Crítica: Não Fale o Mal
O remake de Não Fale o Mal dirigido por James Watkins, baseado no aclamado thriller psicológico dinamarquês Speak No Evil, carrega a inevitável comparação com o original de Christian Tafdrup. Watkins, conhecido por trabalhos como A Mulher de Preto, tenta traduzir para o público hollywoodiano a atmosfera angustiante e minimalista do filme dinamarquês, mas ao longo do caminho, transforma o que era uma exploração sutil de horror e tensão em um suspense mais tradicional, carregado de reviravoltas previsíveis e violência explícita.
O grande mérito de Speak No Evil residia na sua capacidade de gerar desconforto e mal-estar através do não dito, explorando temas como a passividade, a conformidade social e a amoralidade de forma implícita. A obra de Tafdrup não buscava respostas fáceis, deixando a audiência sufocada com a incerteza e a ausência de explicações. Em contraste, em Não Fale o Mal, Watkins opta por uma abordagem mais direta e menos ambígua, explicitando as motivações dos personagens e entregando, na segunda metade, um clímax que se aproxima mais do cinema de horror convencional.
James McAvoy, como o perturbador Paddy, certamente brilha com uma atuação intensa, mas o seu personagem se torna excessivamente caricatural, afastando-se do mistério mais reservado do vilão do original. Scoot McNairy e Mackenzie Davis, que interpretam o casal Ben e Louise, dão performances convincentes, mas suas interações são sobrecarregadas com diálogos que sublinham os conflitos e enfraquecem a dinâmica de tensão acumulada lentamente no filme original. O bromance sugerido entre Ben e Paddy, que no filme de Tafdrup carrega uma inquietante tensão sexual, é substituído por um relacionamento mais direto, deixando de lado a complexidade implícita.
A principal fraqueza do remake é a sua tentativa de justificar e explicar demais. O roteiro, ao tentar agradar um público maior, recorre a uma narrativa expositiva que simplifica os dilemas morais e as relações dos personagens. A tensão psicológica cede lugar a um thriller de horror que não hesita em chocar com violência gráfica, mas que carece da profundidade emocional que fez do original uma experiência tão marcante.
Ainda que o filme mantenha alguns momentos de suspense bem executados, especialmente nas cenas iniciais, o remake perde a sutileza e o poder do silêncio que tornaram o original tão eficaz. Watkins transforma a atmosfera de inquietude do filme dinamarquês em uma experiência mais palatável e previsível, apostando em fórmulas já conhecidas do cinema de horror comercial. A decisão de modificar o final para algo mais explosivo e menos ambíguo reflete essa mudança de foco, tornando o desfecho uma recompensa típica dos thrillers convencionais.
Não Fale o Mal consegue entregar entretenimento competente, mas ao sacrificar o desconforto psicológico em favor de sustos e violência, ele perde o impacto visceral e a originalidade que fez de Speak No Evil uma obra tão comentada. Para quem busca um thriller mais direto, essa nova versão pode funcionar; para os que apreciaram a tensão sutil e o final sombrio do original, o filme de Watkins parece apenas mais uma refilmagem genérica.