Eu Cinéfilo #84: Filmes no Prêmio Platino com Ainda Estou Aqui
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Eu Cinéfilo #84: Quais filmes disputaram o Prêmio Platino com Ainda Estou Aqui?

Conheça os títulos que concorreram à maior premiação cinematográfica da América Latina e Península Ibérica

“Ainda estou Aqui” alcançou mais uma marca histórica ao se tornar o primeiro longa-metragem brasileiro e lusófono a conquistar o principal prêmio cinematográfico da América Latina e Península Ibérica (Andorra, Espanha e Portugal): o Prêmio Platino de Cinema e Audiovisual. A premiação, que chegou à sua 12ª edição em 2025, celebra a excelência das produções em línguas portuguesa e espanhola da comunidade ibero-americana. A cerimônia de entrega dos troféus ocorreu em Madri no último dia 27.

Neste ano, o Brasil teve uma participação recorde no Platino: foram quatro obras indicadas a onze prêmios em nove categorias, incluindo a principal, de Melhor Filme, na qual “Ainda estou aqui” superou uma forte concorrência que incluía candidatos da Argentina, Espanha e Portugal. Apesar da relevância da premiação para a indústria cinematográfica ibero-americana e da disputa acirrada pelo prêmio, a imprensa brasileira não deu o devido destaque à competição, limitando-se, em sua maioria, a noticiar as vitórias do país, sem sequer mencionar os outros filmes em disputa.

 A fim de corrigir essa injustiça, questionamos: afinal, quais filmes concorreram com “Ainda estou aqui”? Conheça, a seguir, os outros títulos indicados à categoria de Melhor Filme Ibero-Americano de Ficção no Prêmio Platino 2025.

Portugal: “Grand Tour” (Miguel Gomes, 2024)

Com apenas uma indicação ao Platino, o representante português chegou à cerimônia em Madri com a prestigiada credencial do Festival de Cannes (França), em que competiu pela Palma de Ouro em 2024 e de onde seu diretor Miguel Gomes saiu com o prêmio de Melhor Direção (Prix de la Mise en Scène). Inspirado no livro “The gentleman in the parlour” (“O cavalheiro no salão”, em tradução literal), do escritor inglês W. Somerset Maugham, o filme acompanha um grand tour pela Ásia – em clara alusão às famosas excursões realizadas pela aristocracia europeia.

A história começa em 1918, na Birmânia (atual Myanmar), onde o diplomata inglês Edward (Gonçalo Waddington) está a serviço do Império Britânico. De Londres, ele recebe um telegrama de sua noiva, Molly (Crista Alfaiate), avisando-o de que ela está viajando ao seu encontro para que os dois possam se casar, após uma espera de sete anos. Covarde, Edward decide fugir ao compromisso. Em vez de terminar o noivado, parte em uma viagem sem rumo pelo sudeste asiático antes da chegada de Molly; esta, determinada a casar, persegue o noivo em fuga, dando início a um jogo de gata e rato que passará por sete países.

O drama traz uma abordagem contemplativa, em uma mistura de documentário e ficção que reflete sobre colonialismo e memória, e conta com o humor peculiar de Miguel Gomes, conhecido pelos filmes “Aquele querido mês de agosto” (2009), “Tabu” (2012) e “As mil e uma noites” (2015), uma trilogia.

Apesar da indicação única ao Platino, “Grand Tour” liderou as indicações ao Prêmio Sophia, da Academia Portuguesa de Cinema, cuja cerimônia também ocorreu em 27 de abril. Das onze categorias que disputava em seu país, o longa venceu em três: Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Montagem. O diretor não compareceu às cerimônias de nenhum dos prêmios, pois, segundo a imprensa portuguesa, ele está no Brasil trabalhando em seu novo projeto, que será uma adaptação do romance “Os sertões” (1902), de Euclides da Cunha.

Por aqui, “Grand Tour” fez parte da seleção oficial da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro passado.

Confira o trailer de “Grand Tour”, de Miguel Gomes:

Onde assistir a “Grand Tour”: Mubi.

Espanha I: “El 47” (Marcel Barrena, 2024)

Com uma trama baseada em uma história real sobre luta operária, migração e direito à cidade, “El 47” foi um dos vários representantes da Espanha no Platino 2025. Além da indicação a Melhor Filme, concorreu a Melhor Atriz Coadjuvante com a interpretação de Clara Segura, que ganhou o prêmio.

