de Deus e Diretor do Longa Estrangeiro cotado ao Oscar deste ano, Bingo: O Rei das Manhãs – carregando o Ato Final da Temporada. Sua Direção trata o apogeu da trama de uma forma mais sentimental e planejada. Usando misancene transformando a Série em algo bem mais profundo, com takes instigantes, divisões de personagens em tela, jogando com reflexos e distâncias, e até mesmo com esquerda e direita na tela. Rezende demonstra avanço em suas habilidades até mesmo com o seu egrégio plano-sequência, brincando com cores e nos trazendo mais fundura na trama sem adicionar palavras ao Roteiro.

Obviamente não estamos falando de um produto perfeito, tem os seus deslizes como um enredo apressado – compreensível, uma vez que em algumas passagens distanciaria fácil os mais afobados – diálogos oferecidos, palavras colocadas na boca de outros personagens, poucas atuações primorosas e com 3/4 da Temporada trabalhadas em uma fotografia OK. Falar que a série merece uma pontuação maior apenas pela ”coragem”, seria de um absurdo tão grande e de um fanatismo que beira o patético, algo do mesmo nível das pessoas que se sentiram ofendidas pelo Netflix produzir algo assim com o dinheiro de suas mensalidades e que chegaram a cancelar as suas contas. Se você suspendeu a sua, erguendo este argumento – que você tem todo o direito – realmente não entendeu como funciona O Mecanismo, ou quem sabe, até gostou de compactuar com o que o Brasil passou de 2013 para cá. Fora que ir contra a produção Fílmica no Cenário Nacional é um tiro no pé, já temos problemas demais neste território. Aceitem o que não lhes agrada assim como os demais devem aceitar o seu ponto de vista, pois tentar afundar esse tipo de Produção é tirar a raiz, meio que secar a fonte Cinematográfica, podendo não ter mais nada voltado à lugar algum.

 

4

Resumo

O Mecanismo não é impecável, mas tem sim um bom tom no que se propôs a dizer. Fora a coragem de José Padilha que teimo em levantar. Temos aqui uma série interessante, bem produzida, com bons nomes e que cutuca quem deve ser cutucado quando o assunto é: a Lava Jato. Esperar o contrário disso aqui, é acreditar em político.

Deixe seu comentário