Crítica: Enterre Seus Mortos – 48ª Mostra de São Paulo
Enterre Seus Mortos – Ficha técnica:
Direção: Marco Dutra
Roteiro: Marco Dutra
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2024
Elenco: Selton Mello, Marjorie Estiano, Danilo Grangheia, Betty Faria, Maria Manoella, Chao Chen, Vittória Seixas.
Sinopse: Na pequena cidade de Abalurdes, Edgar Wilson trabalha como recolhedor de animais mortos nas estradas para mantê-las funcionando. Junto dele, o colega de profissão Tomás e sua chefe Nete. Ao redor deles, o mundo parece dar sinais de que um arrebatamento final se aproxima.
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O Marco Dutra é um cineasta com uma carreira interessante. Sua fascinação pelo gênero do horror chama atenção e sua criatividade na hora de criar seus filmes também. Essas duas coisas são vistas em Enterre Seus Mortos, seu novo longa protagonizado pelo sempre excelente Selton Mello.
Um filme cheio de ambições e que traz diversos subgêneros do horror de uma vez. É uma tentativa de explorar esse gênero tão caro para o cineasta. O problema é que apesar de muito ambicioso, com uma ambientação que ajuda demais na criação de uma tensão quase sufocante, o projeto acaba se perdendo no seu próprio desejo de ser tanto do horror de uma só vez.
Com um elenco excelente que conta com a Marjorie Estiano e a Betty Faria, a obra traz uma discussão sobre a precarização do trabalho, a infelicidade que isso traz para as pessoas e a religião como método de salvação. Não é de hoje que Dutra fala sobre questões sociais. Em Trabalhar Cansa e em As Boas Maneiras, filmes que dirigiu junto com Juliana Rojas, os problemas da nossa sociedade brasileira são centrais para a narrativa. Aqui não é diferente, só que em Enterre Seus Mortos a crítica social acaba se perdendo um pouco em meio a uma narrativa lenta, cansativa e que não parece saber muito bem aonde quer chegar.
O filme segue uma estrutura em capítulos dividida em sete partes, mas se no início do longa você começa envolvido naquele mundo praticamente apocalíptico e sem esperança, à medida que a narrativa avança tudo parece só um monte de ideias e subtemas jogados e sem muito propósito. Pouca coisa se conecta e a experiência se torna entediante.
O talento do diretor para retirar o melhor dos seus atores continua a transparecer. O mesmo dá para dizer da criatividade de Marco Dutra que transborda na tela. Só que é tanta coisa ao mesmo tempo, é tudo tão megalomaníaco, e esse exagero se torna uma perturbação tão pouco agradável de se ver que parece que o filme está brigando com o público. Só que por mais que Enterre Seus Mortos não seja uma experiência agradável, Marco Dutra está de parabéns por ter coragem de fugir do lugar comum quando a gente fala de horror. E só isso já é mais do que o suficiente para esse filme merecer ser visto.