Crítica: Prédio Vazio
Prédio Vazio
Direção: Rodrigo Aragão
Roteiro: Rodrigo Aragão
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2024 (Fantaspoa)
Elenco: Gilda Nomacce, Lorena Correa, Rejane Arruda, Caio Macedo
Sinopse: A jovem Luna parte em uma jornada em busca de sua mãe, desaparecida no último dia de Carnaval em Guarapari. Suas buscas a levam a um antigo edifício aparentemente vazio, mas habitado por almas atormentadas.
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É muito maneiro acompanhar um diretor desde o início da carreira e ir percebendo a evolução do seu trabalho a cada filme novo. Rodrigo Aragão começou em 2008 com Mangue Negro, e desde então vem fazendo cinema na natureza, repleto de folclore, sempre mantendo uma assinatura de trabalho artesanal. Agora, em 2025, o diretor lança seu primeiro filme urbano: Prédio Vazio se passa em um prédio na cidade natal de Aragão, Guarapari. E mesmo com a mudança de ambiente e com mais recursos, as características mais marcantes do diretor continuam facilmente perceptíveis.
Prédio Vazio começa acompanhando um casal de idosos que mora no Edifício Magdalena, em uma sequência que termina em uma dupla tragédia. As cenas se desenvolvem sem falas, usando apenas o ambiente do prédio e aparições assustadoras para dar uma amostra do que encontraremos a seguir.
Com uma mudança de tom, passamos a seguir os passos de Marina (Rejane Arruda), que está curtindo o carnaval na orla de Guarapari junto com um namorado abusivo enquanto se hospeda no Magdalena. Após uma briga, Marina recebe a ajuda de Dora (Gilda Nomacce), a zeladora do edifício, que, com o fim da temporada de verão, fica morando sozinha no local. Nesse meio tempo, a filha de Marina, Luna (Lorena Correa), tem sonhos perturbadores com a mãe e se desespera ao perder contato com ela, o que a leva a partir para Guarapari para procurá-la, acompanhada do namorado, Fábio (Caio Macedo).
Um ponto que chama atenção logo de início é o protagonismo feminino. Ainda que Fábio seja uma presença importante (além de servir como alívio cômico em alguns momentos), Prédio Vazio trata das histórias de Dora, Luna e Marina, mulheres, mães e filhas. Sem medir esforços para protegerem quem amam, as três são capazes tanto de afeto quanto de violência, proporcionando sequências banhadas em sangue. Gilda Nomacce, um rosto bastante conhecido no cinema de gênero brasileiro, é o maior destaque, brindando o público com uma vilã cada vez mais insana conforme o longa se desenvolve.
Outro destaque fica, claro, para os efeitos práticos, a começar pelo próprio Magdalena, cuja fachada é uma miniatura construída para o filme. Prédio Vazio é um desfile de marteladas, rostos derretendo, fantasmas de aparências diversas, tudo dentro de cenários construídos à mão. Mesmo nos poucos momentos em que o baixo orçamento transparece, a magia do terror de Aragão nunca se quebra, nos mantendo imersos em salas sujas e abandonadas, sempre iluminadas por cores saturadas que remetem ao cinema de Dario Argento.
Sem grandes reviravoltas de roteiro, Prédio Vazio é um filme de terror feito por pessoas que não se escondem do gênero, pelo contrário. Fazer terror exige entrega tanto de quem faz como de quem assiste, e nesse quesito Rodrigo Aragão continua sabendo muito bem o que fazer. O longa estreia nessa semana em circuito comercial, depois de passar por diversos festivais em todo o país.
“Alegria e muita alegria na cidade onde os problemas não existem.”
Nota: 4 /5