Crítica: Verlust – 44ª Mostra de São Paulo - Cinem(ação)
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Crítica: Verlust – 44ª Mostra de São Paulo

“Verlust” é uma visão adulta, madura – e rica – das relações que libertam em vez de aprisionar.

Ficha técnica:
Direção: Esmir Filho
Roteiro:  Esmir Filho, Ismael Caneppele
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2020 (44ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Isolada na praia, a poderosa empresária Frederica (Andrea Beltrão) prepara a festa de réveillon que todos esperam. Em meio à crise do casamento com o fotógrafo Constantin (Alfredo Castro) que afeta diretamente a filha adolescente (Fernanda Pavanelli), ela ainda tem que administrar a vida e carreira do ícone pop Lenny (Marina Lima), que decidiu escrever uma obra misteriosa ao lado do escritor João Wommer (Ismael Caneppele). Quando uma criatura estranha surge do fundo do mar, a crise se instaura na teia de afetos e Frederica terá que enfrentar seu maior medo: a perda.

Elenco: Andréa Beltrão, Marina Lima, Alfredo Castro, Ismael Caneppele, Fernanda Pavanelli.

A palavra “Verlust”, que intitula o novo filme de Esmir Filho, significa “perda”. Logo no começo, o longa faz questão de explicar que, etimologicamente, a palavra carrega consigo “lust”, o desejo, e por isso remete à ideia de que, para se realizar algo que se quer, é preciso perder.

Não é à toa que o personagem que vem com esse aprendizado é vivido por Ismael Caneppele, que também assina o roteiro com Esmir Filho, repetindo a parceria de “Os Famosos e os Duendes da Morte”. Ele dá vida ao escritor contratado para desenvolver a biografia (que não é uma biografia) de Lenny, cantora de sucesso vivida por Marina Lima, que é controlada por sua empresária Frederica (Andréa Beltrão).

O trabalho de Esmir Filho sempre foi voltado às relações entre as pessoas. Pela primeira vez, seu olhar se desvia dos relacionamentos entre jovens ou adolescentes (como em “Boca a Boca” ou “Alguma Coisa Assim”) e se dirige aos adultos. Sua direção, assim como os personagens, está mais madura.

“Verlust” não tem medo de usar o não-dito para dizer. Interpretamos as relações por meio das tensões, e inferimos acontecimentos passados através do que vemos nas ações de Frederica, nas respostas de sua filha, e nos desejos reprimidos de seu marido – que também perde algo para realizá-los.

O elefante na sala, em “Verlust”, é a baleia encalhada na praia que chora um lamento mais pela presença incômoda das pessoas que pelo fato de estar ali, naquela praia. Gosto como Esmir não tem medo de brincar com os elementos oníricos para criar símbolos. A figura da baleia, que também simboliza as personagens empacadas; a sala inundada que faz Lenny pedir ajuda; e até mesmo a festa que emula um “Baile da Vogue” e não tem receio de paralisar a todos para que a majestosa produtora musical passe por eles.

A forma como a câmera passa pela casa linda e luxuosa nos afasta um pouco mais do que devíamos dos personagens. E, como o roteiro escolhe sair do realismo, temos mais uma representação do que um mergulho em personagens que nos pareçam reais. É bonito, é prazeroso, mas é também um olhar distante.

“Eu não desejo perder nada”, diz Frederica logo no começo, após ser representada por uma rocha firme. Mas os acontecimentos – que parecem durar mais do que apenas três dias – fazem dela areia, em pedaços, porém livre. É por isso que na última cena vemos o mar.

“Verlust” é uma visão adulta e sóbria sobre amar e saber deixar(-se) ir. E isso está dito em um filme que parece querer se fazer no não-dito.

  • Nota
4

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