Crítica: Os Nomes das Flores – 44ª Mostra de São Paulo
Os Nomes das Flores - 44ª Mostra de Cinema de São Paulo
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Crítica: Os Nomes das Flores – 44ª Mostra de São Paulo

“Os Nomes das Flores” é um belo comentário político contemplativo.

Ficha técnica:
Direção: Bahman Tavoosi
Roteiro:  Bahman Tavoosi
Nacionalidade e Lançamento: Canadá, EUA, Bolívia, Catar, 2020 (44ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: A Bolívia celebra o aniversário dos 50 anos da morte de Ernesto “Che” Guevara. Julia, uma professora do interior, é convidada a contar sua história: ela abrigou membros da guerrilha e serviu-lhes uma sopa de amendoim, enquanto Che recitava um poema sobre flores, poucas horas antes de morrer. O convite, porém, é retirado depois que outras mulheres aparecem reivindicando como sendo delas, e não de Julia, a história “da sopa e das flores”.

Elenco: Jorge Hidalgo, Barbara Flores, Jose Luis Garibaldi Duran.

Enquanto um dos personagens dirige o carro, o locutor da rádio fala sobre como a Bolívia não vai se curvar às chantagens do FMI. Considerando que a base de toda a narrativa de “Os Nomes das Flores” se baseia em uma homenagem a Che Guevara, já sabemos em que terreno político estamos.

No entanto, a coprodução entre países tão distintos possui comentários políticos mais profundos também no que não é dito. Bastante contemplativo, o filme conta com uma narradora que conta a história com ares de fábula, enquanto seus dizeres aparecem em forma de texto no quadro da escola – que, aliás, tem sons de crianças, mas nunca as vemos.

Acompanhamos a tentativa de uma professora participar da homenagem aos 50 anos de Che Guevara, mas logo se descobre que muitos relatam a mesma história que ela conta sobre ter dado sopa a ele pouco antes de sua execução – já que Guevara foi morto pelo exército boliviano na cidade de La Higuera.

Esquecida nas montanhas, a cidade é simples, mas aparentemente tranquila. A professora, já idosa, tem sua casa repleta de comida, como pães e legumes. É somente após a proibição de sua presença na escola que a cidade começa a se entristecer: incumbido de encontrar a mulher “verdadeira”, o policial chega a atacar uma pessoa com deficiência. O vizinho da professora fica triste.

“Os Nomes das Flores” explora também as questões econômicas relacionadas à figura de Che Guevara: a venda de água do local não seria muito diferente das camisetas com o rosto do guerrilheiro, que paradoxalmente o transformam em uma “marca capitalista”. Diversos elementos estão subjacentes, incluindo o quadro negro vazio e as flores sendo tombadas no momento da homenagem.

No fim das contas, “Os Nomes das Flores” fala sobre outro paradoxo: o do revisionismo histórico contra as lendas populares. Há quem busque recontar momentos para criar mentiras sobre supostos passados gloriosos, mas há também as histórias menos relevantes. Pode até ser que Guevara sequer tenha citado o poema que dizem ter citado, nem mesmo tomado a sopa, mas a busca pela verdade histórica está em outro lugar do debate, e não na intolerância a um povo sofrido que se orgulha de ter oferecido algum alento ao então prisioneiro.

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