Crítica: Garra de Ferro

Garra de Ferro (The Iron Claw) começa com diversos planos detalhes de objetos e símbolos que marcam uma ideia típica associada à família tradicional conservadora texana, o que é somado com planos de ambientação de onde eles estão e vamos seguindo de modo continuo a rotina da família Von Erich e de como eles estão completamente encaixados nisso. Se existe um clima de total companheirismo e carinho nas interações com os irmãos, existe um mal-estar profundo na presença e nas interações com o pai, que parece esmagar os irmãos emocionalmente a cada cena com a sua secura, a sua honestidade cruel e o fato de ver todos eles como objetos e extensões de si. Esse aspecto seco está na própria abordagem do diretor e roteirista Sean Durkin, que investe num filme que equilibra tanto um aspecto visual naturalista, duro e sombrio, mas também uma emulação – inteligentemente controlada – de um programa de luta livre dos anos 80 com todos os seus exageros e farsas.

Essa masculinidade puramente performática. Farsesca. Na montagem das apresentações, inserções musicais, das entrevistas para programas de televisão, vemos como existe uma emulação desse aspecto circense televisivo, mas sempre com a consciência que aquilo é parte de um “grande show”. Uma grande farsa controlada. Com direito a momentos de bom-humor que vão aos poucos se tornando cada vez mais raros. As cenas de luta são filmadas com proximidade dos lutadores e das suas ações no rinque, sem muitos cortes, só se abrindo ou adquirindo mais movimentos quando a tensão está no seu máximo, com agressividade, sem estilizações, só secura. Durkin decupa as suas cenas prendendo os seus personagens, faz planos deles capturados por janelas ou então espaços que remetem a prisões, existe uma construção cênica de opressão e mal-estar que vai ficando cada vez mais direta e evidente durante o filme depois de já ser estabelecida sutilmente até então.

Após o casamento de Kevin – que tem a sua primeira transa anteriormente filmada, acompanhada pelas sombras – a maldição grita e aspectos como um suicídio que acontece coberto por uma árvore, a câmera na face de Efron, o plano à distância da estrada cruel de noite, o roteiro marcando as mudanças cruciais na rotina da família que não para mesmo quando é levada pela morte e pela tragédia, o amarelado e as trevas se misturando e uma cena de encontro pós–morte que teria tudo pra ser brega mas é escrita e filmada com o máximo de intimidade e secura possível fazem com que fique a força de Durkin, que vai criando um super melodrama amargo, denso e cruel sobre os extremos sem fim e agoniantes da morte, do fracasso e da perda, mas ainda assim também extremamente sensível e doce.