‘Púrpura’: Um filme (sob) cor gritante e timbres mudos.
“Sem o maniqueísmo barato e corrosivo de que menina é rosa e macho é azul.
Se for diferente? Se a escolha perpassar por um prisma invertido?”.
Passei a indagar sobre o papel que as cores desempenham nas nossas vidas – mesmo sem ser um Van Gogh da cromoterapia tenho total consciência do fato – e o que elas podem revelar de nós.
“Apaguemos o luto do preto, a alvura da paz, a sangria do fogo… A paleta é muito mais profunda, ilusória (…) Eu sempre gostei do azul, mas…”.
Vivemos numa época em que tudo (tudo mesmo!), até o que possa parecer o nada (nada mesmo!), até um simples tom, pode ser visto como mensagem subliminar de bandeiras partidárias, políticas e ideológicas.
Mas o ‘Púrpura’ que dá nome ao curta metragem do cineasta paraibano Tavinho Teixeira em parceria com Fred Teixeira finca a bandeira dentro da nossa massa (cinzenta) fazendo-a pulsar, fumaçar e estranhar aquele céu.
Num prisma mais objetivo a cor púrpura (sinônimo menos glamuroso de roxo), suplanta o tom roxeado da fotografia para revelar algo impuro, sujo, fadado ao fim.
É como se o roxo que marca o cavalo (e por que a escolha do cavalo como símbolo da ferroada gélida?) e a mulher imóvel, carregada em total definhamento, na partida do início, fossem cactos do mesmo solo.
Os dezenove minutos são suficientes para subverter o modelo clássico de fazer cinema, dando o valor dramático e estético que o silêncio exerce (e deve – não entendam como uma regra, mas como um instigante tempero) na narrativa audiovisual.
A ausência de falas verbais faz com que a viagem visual e psicológica seja muito mais intensa e particular e confusa.
Passei a enxergar uma semelhança – muito além da mitológica – mais nítida entre o cavalo e o homem. Apesar de ainda ter dúvidas latentes de quem de fato é a força animal e a força humana.
(…) E o epílogo das águas, na margem do rio encarei como um rito de passagem, de purificação talvez. Uma limpeza na lama que mais cedo ou mais tarde nos emergirá e cessará essas dúvidas escrotas do existir.
“Sou míope… E posso ser daltônico”.
Link para assistir o curta metragem no VIMEO: http://vimeo.com/51522629 ( Senha: omulu )