Cada país tem a bilheteria que merece?
Eu estava pensando sobre essas coisas de bilheterias. Alguns filmes fazem o maior sucesso em alguns países, mas em outros chegam a ser fracassos – foi o caso do último filme da série “Exterminador do Futuro”, que no Brasil alcançou razoável sucesso em comparação aos Estados Unidos.
No ano de 2015, além de “Velozes e Furiosos 7“, “Cinquenta Tons de Cinza“, “Vingadores: Era de Ultron” e recentemente “Star Wars: O Despertar da Força“, foram alguns exemplos de bilheterias arrasadoras, tanto no Brasil quanto fora. Estes são blockbusters internacionais da indústria, e é quase impossível detê-los.
No entanto, há blockbusters locais em vários países do mundo. Uma matéria do Hollywood Reporter mostra que em 2015, a Argentina vibrou com “O Clã”, que arrecadou cerca de US$17 milhões, tornando-se uma das maiores bilheterias. No Brasil, o único filme nacional que ficou no “Top 10” dos mais vistos do ano foi “Loucas para Casar”. Abstenho-me de comentários acerca da qualidade dos nossos blockbusters em comparação ao de nossos irmãos-vizinhos.
Ainda na reportagem americana, são citados os filmes “Monster Hunt”, da China, que arrecadou mais de US$300 milhões no país, além do longa baseado no anime “Yo-Kai Watch”, que superou “Star Wars” no Japão, em um movimento que muitos comparam à febre “Pokémon” do início dos anos 2000.
Na Alemanha, um dos maiores sucessos do cinema foi a comédia “estilo American Pie” chamada “Suck Me Shakespeer 2”, e na espanha a comédia também reina, com o sucesso de “Ocho Apellidos Vascos” ou “A Spanish Affair”, que arrecadou mais de US$60 milhões e deverá ganhar uma continuação.
–
Acredito que as comédias tem tudo para alcançar as massas dos países, na eterna luta contra os blockbusters, especialmente porque o gênero permite alcançar um público maior (de diferentes classes, idades, de todas as cores, de várias idades, de muitos amores) e costuma ser muito específico para os países: há exceções, mas o que faz um alemão rir é diferente do que faz um brasileiro dar risadas, e assim por diante.
Eis que, neste momento, o Brasil está prestes a viver uma bizarrice excentricidade nos cinemas: em plena safra de filmes “oscarizáveis”, chega a adaptação de uma novela: “Os Dez Mandamentos”. O filme já bateu o recorde na pré-venda de ingressos, com 1,5 milhão de ingressos já vendidos, ou seja, mais que o dobro do segundo colocado, “A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2”.
Podemos ter, portanto, um caso não apenas de blockbuster nacional logo no início do ano, como uma bilheteria para um nicho pouco explorado no cinema nacional – sagas bíblicas – em contraponto aos grandes sucessos que o Brasil já viu nas salas de cinema com longas espíritas, como “Nosso Lar” ou “Chico Xavier“.
Dificilmente o Brasil vai repetir um caso de bilheteria como este, que mal chegou e já fez sucesso “pakas”, a não ser que a Record saiba criar uma continuidade em adaptações de novelas para o cinema – uma estratégia barata (faz-se dois produtos em um), embora discutível. O fato é que o longa já vai se tornar uma das maiores bilheterias do Brasil, ainda mais porque estreia em nada menos que mil salas no país, maior lançamento de um filme nacional.
Considerando que o último grande fenômeno do cinema brasileiro foi “Tropa de Elite 2“, ouso refletir que o que leva um público muito grande ao cinema, no Brasil, é o evento em si, algo além do filme. No caso deste, foi a continuação de um filme que “viralizou” no mercado pirata, enquanto a trama bíblica é praticamente um final apoteótico para uma novela que fez sucesso na TV aberta.