PRATO NACIONAL: BEM BÁSICO BRAZIL
Nenhum prato já feito nesta cozinha fílmica, terá tanto sabor tupiniquim como este! Pois é! Estamos falando do verdadeiro gosto verde e amarelo de datas diversas da nossa terra. Só coisa boa!
A mesa lhe aguarda, sente-se que já iremos servir! Vamos entender um pouco sobre o nosso país em cada prato.
Para conferir o tenebroso sabor do primeiro PRATO NACIONAL, clique AQUI. Já o segundo, com um tom aprisionado, clique AQUI. A terceira foi 100% paulistana e você encontra AQUI. Também tivemos uma refeição criminal, confira AQUI. E a última foi nostálgica, com gostinho dos nossos pais AQUI.
ENTRADA
Vamos usar receitas distintas, trazendo o melhor da nossa terra com sabores de épocas diferentes. O prato de entrada é uma fritura que nem todos vão engolir sem algum caos estomacal, porém todos que provar, irão saborear o melhor que ele tem a oferecer!
NA BEIRA DO FOGÃO TEMOS:
Cacá Diegues, um cineasta que entendia o seu povo.
INGREDIENTES:
Estamos falando de temperos como:
É o alagoano mais botafoguense que o nosso cinema já produziu.
Filho de antropólogo, cursou direito e sempre se destacou.
Foi um dos líderes do Cinema Novo ao lado de Paulo Cesar Saraceni, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman e o grande Glauber Rocha.
Morou na Itália e França ao lado da sua amada esposa Nara Leão.
Adaptou e dirigiu o famoso livro XICA DA SILVA.
Fez parte do júri de Cannes, é oficial da Ordem das Artes e das Letras e membro da Cinemateca da República Francesa, por aqui tem um título concedido por nosso governo de Comendador da Ordem de Mérito Cultura e a possui a medalha da Ordem de Rio Branco.
MODO DE PREPARO:
Na mistura desta época, coloque nudez e tom de pornochanchada, mas agarre o humor e proponha sem dó uma comédia.
Para empanar cada unidade, coloque
Escolha bem as peças e mergulhe na mistura o melhor de José Wilker e Bety Faria.
Para ter mais conectividade com o público, adicione um pouco de Fábio Júnior, mesmo que todos torçam o nariz, confia que vai funcionar.
Jogue na frigideira com óleo já fervendo de crítica política e social.
Na trilha sonora da fritura estalando, encontre Chico Buarque, Dominguinhos, Chico da Silva, Pinduca, Ari Barroso e até Irving Berlin.
Sirva-os com metalinguagens e um certo Q de patriotismo.
POR QUE VALE PROVAR??
Tem uma cara feia, é verdade, mas filmes desta época são assim ao redor de todo o mundo, só que extremamente menos emblemáticos.
Porque tem um caráter profético, praticamente fundando um estilo de filme que foi muito replicado por anos em nosso solo.
Em algumas de suas leituras, dizem que este filme tem em seu subtexto a procura pelo tal “progresso” em nossa bandeira.
Porque é feito por um dos diretores brasileiros mais conhecidos pelo mundo, que teve seus longas exibidos comercialmente não só na América Latina como também nos Estados Unidos e Europa, fora ter sido selecionado em Festivais como Berlim, Nova York, Toronto, Veneza e Cannes.
Mexe bem com o nosso passado, citando as famosas “TVs públicas” e tem promessas como “nevar no sertão”.
De boas passagens a frases inesquecíveis que arrancam gargalhadas, temos aqui uma obra que foge do filme “cabeça”, sem ser apenas leviano e estupido.
Muito indicado para os já admiradores dos mais recentes CINE HOLLIÚDY e CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS.
Porque rendeu uma Indicação à Palma de Ouro e Venceu dois prêmios no Festival de Havana.
SABORES:
Irônico. Curioso. Político. Um filme que tinha faro para o que estava por vir.
PRATO PRINCIPAL
Prato direto do interior, é uma receita de um ambiente bem bucólico. Totalmente caseiro, sabor de comida de mãe, não tem como não gostar. Espero que esteja com apetite, pois este ensopado é para devorar!
NA BEIRA DO FOGÃO TEMOS:
Jorge Furtado, mostra o seu humor afiado em qualquer cenário.
INGREDIENTES:
A maioria forte, como:
Foi diretor do Museu de Comunicação Social e um dos fundadores da Casa de Cinema ambos de Porto Alegre
Trabalhou por muitos anos com publicidades e como jornalista, mas chegou a estudar psicologia, artes plásticas e até mesmo medicina.
Um porto-alegrense que já foi homenageado em Hamburgo, Santa Maria da Feira, Goiânia, Toulouse, São Paulo, Bruxelas, Rotterdam e Paris.
Logo após receber vários prêmios internacionais, inclusive de Berlin, foi por anos roteirista da Rede Globo.
Conhecido pelo público, fez grandes longas como: MEU TIO MATOU UM CARA, DOCE DE MÃE e O HOMEM QUE COPIAVA. Ainda roteirizou outros como o CARAMURU – A INVENÇÃO DO BRASIL e o saboroso LISBELA E O PRISIONEIRO ao lado de Guel Arraes e Pedro Cardoso.
