Crítica: Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim
Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim
Direção: Emma Tammi
Roteiro: Scott Cawthon, Seth Cuddeback, Emma Tammi
Elenco: Josh Hutcherson, Piper Rubio, Elizabeth Lail, Matthew Lillard, Mary Stuart Masterson, Kat Conner Sterling, David Lind.
Sinopse: Mike Schmidt é um jovem contratado para trabalhar como o vigia noturno do antigo restaurante familiar Freddy Fazbear’s Pizza, um lugar famoso por seus característicos anatômicos que, quando chega a noite, se transformam em assassinos.
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Não. Não é bom. Não adianta fazer birra na internet, rolar pelo chão, gritar pelos quatro cantos, cancelar o pessoal da crítica no Twitter ou espernear sobre o Rotten Tomatoes. “Five Nights at Freddy’s” é insosso em sua plena definição. Não acho que se pode chamar nem de filme, talvez com muito esforço encontremos ali uns dignos 40 minutos de trama, um episódio de TV. Mas de resto, uma das bagunças mais inacreditáveis que eu já vi vindas de um grande estúdio americano. Vamos aos fatos.
“Five Nights at Freddy’s” é um produto que tem como base um jogo de videogame incrivelmente famoso e que virou uma franquia já bem extensa dentro do mundo gamer. Aparentemente, o negócio faz muito sucesso com a garotada. A franquia tem uma quantidade hercúlea do que os jovens chamam hoje de lore. Ou seja, a história tem inúmeras ramificações e plots que permeiam a produção. Tanto é que “Five Nights” é sucesso também no YouTube, com muitos e muitos canais dedicados a vídeos educativos sobre a trama dos jogos e teorias de fãs. O jogo conseguiu formar uma comunidade feraz na internet. E por essa razão, um executivo de meia idade de Hollywood fez o que eles fazem de melhor: já correu lá pra explorar esse mercado.
O que ele não sabia é que seria tão difícil adaptar um troglodita desse. Durante sua uma hora e quarenta de filme, “Five Nights at Freddy’s” tenta explicar tanta coisa, despejar tanta informação inútil pra construção da trama, que acaba já muito cedo alienando o espectador médio e abandonando sua tentativa de escrever um roteiro decente. Parte dessa culpa pode ter sua base no medo de desapontar fãs fervorosos que esperavam ver na grande tela todo e qualquer pedaço de informação possível.
Além disso, essa tentativa de filme tenta construir tensão a qualquer custo, recorrendo a influências cósmicas de filmes como O Iluminado, mas falhando miseravelmente na execução. O tom do longa passa por constantes mudanças a partir do segundo ato e nunca se consolida novamente, como tinha começado a fazer no soturno início. A melancolia do primeiro ato me dava esperança, porém fui tolo de acreditar. Por vezes o filme não sabe mesclar o humor junto de sua ambientação psicótica e fica claramente tosco quando começa a forçar piadas ou situações inusitadas.
É também admirável ver a rapidez com que o filme simplesmente larga de mão seus personagens, deixando de incluir diálogos importantes pra narrativa, deixando de desenvolver o quebra-cabeças do roteiro, pra simplesmente poder avançar logo pra parte do terror físico. O resultado é um parque de diversões com uma carcaça até bem chamativa, mas que para de funcionar com meia hora de uso. Um grande potencial desperdiçado, com excelentes atores em papéis bem distribuídos, mas que não conseguem trabalhar devido ao conteúdo precário dos últimos 50% do filme. Na minha humilde tese, sinto que o filme sofreu muitos cortes do estúdio. Principalmente para poder se encaixar na faixa PG da censura americana, maiores de 13 anos aqui no Brasil.
“Five Nights at Freddy’s” tem a maioria dos elementos certos para um bom filme de Halloween pós-Steven Spielberg, exceto talvez um bom diálogo e personagens marcantes. Assistindo ao filme, tem-se a sensação de que a personalidade mórbida dos jogos foi suavizada para seus sustos mais genéricos e revelações banais.
O elenco do filme às vezes consegue passar emoções mais profundas do que seus personagens são permitidos a expressar, especialmente Hutcherson e o subutilizado Matthew Lillard (em seu melhor papel desde Pânico e as dublagens de Salsicha em Scooby Doo), este último interpretando um orientador de emprego que contrata o protagonista para trabalhar no restaurante temático Freddy’s, que dá nome ao filme. É muito difícil desfrutar tanto tempo com personagens cujos relacionamentos só se desenvolvem porque a história precisa avançar.
No final de tudo, você não precisa se importar tanto com o motivo pelo qual Abby se apega tão rapidamente a Freddy e à turma, ou por que Vanessa sabe tanto sobre Freddy. Mas teria ajudado se os sustos programáticos do filme e as atuações em grande parte medianas fossem mais memoráveis. Como está, o filme é um tanto rápido demais quanto lento demais para ser chocante ou emocionante o suficiente, é o que eu gosto de chamar de nem fede nem cheira. “Five Nights” pode satisfazer os fãs da série, mas todos os outros terão que procurar diversão em outro lugar.
Pode parecer detalhismo, mas “Five Nights at Freddy’s” está repleto de implausibilidades emocionais e logísticas. Não há um único personagem no filme que pareça que poderia existir fora de suas cenas. Em particular, a amigável policial Vanessa (Elizabeth Lail) tem toda a profundidade de um NPC secundário de um jogo. Ela se encaixa confortavelmente em um filme que parece ter sido criado a partir de fanfics do YouTube, em vez de estar enraizado em qualquer tipo de experiência humana.
O filme tem mais utilidade como uma experiência para os fãs e uma lembrança afetiva para os canais fervorosos de fanáticos no YouTube do que como uma narrativa própria, não muito diferente do filme-show de sucesso de Taylor Swift, “The Eras Tour’. O filme também é uma exploração astuta do fascínio de certas crianças mais jovens pelo horror – remixar o jogo com tantos outros elementos online pode introduzi-los suavemente em um gênero às vezes proibido por causa da idade. Mas enfim, esse é um texto para outro lugar.
Por outro lado, também é igualmente possível que “Five Nights at Freddy’s” crie apenas um ciclo de retroalimentação de mais lore, continuando a sobrecarregar os pobres atores humanos encarregados de dar vida a esse universo. A fala mais engraçada do filme é involuntária, quando Mike, o protagonista, explica de modo sincero: “Estou tendo dificuldade em processar tudo o que aconteceu”, como se estivesse passando por um difícil término de namoro ao invés de uma série de ataques de coelhos e ursos animatrônicos cada vez mais bizarros. Ele está certo, no entanto. Para um filme com uma premissa tão simples e atraente, “Five Nights at Freddy’s” é muita coisa pra engolir ao mesmo tempo.