Crítica: Crianças do Sol – 44ª Mostra de São Paulo
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Crítica: Crianças do Sol – 44ª Mostra de São Paulo

“Crianças do Sol” só precisaria de algumas poucas adaptações para se tornar um “filme da Disney”.

Ficha técnica:
Direção: Majid Majidi
Roteiro:  Nima Javidi, Majid Majidi
Nacionalidade e Lançamento: Irã, 1º de fevereiro de 2020 (44ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Ali é um garoto de 12 anos de idade que, junto de três amigos, trabalha duro para sobreviver e sustentar sua família. Eles fazem serviços corriqueiros em uma garagem e cometem pequenos crimes para ganhar algum dinheiro rápido. Em uma reviravolta do destino que soa mais como um milagre, Ali é encarregado de encontrar um tesouro. Ele recruta os amigos, mas para acessar o túnel onde essa preciosidade está escondida, o trio deve se matricular na Escola do Sol, uma instituição de caridade que tem como objetivo educar meninos de rua e crianças sob o regime de trabalho infantil, e que fica justamente perto de onde o tesouro está localizado.

Elenco: Rouhollah Zamani, Shamila Shirzad, Javad Ezzati, Mahdi Mousavi, Abolfazl Shirzad, Mani Ghafouri.

“Crianças do Sol” ganhou o prêmio de melhor ator jovem no Festival de Veneza devido ao trabalho de Rouhollah Zamani. O prêmio é merecido, mas o fato é que o rapaz está frequentemente ameaçando uma expressão de choro. Tal expressão combina com o tipo de filme que Majid Majidi traz: uma tentativa constante de levar o espectador às lágrimas.

Não que a história não mereça emoção do espectador. Acompanhamos o garoto Ali, que recebe a missão de um criminoso: cavar um túnel entre o porão de uma escola e o cemitério, onde existe um tesouro a ser descoberto e repartido por todos. O rapaz e seus amigos (que trabalham com ele em um ferro velho) se matriculam na escola para poder realizar o serviço.

A história de “Crianças do Sol”, por mais exagerada que pareça, funciona até certo ponto, já que a necessidade de colocar na escola crianças que já não a frequentavam para poder trabalhar evoca a discussão sobre o trabalho infantil. O tema, aliás, não é nada sutil, já que a primeira tela do longa é uma dedicatória às milhões de crianças que trabalham no mundo.

Enquanto a proposta de denunciar e discutir o trabalho infantil é nobre e necessária, as escolhas de Majid Majidi vão do piegas ao esquemático em diversos momentos. O professor da escola a perguntar aos alunos, um a um, sobre seus pais, para preencher na ficha, é a típica cena feita para discutirmos as famílias desestruturadas. O menino com facilidade em matemática apenas por ter trabalhado em construção, e o que tem talento para futebol dizendo “O time é meu tesouro” são outros elementos que mostram que sutileza é a última das preocupações do longa.

Em certa situação que explora a trama paralela da menina imigrante afegã, o professor decide bater no policial maldoso que prendeu e raspou a cabeça dela. Com a cabeça machucada, vemos um “payoff” de uma pista plantada anteriormente, quando ele se interessou em entender como o protagonista bateu nos colegas. Enquanto assistia, pensei que para ser mais esquemático só faltava uma piscadinha para o rapaz. Mas não faltou.

O comentário do filme à presença de afegãos no país (já que o Irã recebeu muitos refugiados afegãos nos últimos anos) é talvez o que vem mais naturalmente, quase indireto. O retorno de um dos personagens para lá, assim como a falta de adeus dos amigos de Ali, um a um, é sintomático e ajuda a mostrar como o garoto está determinado a encontrar o tesouro. É essa persistência quefaz com que ele deixe de perceber as oportunidades que a educação poderia lhe dar. É o desejo de obter o tesouro que o impede de ver que “o seu maior tesouro está mais próximo do que você pensa” (não, o filme não usa essa frase, mas não me surpreenderia se usasse).

“Crianças do Sol”, que ainda tem alguns cortes abruptos que me parecem ter ficado assim após a decisão de remover cenas que as conectariam (como a de uma confusão no metrô totalmente descolada da ordem dos acontecimentos), traz uma solução heroica demais para o protagonista, além de imagens finais tristes e até pessimistas. Estas últimas, ao menos, não entram para o rol de soluções fáceis que o filme coleciona.

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