MODO DE PREPARO:
Em uma panela de pressão, despeje uma cidade remota, humildes cidadãos e adicione uma mistura forte de metalinguagem e crítica.
Escolha grandes personagens, os deixe interessante temperando com humor simples, porém refinado e características que convivemos no dia a dia.
Pegue a construção cinematográfica e pique cada componente, do roteiro a edição, deixe pegar gosto e jogue na panela.
Refogue até o elenco todo começar a brilhar, Wagner Moura, Fernanda Torres, Lázaro Ramos, Bruno Garcia e até a Camila Pitanga.
Desligue o fogo. A melhor crítica social que você já provou está pronta!
POR QUE VALE PROVAR??
Para quem gosta de se divertir e dar boas risadas despretensiosas, aqui é uma obra prima. Assim como também é para os cinéfilos adoradores da “doença juvenil” que é um traço congênito do diretor Furtado.
É bom porque se propõem a discutir o que diabos é “ficção”! E não vemos isso sempre por aí.
Porque o diretor promoveu o JORGE FURTADO´S PORTO ALEGRE ligado a nada mais e nada menos que a Universidade de Harvard.
Temos aqui um roteiro que conversa diretamente com o público, e não estou falando apenas de quebra da quarta parede, estou falando de tudo. Do método, personas, formato, índole, espírito.
Porque nos ensina que Quimera no dicionário, também quer dizer “utopia”.
De bons diálogos, situações e principalmente questionamentos.
Porque tem o incomparável: Paulo José.
SABORES:
Simbólico. Hilário. Crítico. É uma das joias preciosas que o nosso solo dá, algo que não funcionaria em nenhum outro lugar do mundo!
SOBREMESA
Gostaria de fazer uma menção a QUE HORAS ELA VOLTA?, pois se não tivesse usado Anne Muylaert em outro Menu (com DURVAL DISCOS), estaria trazendo outra receita dela. Porém, vou servir algo tão bom quanto!
NA BEIRA DO FOGÃO TEMOS:
Gustavo Pizzi, tem faro para oportunidades.
INGREDIENTES:
Carioca formado em cinema pela Universidade Federal Fluminense.
Diretor, produtor, montador e roteirista, começou como assistente de produção em 2002 com MADAME SATÃ.
Estreou com o documentário PRETÉRITO PERFEITO.
Seu segundo longa de ficção e que repete o protagonismo da Karine Teles.
Mesmo sendo um jovem diretor de 42 anos e com uma carreira ainda humilde, possui muita experiência e já é um cara premiado por sua outra obra: RISCADO.
Um potencial nome para ficarmos de olhos nos próximos anos.
MODO DE PREPARO:
Uma xícara de chá de cores quentes, duas colheres de sopa de crítica social, ½ xícara de classe média baixa e dois dedinhos de despedida.
Ferva tudo até formar uma calda forte e consistente, que dê para notar ansiedade e desespero.
Pingue alguns sonhos de casal e duas gotas de Mateus Solano.
Em uma outra travessa, bata todo o massudo elenco com Adriana Esteves e Otávio Muller até homogeneizar, até que o seu nível que pareça ser real.
Dê situações completamente brasileiras, mas ao servir, foque e destaque o talento apenas da impecável Karine Teles.
POR QUE VALE PROVAR??
Semi-biográfico por parte do diretor e com os filhos reais da protagonista, traz um grande peso para trama.
Porque tem um diretor que quer tocar em algo que nunca vimos por aqui, se propondo a levar algo de seu passado para as telonas.
Tem um tom tão sufocante, que você precisar dar aquela respirada pós sessão.
Porque é um drama familiar que muita gente passa, mas poucos discutem sobre essa passagem.
Um roteiro que lembra os hermanos argentinos, mas com personagens que funcionam como um grande retrato do nosso povo. Você identifica pelo menos um personagem dentro da sua própria família.
Um longa naturalista, completamente emocional e respira festival.
Participou de Sundance, Roterdã e Gramado, venceu como melhor filme pelo júri no Festival de Cinema Luso-brasileiro e premiado pela crítica em Málaga.
SABORES:
Profundo. Doloroso. Íntimo. Um longa mais de personagem do que de situação, tem o jeitinho brasileiro em cada cena.
CRÍTICA do Daniel Cury você confere AQUI.
Estou aqui para derrubar o preconceito usando armas verdes e amarelas. Logo, os filmes aqui não terão uma crítica minha e sim a receita! Expondo pontos do tempero, modo de preparo e porque vale a pena provar. E assim como a nossa culinária, cultura e costumes, se encontra um pouquinho de cada parte do planeta em uma mistura cheia de ginga, criatividade e esforço, basicamente o DNA do nosso povo.
A crítica fica por conta de vocês! Convido cada um dos leitores deste artigo para que assista a lista (e se já provou o sabor), venha aqui expor a sua opinião nos comentários!
DELICIE-SE!!!!