"The Idol" acumula erros, constrangimentos e vergonha alheia
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No primeiro olhar, The Idol acumula erros, constrangimentos e vergonha alheia

A nova estreia da HBO neste domingo, comandada pelo queridíssimo por alguns e controverso para outros, Sam Levinson, chegou com recepção péssima além de apresentar uma história já contada e aparentemente superficial. Em The Idol, Levinson parece repetir a mesma fórmula e ideia de Euphoria, ou seja, um grupo de jovens com traumas de diversas matizes, problemas com os pais, uso de drogas, sexo e violência, só que num ambiente musical. 

Não precisa saber muito mais que isso, pois The Idol acumula erros demais para um piloto – primeiro episódio de uma série. Antes da estreia, o assunto era o excesso de nudez, cenas que lembravam um pornô barato e a romantização de abusos. E sim, é isso mesmo, mas não entendo o espanto, pois Euphoria é exatamente a mesma coisa, e por incrível que pareça, não penso que seja esse o grande problema da nova produção da HBO.

Nudez, sexo e até romantização de abusos não é um problema se tratado com responsabilidade. Toda história, por mais dura e violenta que seja, pode ser contada, porém, não é isso que Sam Levinson faz. Não há sensibilidade, muito menos responsabilidade ao comunicar essa história. O roteiro evidencia isso em falas tão genéricas e superficiais que parecem ter sido escritas com tanta má vontade e desleixo, que se tem algo que não seria considerado é sensibilidade e responsabilidade ao tratar desses temas.

Nudez, cenas de sexo e afins, desde que seja com o consentimento das pessoas envolvidas, não me parece ser um problemão. Podemos questionar qual o propósito narrativo dessas cenas, e em The Idol não há nenhum. Seios e mais seios da protagonista Jocelyn ou Joss, interpretada por Lily-Rose Depp estão visíveis a cada 5 minutos. E se pelo menos houvesse esforço para criar ou demonstrar sensualidade e liberdade, até faria sentido, mas não é o caso, está longe disso e ainda dá nó no estômago de tanto constrangimento.

Quando Joss finalmente encontra o “vilão” Tedros, papel do The Weeknd ou Abel, é um festival de vergonha alheia. Não sei se Abel é mal ator ou se roteiro e direção não disseram e não escreveram melhor o personagem, ou as duas coisas. E por falar em mal escrito, todos os diálogos que saem dos assessores de Joss são tão superficiais e caricatos que parecem ter sido escritos em 2013, quando ser trending topics do twitter era um problema.

Lily-Rose Depp até se esforça para dizer suas falas de maneira convincente, mas nem o esforço dela, que não é tanto, ajuda. Certo momento conversando com uma jornalista ela solta um “deus”, como se fosse algo filosófico, mas é brega. Tedros é apresentado como um vilão ameaçador e que oferece libertação a sofrida e traumatizada Joss, mas é ridiculamente cômico.

Ainda há flertes com uma possível ideia masoquista da personagem principal, rapidamente capturada por uma cena de masturbação e enforcamento, que se repete em outro contexto no final do episódio, só que mais constrangedor que a primeira. E talvez, nesse ponto, a série tenha algo a dizer sobre como dor e prazer podem caminhar juntas nesse meio artístico, o que daria mais estrutura à personagem principal.

Também nesse primeiro episódio, é possível pescar algumas participações especiais de artistas famosos entre os jovens, como por exemplo, a cantora Jennie do grupo de k-pop BlackPink e o cantor Troye Sivan, mas são participações tão pequenas e medíocres que não causam impacto. E parece que, pelas primeiras reações, a série tem conseguido chamar atenção desses jovens que ela tenta representar, e tal qual esses jovens da vida real, há muitas decisões erradas, discussões superficiais sobre assuntos importantes e glamourização do sofrimento.

O que gera estranhamento é que após grandes sucessos consecutivos, a HBO achou uma boa ideia colocar The Idol em seu horário nobre de domingo, logo após o aguardado, comentado e apoteótico final de Succession, reforçando que ideias erradas não partiram apenas da produção da série, mas da direção do canal a cabo famoso por sua excelência técnica na hora de contar histórias complexas. Particularmente torço para estar errado, mas perder uma hora aos domingos para acompanhar uma história que sua aposta inicial é mostrar à juventude de hoje que é “cool” romantizar e estilizar violências e abusos não parece valer a pena. Serão 6 episódios e há tempo de melhorar, mas também sei que existem séries melhores para assistir, e talvez The Idol não seja uma delas.

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