O longa conta a história de Manolo Vital (Eduard Fernández), um trabalhador comum que, ao final da década de 1970, vive em uma favela de Barcelona, ocupada por migrantes em busca de melhores oportunidades. Como motorista do transporte público e morador do bairro mais pobre da região, Vital acompanha há anos a reivindicação dos trabalhadores por uma linha de ônibus que atenda a vizinhança. A prefeitura, no entanto, alega que seria impossível atender ao pedido devido à infraestrutura local. Para mostrar que o governo está errado, Vital decide “sequestrar” o ônibus da linha 47 e levá-lo ao topo do morro.

Embora não seja tão conhecido entre o público brasileiro, o longa de Marcel Barrena fez estrondoso sucesso na temporada espanhola de premiações. Na edição de 2025 do Prêmio Goya – máxima distinção do cinema espanhol, entregue pela academia do país –, a produção foi a que obteve os melhores resultados: 14 indicações ao todo, das quais venceu cinco, incluindo uma histórica vitória ex aequo (por empate) como Melhor Filme, feito até então inédito na premiação. Da filmografia do diretor, destacam-se os filmes “100 metros” (2016) e “Mediterráneo” (2021).

Confira o trailer de “El 47”, de Marcel Barrena (em espanhol):

Onde assistir a “El 47”: sem previsão de lançamento oficial no Brasil.

Espanha II: “La infiltrada” (Arantxa Echevarría, 2024)

Com onze indicações ao Platino, “La infiltrada” chegou ao prêmio como grande favorito da edição, também representando a Espanha. Em seu país, aliás, o filme é sucesso incontestável: recebeu 13 indicações ao Goya 2025, apenas uma a menos que seu conterrâneo “El 47”, com quem dividiu o prêmio ex aequo de Melhor Filme. Baseado em acontecimentos reais, o longa retrata o papel do fanatismo político na sociedade espanhola.

A trama mergulha na complexa história do País Basco, comunidade autônoma do norte da Espanha onde movimentos separatistas reivindicam a nacionalidade e a independência bascas desde fins do século XIX. Em meados do século XX, tais movimentos foram reprimidos pela ditadura franquista, que proibiu expressamente o nacionalismo basco. Sob repressão, surge o grupo nacionalista radical Pátria Basca e Liberdade, conhecido pela sigla ETA em euskera, o idioma local. Ao final dos anos 1990, quando o filme começa, o grupo pretende executar uma série de atentados e necessita de cobertura para planejá-los. Para tanto, recorre a Aranzazu Berradre (Carolina Yuste), uma jovem simpatizante da causa que deve hospedar os terroristas em seu apartamento.

Acontece que Aranzazu é, na verdade, uma agente da Polícia Nacional disfarçada, cujo trabalho é desarticular o comando militar do ETA. O filme acompanha a missão da protagonista ao longo de oito anos, expondo os desafios enfrentados por ela ao abrir mão da própria identidade.

Dirigido por Arantxa Echevarría, “La infiltrada” marcou presença nas principais categorias do Platino, incluindo Melhor Direção e Melhor Atriz com Carolina Yuste. Venceu os prêmios de Melhor Roteiro e Melhor Montagem, além de três Prêmios do Público. A diretora se notabilizou por sua passagem pela Quinzena dos Realizadores em Cannes, em 2018, com “Carmen & Lola”, que também foi selecionado pelo Festival do Rio e pela Mostra Internacional em São Paulo.

Confira o trailer de “La infiltrada”, de Arantxa Echevarría (em espanhol):

Onde assistir a “La infiltrada”: sem previsão de lançamento oficial no Brasil.

Argentina: “Matem o jóquei!” (Luis Ortega, 2024)

Remo Manfredini (Nahuel Pérez Biscayart) é uma lenda do turfe que se encontra em crise. Com um comportamento autodestrutivo marcado pelo abuso de drogas, o jóquei tem sabotado a própria carreira e colocado em risco os negócios de seus patrocinadores. Na tentativa de salvar sua reputação, o cavaleiro deve se preparar para a corrida mais importante de sua vida, mas um impressionante acidente interfere em seu plano e leva o atleta a ser hospitalizado. Desorientado, Remo foge do hospital e se põe a vagar pelas ruas de Buenos Aires. Em sua perambulação, ele tenta encontrar um sentido para a vida, mas precisará lidar com as consequências do sucesso, a fúria de seu chefe e o vínculo com sua namorada, antes de poder se considerar uma nova pessoa.

