Crítica: Pânico VI
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Crítica: Pânico VI

Ficha Técnica – Pânico VI

Sinopse: Sam, Tara, Chad e Mindy, os quatro sobreviventes do massacre realizado pelo Ghostface, decidem deixar Woodsboro para trás em busca de um novo começo em Nova York. Mas não demora muito para eles se tornarem alvo de um novo serial killer.
Direção: Matt Bettinelli-Olpin & Tyler Gillett
Roteiro: James Vanderbilt & Guy Busick
Elenco: Melissa Barrera, Mason Gooding, Jenna Ortega, Jasmin Savoy Brown, Courteney Cox, Dermot Mulroney

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No fraco Pânico (2022), os diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (dupla que se auto intitula “Radio Silence”) e os roteiristas James Vanderbilt & Guy Busick não conseguiram capturar a essência da franquia criada pelo mestre Wes Craven e o escritor Kevin Williamson. Entre referências para o fã e um mal entendimento dos comentários metalinguísticos que a quadrilogia Pânico fazia, o quinto filme possuía o mal de olhar excessivamente para si mesmo com uma visão deturpada de seu legado – abordado de maneira desengonçada.

No constante apontamento para as engrenagens de sua configuração em tom de autocrítica diante da franquia que estava inserido apenas para replicá-los, eternamente na defensiva, ficávamos com uma obra que nunca se permitia divertir-se consigo mesma, dosagem feita com excelência nos ótimos quatro filmes originais.

O grupo de diretores e roteiristas retorna neste Pânico VI, dessa vez reconhecendo diretamente o que veio antes na volta do numeral que aponta o sexto filme. É a primeira continuação da série que não possui a protagonista dos filmes originais, Sidney Prescott, ocorrência que se dá devido a desentendimentos extra-filme entre sua intérprete, Neve Campbell, e o estúdio. O fato de Pânico 6 nunca comentar essa ausência num tom meta engraçadinho representa um avanço, indicando que desta vez o roteiro de Vanderbilt e Busick se compromete com uma narrativa mais singela em relação a como trata seus protagonistas, ao invés dos comentários de gênero que fazia tão mal no longa anterior.

O investimento no desenvolvimento desses protagonistas se prova um acerto pois espelha o caminho dos originais: apesar dos comentários irônicos e uma consciência de gênero nos quais estavam inseridos, eles reservavam atenção para o drama daquelas figuras, desenvolvendo-os como âncoras emocionais. O filme anterior, dividido entre o núcleo original e novos personagens, não conseguia trazer esse peso. Em Pânico 6, com o desenvolvimento dos quatro personagens principais desde a última vez que os vimos – as irmãs Sam (Melissa Barrera) e Tara (Jenna Ortega); os irmãos Mindy (Jasmin Savoy Brown)e Chad (Mason Gooding) -, temos novos equivalentes a Sidney, Dewey e Gale, trio principal dos longas originais.

Essa abordagem se cimenta quando Pânico VI vai se revelando mais como um filme de tensão do que sobre a consumação dessa tensão. Ela precisa ser consumada em mortes para funcionar? A resposta é não. Desta forma, ao fazer com que nos importemos com os personagens através do seu desenvolvimento, e colocando-os em situações nas quais a morte não acontece, temos um filme mais eficaz de suspense, e o terror contido nele. Ao mesmo tempo, Pânico VI se beneficia de uma nova ambientação, trocando a fictícia Woodsboro, cidade pequena da Califórnia, por uma grande metrópole do mundo real – Nova York. A sensação de novidade vem também em pequenos momentos e elementos, como a sequência na qual o novo Ghostface utiliza uma calibre 12, arma de grande porte que causa uma imagem forte e estranha justamente pelo assassino nunca ter empunhado armas do tipo nos filmes anteriores, criando uma sensação imprevisível de perigo, numa imagem que é marcante pelo extremo violento que carrega consigo.

É mais proveitoso fazer a subversão do que apenas falar sobre ela. Enquanto o Pânico anterior verbalizava isso no diálogo, mas nunca a consumava de fato, o novo filme a faz através das ações, com uma sequência inicial – sempre a primeira vítima atendendo a ligação do assassino – que resulta numa pequena reviravolta dentro do filme.

No entanto, a má relação com o legado ainda existe em pequenas porções, particularmente no retorno de Kirby (Hayden Panettiere), personagem marcante do quarto filme da série. A presença da personagem surge como um fan service que nunca se justifica. O filme não aproveita suas novidades plenamente. A cidade de nova York representa um bem-vindo novo cenário, mas a cidade não é explorada tão bem quanto poderia, a ótima sequência no famoso metrô de Nova York sendo o melhor chamariz. Até mesmo o slasher Jason foi melhor explorado quando fez sua visita a grande metrópole, em Sexta-feira 13 parte 8 – Jason ataca nova York, filme que se passava durante a maior parte num barco. O longa do assassino é homenageado em determinada cena de Pânico VI.

A melhor qualidade do novo capítulo de Ghostface é que o filme agora possui um sentido para existir. Se citei em meu texto de Pânico (2022) sobre como Sidney, Dewey e Gale eram as âncoras emocionais da franquia, agora a nova geração possui um núcleo equivalente. Provado que não sabem trabalhar com a metalinguagem e carregar o peso do legado, os realizadores de Pânico VI podem reservar aqui seus esforços para o elemento que restou – o comprometimento com a contação de sua história, desta vez sem as muitas firulas presentes no quinto filme.

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