Crítica: Pedágio - 47ª Mostra de São Paulo - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Crítica: Pedágio – 47ª Mostra de São Paulo

Pedágio
Direção: Carolina Markowicz
Roteiro: Carolina Markowicz
Elenco: Maeve Jinkings, Kauan Alvarenga, Thomás Aquino, Aline Marta Maia, Caio Macedo, Isac Graça.
Sinopse: Uma mãe que trabalha num pedágio se recusa a aceitar a homossexualidade de seu filho buscando os piores métodos para lidar com isso.

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Muito me agradou como a Carolina Markowicz consegue construir esteticamente um filme que é a representação desse vulcão de emoções e vivências que é o Brasil e a situação especifica que ela fala: a escolha pela fotografia cor de rosa cobrir os cenários do diretor de fotografia Luis Armando Arteaga, as composições fechando e se abrindo ao máximo na apresentação final muito bonita mostrando as complexidades, preenchimentos e vazios de realidades que mudam mas seguem ciclos de aceitação, mas também de uma ainda incompreensão, o plano da mãe e do filho conversando juntos e ele partindo para o horizonte enquanto a imagem dela de costas fica para trás com as suas sombras, as composições muito próximas dos personagens ao mesmo tempo que a câmera parece distante daquele cenário, é bem óbvio que Markowicz tem uma potência estética bem particular.

O estudo de personagem da situação da personagem da Maeve Jinkings (sempre ótima) é compreendido junto com as nuances dela própria numa figura riquíssima, contraditória e os altos e baixos da sua relação com o filho Tiquinho (Kauan Alvarenga) fluem muito bem nesse sentido. Não me incomodo com o olhar do filme pro pitoresco da vida e apostar numa visão caricata e patética das figuras que ele denuncia na sua crítica social pra gerar humor porque no final das contas a gente abre as nossas redes sociais, ligamos a televisão ou então conversamos com um parente ou um conhecido e vemos muitas pessoas daquele jeito.

Um problema do filme é que ele não me parece avançar um tipo de estética já conhecida do cinema independente brasileiro (estética essa que não tem problema nenhum e pode render bons e maus filmes): ele faz tudo bem feito, mas falta uma pulsação nas suas criações, um avanço no senso de unidade e mesmo querendo te envolver emocionalmente, o resultando final acaba se tornando uma apreciação estranhamente fria e distante de um longa que segue de maneira competente mas esquemática todas as ferramentas desse tipo de filme: o tom baixo, intimista, mas dramaticamente violento, a secura nas composições, a distância, uma emulação documental, o retrato da pobreza, comportamental, o naturalismo humanista, é o mais do mesmo.

E aí temos o maior problema do filme quando Markowicz decidi escolher uma reviravolta envolvendo o personagem do pastor que muda o filme completamente, desvia o foco da sua denúncia sobre um assunto tão importante que é esse horror que é o tratamento da “cura gay” numa virada que parece um truque de roteiro para que ele nunca desenvolva de fato o seu tema e escolha uma solução simplória que é até incoerente com alguns personagens com o de Thomas Aquino. E isso é muito ruim porque aí por não ter avançado na sua mensagem e ter escolhido um caminho tão fácil, tão conciliatório, tão dentro de caminhos fáceis de resoluções com até o surgimento de romances que nem são desenvolvidos, a impressão que surge dos personagens que ele criativa é apenas o seu lado pitoresco e todo o horror que eles representam fica diluído e minimizado dentro disso pelo filme nunca ter passado da caricatura pro que é de fato terrível, o que deixa a sua sátira incompleta, não chegando no procedimento que o “Infiltrando na Klan” do Spike Lee faz na sua crítica social em outro âmbito. Depois daí fica uma história bonita de mãe e filho, que é bela e que se encerra de um jeito poderoso.

  • Nota
3

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