Crítica: High Flying Bird (2019) – Original Netflix
High Flying Bird dirigido pelo desaposentado Steven Soderbergh (da série 11 Homens e um Segredo e do vencedor do Oscar Traffic) traz uma peculiaridade que ainda é incomum, mas cada vez mais tende a ser popular: o longa foi todo filmado em um iphone – algo que ele mesmo já tinha feito no filme Distúrbio.
Aqui temos uma história com um tema claro e vários subtemas bem pontuados, o roteiro é do também premiado no Oscar Tarell Alvin McCraney (que escreveu Moonlight). O foco é no agente de jogadores Ray Burke (André Holland) que está em meio a um impasse da indústria do basquete americano e os jogadores da liga. Algo que afeta a ele, que já está ficando sem grana, e a um dos clientes Erick Scott (Melvin Gregg). O empresário terá poucos dias para tentar achar uma solução e mudar a lógica local.
Além do intrincado mundo dos bastidores do esporte, High Flying Bird aborda temas como racismo, sonhos e mídias sociais. Ao tratar das paralisações dos jogos, para quem não entende muito das possibilidades de negociações, dentro e fora das quadras, o início pode ser um pouco nebuloso. Mas isso é resultado de uma bem-vinda não exposição, que para o público americano seria de fato desnecessária.
Uma quantidade grande de personagens com interesses e personalidades distintas pode também confundir, mas aí é só prestar atenção que ficamos bem… E tais histórias acessórias compõe o todo muito bem, dando mais vivacidade à trama. Destaque para o quase caricato personagem do Bill Duke e para a presença de Myra (Sonja Sohn).
Temos, ainda, depoimentos reais de jogadores novatos que falam das experiências deles e de como enxergam aquele universo. O uso do preto e branco nesses trechos ajuda visualmente na quebra – normalmente bem feita, em um momento apenas atrapalhou o ritmo do resto.
A câmera de Soderbergh é inquieta e traz amplitude de tela, deixando alguns personagens em ângulos mais abertos. Como na cena da reunião inicial. O resultado das filmagens em iphone é bem interessante do já não tão novo recurso (lembrando que o premiado Tangerine e até o nacional Charlote SP, dentre outros, já usaram).
Curioso que em um filme que usa como plano de fundo o basquete, temos tão poucas cenas na quadra, evidenciando que o foco não era o jogo em si, mas as repercussões de como chegar até ali – e vale tanto um belo discurso de Burke sobre a infância, quanto a rivalidade entre jogadores de mesmo time.
As alfinetadas no modus operandi dos figurões que só pensam em dinheiro são claras, com o bônus da questão étnica. A importância de se estar atendo aos novos meios de consumo de entretenimento e até diálogos sobre liberdade estão presentes.
A cena final, antecedida de uma explicação desnecessária, dá uma esticada que a princípio eu estranhei, mas logo se justificou e revelou algo um pouco óbvio é verdade, mas ainda assim de forma bem construída e genuína.
High Flying Bird pode não conseguir ser tão universal – e não sei se ele pretendia – mas é uma das melhores pedidas da Netflix neste começo de ano.
Confira a nossa crítica de outros originais Netflix lançados 2019 até agora:
Inspire, Expire , Lionheart , Revenger , A Última Gargalhada , IO, Polar, Velvet Buzzsaw e Close