Cine PE 2018 | Dia 4 - Curtas-Metragens
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Cine PE 2018 | Dia 4 – Curtas-Metragens

A quarta noite de curtas-metragens do Cine PE 2018 foi uma das mais consistentes em qualidade e diversificadas em estilos. Obras tentam emular David Lynch (Deep Dive”), outras que conseguem emular Stanley Kubrick (Frequências”), animações (“Insone”), obras que falam sobre racismo dotadas de extrema relevância ( “Universo Preto Paralelo” “Peripatético”), com espaço para subversões de comédias românticas ( “Não Falo Com Estranhos” e uma ficção mais densa sobre juventude, preconceito e fantasmas do passado (“Lençol de Inverno”).

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS- METRAGENS PERNAMBUCANOS (MOSTRA PE)


DEEP DIVE (PE) – Ficção – 3 min.

Sinopse: Homem é atormentado por pesadelos.

Direção: Pedro Arruda

inspirado pelo cinema de David Lynch, o curta Deep Dive retrata as hipotéticas situações de morte de seu protagonista. As imagens aqui retratadas são interessantes, mas não há muito mais que possa ser extraído deste curta. A inspiração no cinema de Lynch é oportunista, já que o cinema surreal e de idéias vagas do cultuado cineasta que o diretor deste Deep Dive tenta replicar aqui é quase que impassível a críticas mais objetivas devido a sua própria proposta. O que nos leva ao próximo curta, de caráter onírico que chega a ter mais afinidade com a obra de Lynch do que este:

FREQUÊNCIAS (PE) – Documentário – 19 min.

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Sinopse: Na retina, raios luminosos que giram revelam um novo mundo.

Direção: Adalberto Oliveira

Com um desenho de som formidável que engole o espectador para o universo apresentado aqui, Frequências faz jus ao seu orçamento de 70 mil, apostando num surrealismo de imagens evocativas, como a chuva de caranguejos vista em determinado momento. Acompanhamos o desenrolar críptico dos acontecimentos de forma cadenciada. A trilha sonora de Jackson Veríssimo e Grilowsky e alguns momentos evocam, inclusive, 2001 de Stanley Kubrick, e este é o melhor elogio que poderia ser feito a esta interessante obra.


MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS- METRAGENS NACIONAIS


INSONE (SP) – Animação – 2 min.

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Sinopse: Dois irmãos estão brincando em seu quarto usando diferentes roupas e itens imaginários numa luta interminável que transcende tempo e passa de mundo em mundo.

Direção: Breno Guerreiro e Débora Pinto

Um dos mais inventivos da noite, a animação Insone, de Breno Guerreiro e Débora Pinto, mistura diversas vertentes da cultura pop, com uma animação fluída e boa escolha de música orquestrada que confere um tom épico às brincadeiras de dois irmãos. Dinâmica e divertida.

UNIVERSO PRETO PARALELO (SP) – Documentário – 12 min.

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Sinopse:Um paralelo traçado entre as violações de direitos humanos do passado escravocrata brasileiro e da ditadura militar por obras do século XIX e depoimentos dados a Comissão Nacional da Verdade. Quem são os heróis nacionais brasileiros?

Direção: Rubens Passaro

A forma como o documentário em curta-metragem Universo Paralelo é contada, com imagens estáticas – quadros, desenhos do século XIX, fotos de arquivo – de escravos em situações grotescas enquanto gravações em off de figuras históricas atribuem um novo sentido à tais imagens e conexões entre a ditadura militar e o período de escravidão brasileira é o maior trunfo deste soco no estômago dirigido por Rubens Passaro, visto que elas permitem uma análise crua e visceral sobre tais acontecimentos. Um dos documentários mais poderosos deste Cine PE.

PERIPATÉTICO (SP) – Ficção – 15 min.

Sinopse: Simone, Thiana e Michel são três jovens moradores da periferia de São Paulo. Simone está a procura do seu primeiro emprego, Thiana tenta passar no concorrido vestibular de medicina e Michel ainda não sabe o que fazer. Em meio às demandas do início da fase adulta, um acontecimento histórico em Maio de 2006 na cidade de São Paulo muda o rumo de suas vidas para sempre.

Direção: Jessica Queiroz

Se algo foi reforçado neste Cine PE, é que o conteúdo por vezes é mais importante que a forma. Então, se Peripatético de Jessica Queiroz não possui as melhores atuações, ele tem coisas importantes demais a dizer para que ignoremos todo o resto. Se falarmos de estilo e conteúdo, esta talvez seja a obra que os executa com maior êxito, já que a abordagem pop e dinâmica que evoca filmes como Cidade de Deus com sua narração e situações interligadas tem como propósito atingir o maior número de pessoas. É curioso que essa abordagem mais fácil tenha incomodado alguns do ponto de vista cinematográfico, já que esta facilidade permite o alcance de mais pessoas. Repetimos aqui: o conteúdo é mais importante que a forma.

LENÇOL DE INVERNO (RJ) – Ficção – 24 min.

Sinopse: José (Roney Villela) é coveiro na cidade grande. Quando seu irmão (Eduardo Dascar), com quem ele não fala há anos, lhe chama de volta a sua cidade natal, para enterrar o pai, José precisa revisitar fantasmas da juventude.

Direção: Bruno Rubim

Uma das obras mais fortes do festival,  o curta-metragem de Bruno Rubim é também um dos melhores do ponto de vista técnico. Mas o triunfo mesmo acaba ficando para a atuação de Roney Villela, que transmite uma angústia e melancolia pelo olhar que só é aumentada pela paleta de luto que vem com a paleta de cores frias que tinge a projeção. Se é notado um tema em comum em diversas produções deste festival sobre a juventude que deve ser preservada – e que é afetada pelo preconceito e violência -, Lençol de Inverno apenas reforça tais conexões.

NÃO FALO COM ESTRANHOS (BA) – Ficção – 17 min.

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Sinopse: Gabriel é um cara patologicamente romântico. Prefere viver dentro de si as aventuras que sabe que nunca iria viver. A sala de espera do consultório de um dentista se torna seu habitat natural.

Direção: Klaus Hastenreiter

Não Falo Com Estranhos é divertido, com sua montagem que confere dinamismo, atuações que fazem jus ao criativo roteiro e ocasionais quebras da quarta parede, subvertendo alguns conceitos de comédias românticas, o ideal feminino nesse tipo de produção e seus protagonistas, sempre românticos, introspectivos e poéticos, mas essencialmente machistas.

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