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Eu Cinéfilo #63: Precisamos falar sobre Nolan

Desde que surgiu, no início dos anos 2000, o diretor Christopher Nolan se mostrou muito talentoso e ousado na sua forma de fazer cinema. Ao longo desta mesma década, lembro-me perfeitamente de ele ser unanimidade para aqueles que acompanhavam o cinema de perto. A trilogia “Cavaleiro das Trevas” acabou sendo a confirmação disso e, ao mesmo tempo, fez nascer uma segunda ala, daqueles que passaram a ver problemas em suas manias e limitações cinematográficas.

Desde 2010, então, Nolan passou basicamente a contar com uma ala que ama os seus blockbusters e aqueles que passaram a reclamar basicamente das mesmas coisas: diálogos expositivos, tramas mirabolantes que na verdade não eram assim tão complicadas, sua dificuldade em desenvolver personagens, assim como as, quase sempre rasas, personagens femininas. Mas, afinal de contas, em qual nível de talento se enquadra o diretor?

De antemão, já deixo claro que muito me agrada o cinema do diretor, em especial pela parte técnica de suas obras, mas vamos tentar analisar as coisas de forma mais ampla. Mas indo além disto, ele é um dos poucos de sua geração de diretores que conseguem fazer um cinema de alto orçamento e fugir das amarras dos grandes estúdios. Ele sempre tem ampla liberdade criativa, o que permite reduzir utilização de CGI em suas obras, amplificar o cinema de efeitos práticos, além do seu carro chefe, o desenvolvimento do IMAX. E sim, isso é um feito gigantesco, que talvez só as gerações futuras, quando forem analisar o cinema feito nas primeiras duas ou três décadas deste século, poderão ter a noção do que é fazer cinema autoral nestes tempos.

Nolan consegue levar grande público ao cinema e se pagar em suas superproduções, sem fazer “prequels”, reboots ou continuações. Há mais de uma década que ele está produzindo cinema de grande orçamento sem ter que se submeter a nenhum desses modelos e nenhum diretor hoje em dia é capaz disso. Lendas do cinema como Steven Spielberg e Marin Scorcese tem penado para lançar seus filmes, precisando até recorrer a streamings para terem suas obras financiadas, enquanto ele tem carta branca para produzir com direito a todos os mimos e birras que gosta de exigir.

Mas falando dele enquanto diretor, até aqueles que não gostam de suas obras ou não acham “tudo isso” precisam se render à sua capacidade ímpar de conectar o seu material ao público e que isso é extremamente benéfico para um segmento que tem sido engolido pelas fórmulas de heróis e franquias e, sim, isso o torna um dos maiores deste século, sem sombra de dúvidas.

Por outro lado, é inegável que o diretor tem manias narrativas e suas costumeiras firulas para dar ritmo às tramas. E sim, seus diálogos são muito expositivos, explicados, esmiuçados e repetidos. Entendo quem se canse disso: faz parte essa agonia, apesar de pouco me incomodar. O tratamento às personagens femininas e o desenvolvimento mais natural de seus protagonistas também são pontos que carecem de amadurecer mais, porém todo diretor tem seu calcanhar de Aquiles.

Sem deixar de lado os prós e contras, acredito que o diretor tem alguns problemas que não consegue tratar em tela, mas acho que entrega sempre mais coisas positivas. Seus filmes são experiências cinematográficas, não dá para esquecer nunca da sensação de assistir a “Cavaleiro das Trevas”, “Interestelar”, “Dunkirk” e recentemente “Oppenheimer” nas telonas. Os sons, a capacidade de imersão, o encantamento com toda a qualidade de direção que é apresentada. São filmes que te trazem a magia do “cinemão”, e que marcam os que amam e odeiam o diretor, e o colocam como um dos maiores e melhores de seu tempo, a se confirmar em um futuro próximo, ou não.

Texto escrito por:

Wesley Fernandes dos Santos

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