Crítica: Bem-Vindos à Vizinhança
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Crítica: Bem-Vindos à Vizinhança

Bem-Vindos à Vizinhança – Ficha técnica:
Criação: Ryan Murphy, Ian Brennan
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 13 de outubro de 2022
Sinopse: Nora (Naomi Watts) e Dean Brannock (Bobby Cannavale) finalmente realizaram o sonho de comprar a casa perfeita. Espaçoso e aconchegante, o novo lar era tudo que eles sempre quiseram para sua família. Mas quando cartas anônimas começam a chegar em sua caixa de correio, o sonho rapidamente se transforma em pesadelo.
Elenco: Naomi Watts, Bobby Cannavale, Mia Farrow, Terry Kinney, Henry Hunter Hall, Jennifer Coolidge.

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Quase um diretor contratado “da casa”, Ryan Murphy estreou no último mês Bem Vindos À Vizinhança, mais uma produção exclusiva para a Netflix. No ano em que foi responsável por Dahmer, Uncoupled, O Telefone do Sr. Harrigan, dentre outros, Murphy retorna com mais um título, baseado em uma história real, dessa vez sobre uma família que decide comprar a casa dos seus sonhos – nem que tenha que se endividar para isso – e passa, logo após a mudança, a receber mensagens hostis via carta de alguém que se autointitula como “o observador”.

A premissa é, sem sombra de dúvida, um ponto de partida muito bom para desenvolver um ótimo suspense e, com Naomi Watts, Jennifer Coolidge, Mia Farrow e Bobby Cannavale, a minissérie também reuniu um elenco mais do que interessante, suficiente para se tornar um grande destaque. Não tinha muitas razões concretas para que desse errado. No entanto, ainda assim é o que acontece: a minissérie se perde “correndo atrás do próprio rabo”, andando em círculos e usando de artifícios pouco inteligentes, que ao invés de captarem a atenção do espectador, acabam gerando imenso cansaço em quem assiste.

Os primeiros episódios são até satisfatórios, cumprem o básico do que é esperado de um bom suspense, com cenas pontuais que são boas em gerar tensão e um bom “whodunit”, no qual a investigação do crime parece de fato caminhar em direção à solução do caso. Depois dessa fase inicial, vários são os acontecimentos da série que giram em torno de tentar descobrir quem é “o observador”, ou seja, o foco passa a ser identificar quem tem a intenção de tirá-los da casa.

Com isso, surgem vários suspeitos. Desde a personagem de Jennifer Coolidge, a personagem de Mia Farrow, do próprio Bobby Cannavale, a detetive particular contratada pelo casal protagonista para solucionar o crime, interpretada por Norma Dumezni… e por aí vai. Pela metade da minissérie, a lista de suspeitos já não para de crescer. Temos praticamente todos os personagens como potenciais culpados, enquanto a família sofre sem respostas sobre o que está acontecendo na casa.

É nessa reta final, onde todo mundo parece ter um percentual de culpa no que vem acontecendo e onde nem a polícia e nem a investigação particular parecem caminhar em direção à solução do caso, que a história passa a sofrer com as péssimas escolhas de roteiro. Depois de nos apresentar quase todos os personagens como suspeitos, desenvolvendo sem muito propósito e de forma bastante aleatória apenas alguns destes, decide dedicar metade de um  episódio a um flashback que é, nada mais, nada menos, que uma mentira.

São trinta minutos de confissão falsa de uma personagem. Trinta minutos de explicação, passo a passo, de um suposto crime cuja personagem, como saberíamos no próximo episódio, na verdade nunca cometeu. Ou seja, um episódio inteiro de uma minissérie é “gasto” com um recurso de flashback feito com o único objetivo de dissuadir o espectador e, depois, de estender algo que já não faz mais sentido ser estendido. Apenas para continuar a enrolar uma história que, como também iríamos saber ao final, não tem conclusão.

Bem-vindos À Vizinhança termina quase como começou: ainda sem solução e, depois nitidamente, sem propósito. Seu desenvolvimento pífio parece ser tão sem causa quanto seu diretor, que parece apenas estar preenchendo uma tabela com o streaming.

Diferentemente de séries como Mare of Easttown e The Undoing, por exemplo, Bem Vindos à Vizinhança não possui um desenvolvimento satisfatório do arco dos seus personagens e nem da sua história principal, o que é uma pena. Mesmo com tudo indicando um acerto, Ryan Murphy erra mais uma vez e relega uma boa história com um ótimo elenco ao baú do esquecimento da Netflix.

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