Crítica: En el balcón vacío (1961)
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Crítica: En el balcón vacío (1961)

Tratado como o único filme de ficção sobre o exílio espanhol, esse filme é uma preciosidade do cinema mexicano, ganhou diversos prêmios no país e influenciou artistas, dentre eles o Guilhermo Del Toro em sua fantasia “O Labirinto do Fauno”. “En el balcón vacío” se baseia em registros autobiográficos de María Luisa Elio, esposa do diretor e se desenvolve em base às memórias de uma (antes) menina lidando com o sangue da guerra impregnada nas paredes dos seus lares.

Memória representa tudo que somos, pois os caminhos e escolhas nos levam a um canto, mesmo aqueles que forçadamente nos impulsionam, inclinam ou limitam. Reféns da realidade adulta, contemplando tão somente o poder e interesse de gente que não é, somos espectadores de um mundo em constante declínio quando estendemos, por ventura, a condição individual de existência e passamos a nos considerar (ato corajoso de despertar-se) pertencentes à sociedade.

“En el balcón vacío” traz a atmosfera de documentário, com fragmentos de fantasia, essa dicotomia ressalta a manifestação visceral em se discutir a Guerra Civil Espanhola sob o viés infantilizado e atordoado de uma criança, nesse caso chama-se Gabriela, que é uma, dentre tantas outras meninas que atravessam o mundo, o tempo e história enfrentando as mazelas do homem. O tempo e espaço, ainda que de forma tímida por conta do orçamento limitado, pertencem à prateleira de “brinquedos” tal como a protagonista, pois a montagem transita entre passado e presente sem nunca se perder no embaraço, é simples, provocativo, e traduz com fidelidade tanto a rebeldia no ato de brincar (alusão à infantilidade corrompida pela guerra) como a amargura da trajetória que, apesar do crescimento físico e mental, tende a impregnar perpetuamente, ao passo que as memórias por si só simbolizem uma gaivota presa em um caixote velho.

Não precisa de muito esforço para compreender que se trata de uma poesia nua e melancólica, onde as linhas da falta de confiança, silêncio e tragédia se confundem e são personificadas em medo e fuga. Por que fogem? simples, porque há medo. Quem pode condenar o medo? muitos o fazem, porém poucos o conhecem. É catastrófico o canto da ignorância, onde os dedos que condenam passam a soar como bússola para o ódio e o terror.

– O que sobra então? – pergunta a criança.
– As paredes – respondem em coro.
– Por que deveria me importar com elas? – indaga com sobriedade, apesar da pouca idade.
– A acinesia que as envolve não impede que elas absorvam contos reais e assim continuarão sempre lá, ainda que o “lá” deixe de existir ou se enxergar tal como é. As paredes hão de permanecer atentas às verdades da arte.

E as paredes choram nesse momento.

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