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Barbenheimer: o cinema está vivo

Fui ao cinema assistir Barbie vestido de rosa, em plena quinta-feira de estreia. Quando comprei o ingresso, a sala já estava quase lotada, mas tinha uma poltroninha lá, solitária, esperando por mim em um ponto relativamente bom para se ver o filme.

Assim como eu, muita gente também estava de rosa, e ainda que a maioria fosse mulher, havia meninos e marmanjos lá, prontos para ver um “filme de boneca”, depois de tantos anos apenas com “filme de boneco” ocupando espaços de sucesso.

Falo da minha perspectiva pessoal: há muito tempo eu não via salas tão cheias e tanto “bafafá” em cima de um filme. Desde que entrei mascarado para ver “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”, meu primeiro filme após 18 meses sem pisar nos cinemas, eu não me lembro de um filme levar tanta gente à sala escura. Sim, Avatar levou muitas pessoas, já tivemos grandes estreias, mas nunca com tanta gente ouriçada, e não de forma a criar esse filme-evento. A última vez foi antes da pandemia.

Fiquei feliz em viver aquela pequena catarse que somente a coletividade da sala de cinema nos permite. Imagino que o sentimento tenha sido ainda mais forte nas mulheres, já que o discurso do filme de Greta Gerwig fala delas e com elas.

Seis dias depois, quarta-feira, pude assistir ao novo filme de Christopher Nolan. Não odeio o cineasta como tantos o fazem, embora não o ame como tantos outros, mas estava interessado em ver Oppenheimer… e a sala também estava lotada! Tudo bem, vale o destaque: era sala VIP. Mesmo assim, havia apenas duas opções de poltrona no site algumas horas antes do início da sessão.

Barbie foi a segunda maior estreia dos cinemas no Brasil. Juntos, os dois filmes fizeram o melhor fim de semana do ano em arrecadação nos cinemas. Nos Estados Unidos, os dois filmes, juntos, fizeram o quarto fim de semana mais lucrativo da história, e o primeiro do período pós-covid. Enquanto escrevo este texto, segundo o Box Office Mojo, Barbie está prestes a passar os US$ 500 milhões em bilheteria mundial, e Oppenheimer já passa dos US$ 230 milhões.

Ainda que essa arrecadação entristeça Tom Cruise e seu recente “Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte Um” (engolido pela estreia dupla uma semana depois de seu lançamento, sendo este um filme bem mais caro), o fato é que o lançamento duplo já apelidado de “Barbenheimer” alavancou as duas bilheterias.

O jornalista Rodrigo Salem destacou isso em sua newsletter: “Nada pode ter sucesso sem um arqui-inimigo derrotado”, diz ele, em uma analogia com a comoção das competições esportivas e até mesmo a polarização política. Mais do que ter um filme para ver, as pessoas se excitam em ver seu filme “ganhar do oponente”.

Eu arriscaria dizer que a Universal Pictures fez certo em estrear Oppenheimer junto com Barbie. Acredito que o filme cinzento não teria o mesmo impacto sem essa dicotomia com o filme rosa. E imagino que nem mesmo o egocentrismo inflado de Christopher Nolan poderia fazê-lo acreditar que seu filme teria mais bilheteria que o live-action do brinquedo mais lucrativo da Mattel.

Mas eu comecei este artigo falando de algo que vai além do dinheiro: a experiência coletiva. Vestir rosa (ou usar capas, sobretudos, fantasias, varinhas…) faz parte da experiência coletiva do cinema. Assistimos a um evento com pessoas desconhecidas que riem e se emocionam ao mesmo tempo. Vibramos ao ver um bom filme, e discutimos suas temáticas com os amigos e pelas redes sociais.

Sabemos que todo mundo vê filmes pelos canais de streaming. Os hábitos mudaram e continuam mudando.

Mas episódios como este mostram como a sala de cinema continua sendo esse espaço coletivo inigualável e incomparável.

O cinema segue mais vivo do que nunca. Que bom!

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