Os 10 melhores filmes brasileiros de 2019
O ano de 2019 vai ficar para a história do cinema brasileiro. Sob ataques e ameaças contantes do governo Bolsonaro, o cinema nacional teve uma das melhores safras de produções de sua história, chegando a conquistar dois prêmios em Cannes (Bacurau e A Vida Invisível), um dos maiores e mais importantes festivais de cinema do mundo.
Mas não paramos por ai. Além desta duas ótimas produções, é preciso elencar outras obras nacionais dignas de atenção e apreço. Ao longo do ano, diversos filmes fizeram suas estreias em festivais e mostras internacionais, sendo muito bem recebidos pela crítica especializada e faturando prêmios. Por isso decidi elencar as 10 melhores produções brasileiras do ano.
10º – Chorão: Marginal Alado (Felipe Novaes)
Abrindo a lista de melhores filmes está Chorão: Marginal Alado. O documentário sobre o vocalista da banda Charlie Brown Jr., falecido em 2013, é o primeiro longa-metragem do jovem cineasta Felipe Novaes. A produção que estreiou na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo recebeu o prêmio do público de Melhor Documentário brasileiro e conta a trajetória do músico nascido na baixada santista, que se tornou um dos principais nomes do rock brasileiro.
9º – Morto não fala (Dennilson Ramalho)
Não estamos acostumados em ver produções nacionais no gênero de suspense/terror, mas o cineasta Dennilson Ramalho mostra que é possivel se aventurar no gênero. Morto não fala é o primeiro longa-metragem do diretor, que já dirigiu oito curtas do gênero. O filme estrelado por Daniel Oliveira (Cazuza), narra a história de Stênio, um homem que possui um dom paranormal de se comunicar com mortos. Sua rotina noturna ouvindo relatos dos cadáveres começam a gerar consequências.
Morto não fala estreiou em 2018 no Fantasia Internacional Film Festival, em Motreal, no Canadá. O filme foi tão bem recebido pela crítica que possui aprovação de 92% no Rotten Tomatoes. Além disso, a produção chegou a aparecer em uma lista da revista New York como um dos melhores filmes de terror do ano.
8º Sócrates (Alex Moratto)
Sócrates é mais um filme com diversos estreiantes, tanto na atuação como na direção, mas que já mostram um ótimo trabalho, podemos esperar grandes coisas futuramente. Assim como Chorão e Morto não fala, Sócrates é o primeiro longa-metragem do cineasta Alex Moratto. O filme traz a história de Sócrates, interpretado por Christian Malheiros, um jovem negro e homossexual, morador da periferia da baixada santista, no litoral de São Paulo.
Com a produção executiva de Fernando Meirelles ( Cidade de Deus e Dois Papas), o longa foi o único filme brasileiro a receber três indicações no Independent Spirit Awards, o Oscar do cinema independente. Sócrates acabou vencendo o prêmio de Diretor Revelação. Vale ressaltar, que Sócrates foi uma das 12 produções nacionais escolhidas como pré-candidatas a disputar a vaga no Oscar 2020.
7º Pacarrete ( Allan Dalberto)
O grande vencedor do Festival de Gramado não poderia ficar fora desta lista. Novamente um diretor estreitante se destacou. O longa estrelado por Marcélia Cartaxo, conhecida por protagonizar o filme A Hora da Estrela (1985), que lhe rendeu o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim, narra a história de uma bailarina idosa, considerada louca por todos os moradores da cidade de Russas, no Ceará.
Pacarrete, sempre ranzinza e rigorosa, aparentemente vive no mundo da lua, ou perdida em sonhos quase impossiveis: ser uma bailarina famosa. A atriz Marcélia Cartaxo consegue dar vida e profundida a personagem com trejeitos e manias, sua atuação é uma das melhores do ano. Seu maior sonho é realizar uma apresentação de balé durante a festa de aniversário da cidade, porém, a pequena cidade do interior do ceará pouco se importa com uma idosa professora de dança “metida à francesa”.
O longa foi premiado em oito categorias no Festival de Gramado, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz e Melhor Roteiro.
6º Três Verões ( Sandra Kogut)
O longa-metragem dirigido por Sandra Kogut marca o retorno de Regina Casé aos cinemas. Três Verões que fez sua estreia no Festival de Toronto e pôde ser apreciado na 43ª Mostra de São Paulo, tem sua estreia programada somente para março de 2020 nos cinemas brasileiros. Em Três Verões, interpreta a caseira Madalena, mais conhecida como Madá. A história se passa ao longo do mês de dezembro dos anos de 2015 a 2017, em uma mansão à beira-mar do casal Edgar (Otávio Muller) e Marta (Gisele Fróes) e acompanha as preparações para o Natal e o Ano-Novo da família e as mudanças que ocorrem ao longo dos três verões dentro da casa.
5º Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer parou (Bárbara Paz)
Já deu pra perceber que este ano os longa-metragem brasileiros por onde passaram foram muito bem recebidos, e não seria diferente com Babenco. O primeiro filme dirigido e produzido pela atriz Bárbara Paz venceu o prêmio de Melhor Documentário sobre Cinema no Festival de Veneza. A obra acompanha o último período de vida do cineasta Hector Babenco, marido de Bárbara Paz.
“ Eu já vivi minha morte, agora só falta fazer um filme sobre ela”, afirmou o cineasta a Bárbara. Ela decide realizar o desejo de ser companheiro e gravar e produzir um filme sobre o fim de Babenco. Extremamente intimista e delicado, o longa nos faz mergulhar na intimidade do cineasta, revelando medos, ansiedades, sonhos, memórias e reflexões. Totalmente em preto e branco Babenco é uma bela homenagem ao cineasta que fez do cinema seu remédio e alimento para continuar vivendo.
