O Terror da Premonição (Norio Tsuruta, 2004) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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O Terror da Premonição (Norio Tsuruta, 2004)

Uma família faz uma viagem de carro, o filme inicia-se com a mãe e a pequena filha demonstrando total entrega ao momento, a cumplicidade existente entre elas é visível através da canção que as envolve. Enquanto isso, no banco traseiro, o pai se mantém atarefado com o trabalho em seu notebook, e sua atenção intensa só é quebrada quando ele precisa urgentemente de um telefone e implora para que sua esposa retorne até uma cabine telefônica. O atraso da viagem acontece em prol às necessidades do pai e enquanto eles esperam a ligação, ele se entretêm com um pedaço de jornal o qual, misteriosamente, aponta a morte da sua própria filha, em um acidente envolvendo um carro e caminhão.

É através desse evento premonitório que o longa se desenvolve, esse trajeto representa justamente as falhas como indivíduo que prefere a ausência ao invés da conexão. O cinema de terror japonês é conhecido por resgatar diversos temas e alinhar todas de forma coesa, aqui acontece mais um exemplo. Passado, presente e futuro são formas de aplicar essa ideia geral, principalmente em relação à incomunicabilidade.

O primeiro ato sucinta com perfeição o clima que se estende até o final, ainda que aja um claro declínio no segundo por se ater extremamente ao drama emocional e não às alucinações, como acontecem no terceiro ato. Essa atmosfera, envolvida pela trilha sonora obscura, dá a impressão de que todos eventos são pinturas oníricas, que intercala realidade apenas para acrescentar mais dúvidas. É uma ideia interessante utilizar o jornal como um forte vínculo com a clarevidência, visto que se trata de uma mídia que quase sempre está atrelada a eventos passados.

O terror mora mesmo nas alucinações, quando não se sabe com nitidez de que tempo ou circunstâncias o protagonista se encontra. Hiroshi Mikami transmite muito bem a loucura da perda e como esse sentimento se aplica na mente ávida por preencher os espaços da solidão. Quando o terceiro ato aborda o medo através da própria memória, sem dúvida a qualidade ganha maiores proporções, pois o evento catastrófico principal é percebido sob diversas perspectivas, e a angústia sentida pelo personagem central é transmitida para o espectador.

Ainda que “O Terror da Premonição” (2004) possua características importantes para o gênero, cai facilmente na resolução rápida e óbvia, há ainda um desequilíbrio grande do segundo ato para os demais, onde as alucinações não estão presentes. De fato, o mais interessante aqui é como o luto é desenvolvido em base da insanidade e, nesse caso, temporal.

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