Crítica: F1: O Filme
F1: O Filme
Direção: Joseph Kosinski
Roteiro: Ehren Kruger, Joseph Kosinski
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2025
Elenco: Brad Pitt, Damson Idris, Javier Bardem, Kerry Condon, Tobias Menzies, Kim Bodnia.
Sinopse: Depois de abandonar as pistas, o lendário piloto Sonny Hayes (Brad Pitt) é convencido a voltar a correr para apoiar Joshua Pearce (Damson Idris), o jovem novato da escuderia fictícia ApexGP. Disposto a todos os riscos, Sonny monta uma estratégia para fazer a equipe se tornar vitoriosa, para isso ele precisará do apoio da comissão técnica e de pessoas influentes do esporte, mostrando que a corrida vai muito além das curvas dos autódromos.
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Joseph Kosinski não tinha uma carreira nada desinteressante em seu cinema antes de dirigir “Top Gun: Maverick”, lançado em 2022. Antes, já mostrava claros sinais de construir uma identidade bem particular, especialmente ao designar essa conurbação entre o homem e o ar, a velocidade. Isso fica bem evidente, por exemplo, em “Tron: O Legado”, de 2010. Fica evidente, no entanto, que o trabalho com Tom Cruise parece o ter levado a novas direções, novos caminhos.
Não à toa, por isso foi chamado para dirigir “F1”. Lançado agora em 2025, ele não nasceu como uma espécie de longa oficial da Fórmula 1, porém acabou se tornando isso ao longo do tempo. Primeiramente, pela consultoria e participação em diversas cenas do piloto – atualmente na escuderia Ferrari – Lewis Hamilton. O astro inglês que fez a ponte com a Federação Internacional de Automobilismo, na qual passou a apoiar o projeto e trouxe mais patrocinadores e escopo ao projeto.
Assim como em “Top Gun”, Kosinski contou com um nome de peso para dar voz e expressão a sua ideia de, novamente, buscar as conexões entre o homem e seu instinto quase primitivo com a velocidade. Aqui foi Brad Pitt, que vive um antigo piloto de sucesso na Fórmula 1, Sonny Hayes, mas que acaba deixando a categoria por conta de um acidente – em um momento que disputava com Ayrton Senna. Certo dia, ele é chamado para retornar às competições pelo ex-companheiro de equipe Ruben (Javier Bardem) e fazer dupla com o novato Joshua (Damson Idris).
A busca de Ruben tem um objetivo: ele precisa fazer com que sua fracassada equipe vença ao menos uma corrida, senão perde o controle acionário da própria escuderia. Para isso, recorre ao antigo amigo e seu ímpeto pela velocidade.
Fica evidente pela sinopse que “F1” não foge de um escopo bem tradicional de produções de esporte. Relação entre mais velho e mais novo, traumas do passado que não foram resolvidos, sofrimento para alcançar a vitória. Todos esses elementos estão presentes e são utilizados dentro do longa. Porém, há uma característica bem específica do cinema de Kosinski que é a construção desses elementos não em um lado “ordinário”, por assim dizer, mas dando peso a como esse universo reflete tudo isso.
Sonny, por exemplo, remete a muitas figuras heróicas do tipo. Ele está longe disso. É facilmente combatido, pode perder tranquilamente e não é nada infalível. Fugiu das pistas pelo medo. É uma figura psicologicamente abalada, sem muita inspiração para seguir em frente. A encenação reforça tanto esse aspecto de alguém nada glorioso que, na primeira cena na qual ele usa o capacete, dá um close em todas suas rugas e marcas. É alguém claramente de um “passado”.
E é justamente esse debate que constrói um elemento interessante para essa renovação por clichês, se é possível falar disso. O passado não é somente do personagem, e sim desse universo competitivo da Fórmula 1. Antes, apenas o talento e treinamento seriam capazes de gerar vitórias. Agora, é preciso ter dinheiro, um bom carro e patrocinadores. É um universo nada romântico, mas que Sonny parece querer reviver.
Seus embates com Joshua se concentram particularmente na ideia de como a imagem pode ser consolidada dentro desse mundo. O jovem precisa aparecer de todas as formas possíveis, inclusive na maior parte delas fora das pistas. Enquanto o mais velho quer fugir dos holofotes. Há um caminho correto? “F1” não toma diretamente partidos ou lados nesse debate. O que ele busca é compreender como esse universo se cria através dessas diversas fissuras que aparecem nele.
Todos esses elementos se reforçam, obviamente, pela ação do longa dentro das corridas. Kosinski remete diretamente a “Speed Racer”, de 2008, das irmãs Wachowski. A câmera não é nada fixa e está longe de querer encontrar um realismo nas reações dentro do carro. Ela constrói sensações, acima de qualquer coisa. Não à toa a câmera que busca brincar com uma espécie de visão gameficada, em que olha para frente e vira em 180º graus para o carro. É uma espécie de plano e contraplano da velocidade.
Com isso, esses personagens se tornam plásticos, menos realistas, e parte de um mundo que debate a realidade do esporte em toda parte. “F1” é um filme que quase renega a ideia das produções do tipo e até mesmo de longas de corrida. Sua visão é praticamente de uma animação, em que tudo se torna extremamente plástico. Os fogos ao fim de uma corrida claramente falseados, enquanto uma batida é sempre o fim de tudo. Em meio a isso, a desconstrução de mitos do próprio esporte e da ideia da felicidade nas pistas. Claramente, Kosinski quer um universo em desencanto.
Nota: 4 /5