Trash Freak #6: A Serbian Film, Terror Sem Limites - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Trash Freak #6: A Serbian Film, Terror Sem Limites

Desde de seu lançamento em 2010, A Serbian Film vem colecionando polêmicas e levantando discussões filosóficas e morais sobre o seu conteúdo. A película do diretor sérvio Srđan Spasojević com suas cenas fortes de pedofilia, necrofilia, estupro e incesto atualiza a velha controvérsia do mundo das artes: se faz necessário existir um limite para criação artística?Advertência cinemação

A resposta não é simples e traz consigo vários dilemas. Um deles me empacou por mais de quinze dias: como a mídia deve abordar um filme desse tipo? Essa pergunta me veio a mente logo depois de terminar sua crítica aqui no Cinem(ação). Sinceramente? Amarelei e só tive coragem de publicá-la depois de muito refletir e abrir dialogo com outros colegas daqui do site.

Minha angustia não era nem por mim, mas sim pelo nosso público que é muito diversificado. Aqui vem gente de todas as idades e de todas as tribos cinematográficas. Toda crítica, por pior que ela seja, é uma forma de dar publicidade ao filme. Vale a pena então para nós, com nosso público tão amplo, dar publicidade para um filme que pode ser uma experiência totalmente desaconselhável para um grande número pessoas? Ouvindo várias opiniões, conclui que desrespeito maior ao público seria ignorar um filme com tantas questões para se discutir.

Serbian Film Family

A Serbian Film narra a história de Milos (Srđan Todorović), um ator pornô Sérvio semiaposentado, famoso outrora por suas performances, que desiste da carreira por conta de sua família. Com muita dificuldades financeiras, Milos é apresentado por uma colega a um misterioso e excêntrico diretor de cinema chamado Vuknir (Sergej Trifunović), que deseja realizar o filme pornográfico mais realista de todos os tempos. Vuknir oferece uma fortuna a Milos, que em comum acordo com sua esposa, aceita a proposta. Então, Milos é levado a um antigo orfanato que seria o set de gravação e a partir dai se desenrola a história. O ator pornô é dopado com estimulante sexual para touros e obrigado a passar por situações de extrema violência.

A história traz algumas reflexões importantes sobre a indústria do cinema pornográfico do leste europeu, que é famosa por suas belas mulheres e excentricidades, mas essas questões acabam sendo jogadas em segundo plano. Com diálogos arrastados e pouco interessantes, a película abusa do poder de sua imagética forte para chocar o público. Convenhamos que nos tempos de hoje de banalização da violência, isso não é nada fácil, mas o filme o faz regurgitando sobre “símbolos sagrados de pureza” como a família e crianças. O resultado são cenas que, apesar do contexto bem específico, incomodam bastante.

A Serbian Film foi censurado em países com forte tradição democrática como Noruega e a Finlândia… daí você tira o quanto ele é pesado. Sua fotografia, efeitos de áudio e trilha sonora são muitíssimo bem-feitos. Porém, o roteiro apresenta algumas lacunas sobretudo na construção e desenvolvimento dos personagens. Vuknir, o antagonista, por exemplo, com sua personalidade doentia tinha potencial de complexidade para ser um novo Hannibal Lecter, Alex Delarge ou Tyler Durden, mas passa longe disso. A priorização da imagem é uma virtude que chama atenção e, paradoxalmente, o grande defeito do longa.

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Indagado sobre o porquê e a inspiração de se fazer uma obra tão crua, o diretor explicou de forma categórica que a violência exacerbada mostrada na película vem de lembranças coletivas da Guerra dos Balcãs, o maior conflito armado da década de 90, que dividiu a antiga Iugoslávia em várias outras repúblicas independentes. Spasojević escolheu a violência sexual como metáfora para denunciar os horrores de uma guerra que envolveu várias etnias e as cicatrizes ainda estão profundas em todo o povo. A ideia é muito boa na teoria, mas, na prática, a mensagem não é tão perceptível prejudicando o entendimento da obra como um todo.

Mais do que cenas grotescas e repulsivas, personagens desencontrados e criticas sociais não tão claras, o grande mérito do filme sérvio foi ter gerado essa série de discussões interessantes sobre os limites da arte cinematográfica. Uma questão velha e polêmica que nunca terá uma solução que agrade gregos e troianos…

Serbian film Young girl

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