Por essa sinopse, “Matem o jóquei!” (“El jockey”, 2024) parece uma história comum de transformação pessoal a partir de uma situação-limite, mas a direção de Luis Ortega faz desse filme um excêntrico exercício narrativo. O protagonista passará por mudanças surpreendentes em uma jornada em busca de identidade e senso de pertencimento, em meio a uma trama repleta de absurdos.

Antes de representar a Argentina no Prêmio Platino, o filme já havia passado pelo Festival de Veneza (Itália) em 2024, em que disputou o Leão de Ouro, tal como “Ainda estou aqui”. Além disso, “Matem o jóquei!” recebeu seis troféus Condor de Prata, a premiação mais tradicional de seu país, entregue pela Associação de Cronistas Cinematográficos da Argentina (ACCA) – entre eles, os prêmios de Melhor Filme e Melhor Direção. A academia argentina ainda não anunciou seus prêmios.

No Brasil, a obra fez parte da seleção do Festival do Rio, também em outubro. Dos outros trabalhos de Ortega, destaca-se “El Ángel” (2018), exibido no Festival de Cannes.

Confira o trailer de “Matem o jóquei!”, de Luis Ortega (em espanhol):

Onde assistir a “Matem o jóquei!”: sem previsão de lançamento oficial no Brasil.

Outras vitórias do Brasil no Platino 2025

Além de Melhor Filme para “Ainda estou aqui”, o Brasil venceu três outros prêmios no Platino 2025.

A atriz Fernanda Torres foi premiada pelo seu papel como Eunice Paiva, tornando-se a terceira brasileira a vencer a categoria de Melhor Interpretação Feminina. Antes dela, Carol Duarte recebera o troféu em 2020 por “A vida invisível”, de Karim Aïnouz, e Sônia Braga em 2017 por “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho. Na edição deste ano, Torres concorreu ao galardão com as espanholas Carolina Yuste (“La infiltrada”) e Úrsula Corberó (“Matem o jóquei!”) e a costa-riquenha Sol Carballo (“Memórias de um corpo ardente”).

O cineasta Walter Salles venceu o prêmio de Melhor Direção por “Ainda estou aqui”. Ele disputou a categoria com a espanhola Arantxa Echevarría (“La infiltrada”), o argentino Luis Ortega (“Matem o jóquei!”) e ninguém menos que o renomado cineasta espanhol Pedro Almodóvar (“O quarto ao lado”). Foi a primeira vitória do Brasil nessa categoria.

O prêmio de Melhor Criação de Série foi entregue a Fernando Coimbra, Luiz Bolognesi, Patrícia Andrade e Vicente Amorim por “Senna”, produção da Netflix que retrata a vida do piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna. Eles concorreram com os criadores das séries “Como água para chocolate” (HBO, México), “O segredo do rio” (Netflix, México) e “Cem anos de solidão” (Netflix, Colômbia). Também foi uma vitória inédita para o Brasil.

Para conhecer todas as indicações do Brasil ao Prêmio Platino 2025, acesse a página oficial da Academia Brasileira de Cinema.

Sobre o Prêmio Platino

Criado em 2014 pela Entidade de Gestão de Direitos dos Produtores Audiovisuais da Espanha (EGEDA) e pela Federação Ibero-Americana de Produtores Cinematográficos e Audiovisuais (FIPCA), o Prêmio Platino tem como objetivo “promover, difundir e aproximar a cultura e a cinematografia ibero-americana”. A premiação conta com o apoio de entidades e academias nacionais de cinema de 23 países ibero-americanos. No Brasil, a cerimônia de entrega do Platino é exibida anualmente pelo Canal Brasil (sob assinatura), mas também pode ser assistida gratuitamente pela emissora espanhola RTVE, através de cadastro prévio em seu serviço de streaming (em espanhol). Para conhecer todos os indicados e vencedores da edição de 2025, acesse a página oficial da premiação (em espanhol).

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Texto escrito por:

Junyander

[email protected]

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