4º – Divino Amor (Gabriel Mascaro)
Acredito que este filme é um dos mais ousados do ano. Em Divino Amor, do diretor e roteirista Gabriel Mascaro, vemos uma verdadeira distopia gospol no cinema. A obra nos faz refletir sobre como seria uma sociedade onde a grande maioria é evangélica, a moral e os valores cristãos são aplicados à risca, o governo se diz laico, mas segue os princípios religiosos e o carnaval deixou de existir, dando lugar à festa do “amor supremo”? As pessoas se vestem com modéstia, defendem a família acima de tudo. As igrejas são substituídas por “Drive Thru” onde um pastor te recebe para uma oração. Tudo isso você encontra em Divino Amor.
Gabriel Mascaro é direto e aproveita da imaginação para nos mergulhar em um realidade futurista, mas que mescla diversos momentos com situações dos dias atuais, cheias de hipocrisia. O filme não é uma sátira, mas uma crítica à sociedade brasileira. Certas situações são tão surreais que levam o espectador a rir. Em Divino Amor, Mascaro é extremamente ousado, trazendo cenas eróticas que impactam, pois se relaciona diretamente com a fé a oração. O filme consegue misturar sexo e religião, muitas vezes postos em extremidades, sem ofender o cristianismo.
3º Democracia em Vertigem (Petra Costa)
São muitas as histórias relacionadas à política brasileira ao longo dos últimos 30 anos. E explicar os casos de corrupção, manifestações populares, o Impeachment de Dilma, a operação Lava Jato, a prisão do ex-presidente Lula e a eleição de Jair Bolsonaro, não é uma tarefa nada fácil. Como condensar e contar tudo sem deixar fatos importantes de fora? Por onde começar? Parece quase impossível, mas a cineasta Petra Costa conseguiu narrar de forma brilhante os últimos passos da política nacional no documentário Democracia em Vertigem, lançado pela Netflix.
Em Democracia em Vertigem, Petra Costa leva o espectador a conhecer, ou relembrar, como foram os últimos anos 30 anos do Brasil. Com cerca de 2 horas de duração o longa traça de forma cronológica a história do Brasil pré-democrático até o processo de Impeachment de Dilma, a prisão de Lula e suas consequências. O documentário ganha um outro peso ao inserir cenas e momentos da vida pessoal da cineasta.
Democracia em Vertigem é semi-finalista da categoria de Melhor Documentário do Oscar 2020, além de aparecer na lista de Melhores Filmes do ano do Jornal New York Times.
2º A Vida Invisível (Karin Aïnouz)
Prepare o lenço. Essa é primeira dica dada para você que ainda não assistiu o drama dirigido por Karin Aïnouz e estrelado por Carol Duarte, Julia Stockler, Gregório Duvivier, e é claro, a dama do cinema brasileiro Fernanda Montenegro. O longa se passa na década de 1950 no Rio de Janeiro e conta a história de Eurídice e Guida, duas irmãos cheias e sonhos e desenhos, mas que vivem em uma uma sociedade conservadora e patriacal. A história de ambas mudam qundo são separadas e acabam vivendo distantes, sonhando com o dia em que se reencontrarão. O melodrama tropical foi vencedor do Prêmio Um Certo Olhar, no Festival de Cannes, sendo extremamente elogiado por onde passou. A Vida Invisível foi o escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para disputar a vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar, mas acabou ficando de fora da pré-lista.
Karin Aïnouz te leva a mergulhar na dura realidade de duas mulheres que vivem à sombra dos maridos e pais, reprimidas e obrigadas a desistirem de seus sonhos. Em A Vida Invísivel vemos um delicado relato da vida como ela é, os abusos, a violência e o silenciamento de mulheres cheias de desejos e sonhos. Dona de uma fotografia belíssima, o longa é envolvente e emocionante, e cria nos espectadores proximidade e simpatia com as protagonistas. As atuações das duas jovens atrizes são belíssimas e comoventes, já Fernanda Montenegro dispensa comentários, com pouco tempo de tela ela arrebata todos os olhares e lágrimas.
1º Bacurau (Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles)
Certamente você ouviu pelo menos uma vez estas frases: “Você já assistiu Bacurau?” “Assita Bacurau!” Pois bem, digo com tranquilidade que a nova produção de Kleber Mendonça Filho se tornou a “religião” de muitos amantes do cinema nacional. O elenco conta com a participação de Sônia Braga, Bárbara Colen, Thomas Aquino, Udo Kier, Karina Teles, Silverio Pereira e toda a população da cidade onde o filme foi gravado, no interior pernambucano.
O vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes, chegou com tudo pelos cinemas brasileiros e ficou entre os mais assistidos no país por algumas semanas. Este é um daqueles filmes que quem não assistiu pouco sabe sobre ele, já que, dar spoilers sobre Bacurau estraga a experiência e o segredo do longa. Se você não assistiu ainda, só lhe digo uma coisa: na cidade de Bacurau, coisas estranhas acontecem, a cidade some do mapa, e visitantes estranhos surgem trazendo mais violência para a região.
Aos poucos o espectador vai conhecendo quem são os moradores da cidade, sua rotina e modo de vida. Repleto de críticas sociais Bacurau mistura diversos gêneros como drama, suspense, gore e western. Os mais aficionados por cinema encontrarão aqui referências claras ao cinema de Gláuber Rocha e até mesmo de Quetin Tarantino.