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Crítica: Cais – Olhar de Cinema 2025 (vencedor)

Cais
Direção: Safira Moreira
Roteiro: Safira Moreira
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2025 (Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba)
Elenco: Safira Moreira, Angélica Moreira, Inaê Moreira, Tinganá Santana, Mateus Aleluia.
Sinopse: A câmera atraca em terra e segue com Safira, e seu pequeno, rumo à comunidade. As mãos, o trabalho e os pequenos gestos das pessoas aos poucos nos conduzem por rios de nascimento, memória, vida e morte. Após o falecimento de sua mãe Angélica, a diretora tenta encontrá-la em outras paisagens, por cidades banhadas pelo Paraguaçu, na Bahia, e o Rio Alegre, no Maranhão, neste que é seu primeiro longa.

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Cais: filme oferenda sobre tempo de Safira Moreira fala mais sobre ancestralidade nas suas capturas cotidianas do que no que é dito

Filme eulogia, filme homenagem, filme oferenda, Cais, de Safira Moreira dos Santos parece algo até experimental.

Sem saber da morte da mãe da diretora e dos processos que a levaram ao filme, a gente chega nisso pela dedução. Pelos pedaços de falas dela e as conversas que ela tem com outros artistas. Por momentos claros de uma oferenda. Fotos que boiam e afundam depois. Na água transparente de um rio. 

Mas a gente percebe principalmente é pelo intangível ao redor. Menos o texto, Menos a fala. Mais o que a gente sente em um tom de saudade que o filme passa. Que ele captura e transmuta em imagem. Em um relato curto de pouco mais de uma hora. Mas que serve de um despejo de emoções bem amadurecidas de perda. 

Descobrir sobre o que é. Descobrir a morte. Se dar conta e receber esta notícia. Não é algo que vem como trauma. De repente. Pelo contrário. Vem com a naturalidade daquilo que chega para todos. E aí toda a temática falada, narrada, posta na nossa frente se soma. Faz sentido. 

Um filme que é sobre este tempo que passa. O que passou e o que virá. Que se faz presente no nascimento do filho. A vida que surge em oposição à vida que se vai. Mas que também vem à tona pelas imagens de aparente nada que Safira filma. Os processos bucólicos e cotidianos.

Processos de trabalho. Mas também de  ancestralidade. Um amuleto sendo feito por um ourives. O azeite de dendê sendo feito a partir dos frutos das palmeiras. A farinha de mandioca. Que flutua  criando uma névoa onírica nestas cenas longas destes trabalhos. 

Filme de travessia por este momento, Cais se resume, no final das contas, na calmaria de Safira flutuando no barco que percorre o rio. Com um eixo fixo nela resoluta olhando para um horizonte que oscila à sua frente. 

Mas com o filho nos braços que lhe dá toda a força necessária para seguir o fluxo.

Nota: 4 /5

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Texto escrito por:

Vincent Sesering

instagram.com/coqkuleshov

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