Crítica: Babenco (documentário) - 43ª Mostra de São Paulo
Babenco: Alguém precisa ouvir o coração e dizer: parou - 43ª Mostra de Cinema de São Paulo
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Crítica: Babenco – Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou – 43ª Mostra de São Paulo

O documentário dirigido por Bárbara Paz é uma declaração de amor a Babenco.

Ficha técnica:
Direção: Bárbara Paz
Roteiro: Bárbara Paz, Maria Camargo
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 20 de outubro de 2019 (2 de setembro de 2019 no Festival de Veneza)
Sinopse: “Eu já vivi a minha morte, agora só falta fazer um filme sobre ela”, disse o cineasta Hector Babenco a Bárbara Paz ao perceber que não restava muito tempo de vida. Ela aceitou a missão e realizou o último desejo do companheiro.

Elenco: Hector Babenco, Bárbara Paz, Willem Dafoe.

“Você é uma vadia”, brinca o sempre zoeiro Hector com a esposa Bárbara Paz. “Me deu panetone, me fragilizou, e agora me filma assim”. É como se o cineasta resumisse uma coisa que todos os cineastas fazem: filmar o que se desnudou diante da câmera. Sabendo de sua morte iminente, vemos neste documentário um Hector nu. Ele, que sempre desnudou facetas da nossa sociedade (e até de si mesmo em “Meu Amigo Hindu”, mas com o conforto de fazer isso através de um ator), agora permite, aos olhos sensíveis e apaixonados de Bárbara Paz, que o vejamos nu (metafórica e quase até literalmente).

Em “Babenco – Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou”, vemos cenas que intercalam o processo do cineasta em aceitar a morte e uma espécie de síntese de sua obra e de sua visão. É, também, uma conclusão brilhante para a carreira do diretor, embora possa ser um ótimo ponto de partida para quem não conhece sua obra: começar “pelo fim” pode ser uma jornada interessantíssima.

Uma das coisas mais interessantes em “Babenco” é a escolha de cortes. As cenas escolhidas de seus filmes, que permeiam o documentário, simbolizam desejos talvez subjacentes ao biografado: pessoas correndo e fugindo ou um prédio sendo implodido (no caso, o antigo presídio do Carandiru) criam imagens fortes que conversam com os registros da intimidade do cineasta. Fiquei pensando na arte, e em como ela é capaz de ajudar as pessoas a processarem os nossos maiores medos. Fiquei pensando na morte, na qual evitamos pensar ainda que seja inevitável. É a arte que nos permite refletir mais profundamente acerca dela. Porque quando se vive a arte, compreende-se melhor a vida. Que bela forma de viver a morte. Que bela forma de não morrer.

  • Nota
4.5

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