Crítica: Até a Morte: Sobreviver é a Melhor Vingança
Crítica: Até a Morte: Sobreviver é a Melhor Vingança
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Crítica: Até a Morte: Sobreviver é a Melhor Vingança

Até a Morte: Sobreviver é a Melhor Vingança

Direção: S.K. Dale
Roteiro: Jason Carvey
Elenco: Megan Fox, Eoin Macken, Callan Mulvey, Jack Roth, Aml Ameen
Sinopse: Em “Até a Morte: Sobreviver é a Melhor Vingança”, Emma (Megan Fox) está infeliz no casamento com seu marido frio e controlador, Mark, um advogado criminal. Depois de terminar seu caso com Tom, sócio da empresa do marido, Emma sai com Mark para comemorar o aniversário de casamento e a leva para uma casa isolada no lago que eles costumavam visitar no início de seu relacionamento. Na manhã seguinte, Emma acorda e se encontra algemada a Mark, morto. Forçada a arrastar o cadáver de Mark para todos os lugares, ela descobre que ele destruiu seu celular e removeu todos os objetos cortantes da casa e deixou uma mensagem para ela no carro deles. Ao ouvir a mensagem, seu falecido marido diz que ele sabia do caso extraconjugal que vivia. Ao ver outra pessoa se aproximando da casa, Emma então tem que lutar por sua vida contra essa pessoa que orquestrou tudo para matar ela e seu marido.

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O subestimado terror “Garota Infernal”, estrelado por Megan Fox e Amanda Seyfried, foi redescoberto nos últimos anos como uma espécie de jovem clássico “coming of queer” à frente de seu tempo, o que muito provavelmente ajudou no culto a persona de Fox, nunca uma atriz notável, mas perfeitamente alinhada com a proposta da obra de 2009 – dirigida por Karyn Kusama e escrita pela vencedora do oscar Diablo Cody – e sua idealização do “corpo de Jenifer” do título.

A volta de Fox como Scream Queen acontece no thriller de sobrevivência “Até A Morte: Sobreviver é a Melhor Vingança”. Fox interpreta Emma, mulher traumatizada que, após anos de um casamento abusivo, se encontra acorrentada ao corpo de seu marido (Eoin Macken) como parte de um elaborado plano de vingança. A premissa se torna instigante por conta da consciência que o diretor S.K. Dale parece possuir das possibilidades que a exploração do cinema de gênero carrega: a superficialidade na abordagem da relação de Emma com seu marido e a falta de aprofundamento na personalidade desses personagens, traz o holofote para a dinâmica do que acontece no agora. Como se dão esses jogos de poder? Ao melhor estilo ‘thriller B sexual do SuperCine’, essa exploração ocorre no aniversário de casamento do casal, que se estende para a casa do sítio isolada, na pulsão sexual regada a velas e proclamações falsas de amor que exercitam esses jogos de poder, e agrega a “Até a Morte” a possibilidade de se despir da roupagem thriller “de grife” que talvez o aprofundamento mais verbal ou elaborado dos abusos traria, e permite que essa discussão transpareça através dos atos, com flashbacks surgindo rapidamente apenas para situar o contexto.

O problema é que, para que essa proposta funcione, Megan Fox precisa, também, se despir dessa grife, dessa “pose”. Thrillers de sobrevivência, como aqueles em que “Até a Morte” se baseia, encontram a consumação plena de seus temas de forma bem literal, na frontalidade do que se vê impresso visualmente – no caso, o sofrimento imposto sobre o corpo da personagem e das pequenas catarses de causa e efeito que vêm a cada vitória pequena na busca de Emma para escapar dessa situação (como acontece em A Jaula, com Chay Suede). A corrupção desse corpo – aqui, a bela Megan Fox – como forma de libertação não acontece aqui porque Fox está preocupada demais com sua imagem em cena, e por isso temos apenas o contexto que não se traduz em imagem.

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O diretor tenta resolver elevando a tensão do roteiro de Jason Carvey em todos os outros elementos técnicos, como na fotografia de Jamie Cairney, e essas tentativas são eficazes isoladamente, mas não alcançam plenitude porque cada arranhão ou ferimento imposto em Fox se traduz numa maquiagem amena, numa performance esforçada por parte de Fox, mas que não se permite ser sujada, corrompida, em seu véu de maquiagem embelezadora sempre no lugar.

Ajuda que mais pra frente o filme coloque Emma numa situação de gato e rato, e perseguições literais na qual essa dinâmica de poder, entre masculino e feminino, pode finalmente atingir fruição. E é fundamental, na proposta do que se extrai tematicamente do literal, que seja um fantasma do passado voltando personificado para que as contas sejam acertadas. Sem ela, o filme que “Até A Morte” que ser não conseguiria de fato existir. Trocando uma resolução mais íntima e psicológica de um Jogo Perigoso (filme de 2017 baseada na obra de Stephen King e que possui premissa parecida – e intenções justamente de um suspense de grife por parte de Mike Flanagan), por exemplo, por esse filme de perseguição, existe profundidade até para os bandidos, elevada pela competência dos subestimados Callan Mulvey e Jack Roth (filho de Tim Roth).

É uma pena que Megan Fox, aqui fraca, esteja tão apegada à sua imagem para que os sacrifícios que sua personagem experiencia dialoguem de forma mais direta com as intenções do próprio filme.

  • Nota
2.5

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