Oscar Anuncia Mudanças Para Aumentar a Diversidade dos Indicados
Academia anuncia novas mudanças para que até 2024 haja mais inclusão no Oscar.
Em uma reunião, no dia 8 de setembro, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, estabeleceu algumas regras para aumentar a representatividade no Oscar. Logo após o anúncio, uma enxurrada de críticas inundaram as redes sociais, mas ao mesmo tempo essa decisão foi celebrada por tantos outros. Mas antes de falarmos de polêmica, e me posicionar sobre isso, vamos entender, como dizem por aí o “babado”! Brincadeiras a partes para dar opinião é preciso entender o que há por trás disso e para isso é necessário voltar alguns anos atrás.
2016 e o #OscarsSoWhite
Na verdade a polêmica começou em 2015. Um ano após o Oscar ser bem representativo em suas indicações e premiações, o Oscar 2015 retrocedeu. Entre os indicados nas categorias de atuação não tivemos nenhum negro, latino ou asiático, entre os diretores nenhuma mulher ou negro, e isso justamente no ano de Selma, que poderia facilmente ter emplacado no mínimo duas outras indicações Direção para Ava DuAvernay e Melhor Ator para David Oyelowo, o que iria garantir maior diversidade na premiação.
Mas a polêmica ocorreu mesmo ano seguinte. Em 2016, quando os indicados foram apresentados, apenas brancos foram indicados. Duvida? Vejam a foto do almoço do Oscar daquele ano.
Essa situação, incômoda e até indigesta, causou um grande mal estar em Hollywood. Principalmente porque Sylvester Stallone foi indicado ao Melhor Ator Coadjuvante por Creed, mas o protagonista, Michael B. Jordan, não. Com isso, a #OscarsSoWhite se espalhou pelas redes sociais. Vários astros, incluindo Will Smith e sua esposa Jada Pinket, Idris Elba e Spike Lee anunciaram um boicote a cerimônia. O movimento nas redes sociais e a repercussão negativa em Hollywood, fez com que a Academia anunciasse mudanças no Oscar a partir de então.
A primeira atitude foi aumentar a diversidade dos votantes. Foram mandados convites para centenas de novos membros, na sua maioria para mulheres e para, como a Academia descreve, “membros que representam diversidade”, a saber negros, asiáticos, latinos, trans, indígenas, etc. Essa, iniciativa chamada A2020, teve “resultado” nos anos seguintes.
Em 2017, o ano de Moonlight, o número de negros indicados foi um dos maiores até então, mas a diversidade de gênero ainda deixava a desejar. Em 2018, as coisas melhoram um pouco: houve diversidade de raça e gênero. Em 2019, as coisas continuaram melhorando, com a indicação e vitória de Pantera Negra e Infiltrado da Klan, o Oscar bateu recorde entre indicados e vencedores negros e latinos. Mas a diversidade de gênero estava aquém do ideal. Este ano, após um Oscar teve uma diversidade baixa com apenas 1 atriz negra indicada, e nenhuma mulher e/ou negros entre os indicados a Melhor Diretor. Embora Parasita tenha sido o grande vencedor da noite, o que trouxe uma certa diversidade a cerimônia, ainda sim ficou bem aquém do ideal. Quando falo aquém do ideal, falo isso não porque acho que deveriam enfiar ali qualquer um, mas sim porque haveria muitos profissionais que poderiam ter sido indicados aumentando a diversidade. Tome o exemplo do ano passado, Parasita poderia muito bem ter sido indicado em alguma categoria de atuação, Greta Gerwig poderia ter sido indicada na categoria de Direção por Adoráveis Mulheres, The Farewell, que tem um elenco todo asiático que poderia ter sido indicado nas categorias de atuação, bem como na categoria de direção. Ou seja, poderia haver muito mais diversidade. Inclusive, o Oscar 2020 foi criticado por falta de diversidade.
Com todo esse histórico, a Academia se reuniu e estabeleceu novas regras para aumentar a diversidade e representatividade no Oscar. Foi criado então o Academy Aperture 2025, uma série de “regras” a ser seguidas para que os filmes possam ser indicados ao Oscar de Melhor Filme.
Academy Aperture 2025
Com o lema, “Broadening the lens through which we recognize excellence” (Ampliando as lentes pelas quais reconhecemos a excelência), o projeto tem por objetivo como diz o site oficial é “promover o diálogo e desafiar nossa história para criar uma comunidade mais justa e inclusiva”. Ou seja, o objetivo desse projeto é promover uma equidade entre os indicados e os premiados no Oscar, promovendo assim uma maior diversidade entre os indicados e premiados. Usando como modelo o Padrão de Diversidade do BFI, utilizado em algumas categorias do Bafta, a Academia se reuniu e desenvolveu o seu próprio padrão com base nas suas necessidades e com a ajuda do PGA (o Sindicato dos Produtores e Hollywood).
Vamos então ao que foi decidido?
O Padrão de Inclusão da Academia, estabeleceu quatro pilares para que os filmes sigam para que ele possa ser indicado na categoria de Melhor Filme. Não os quatro ao mesmo tempo, mas pelo menos dois desses pilares devem ser seguidos, e dentro desses pilares existem opções de como ele pode ser utilizado. Esses pilares, só serão considerados para tornar um filme elegível ou não, a partir do Oscar 2024. Ou seja, a indústria terá um pouco mais de dois anos para se adaptar. Confira abaixo as novas regras:
PADRÃO A: REPRESENTAÇÃO NA TELA, TEMAS E NARRATIVAS
Para atingir o Padrão A, o filme deve atender a UM dos seguintes critérios:
A1. Atores principais ou coadjuvantes importantes
Pelo menos um dos atores principais ou coadjuvantes significativos é de um grupo racial ou étnico sub-representado.
• Asiático
• Hispânico / latino-americano
• Negro / Afro-americano
• Indígena / Nativo americano / Nativo do Alasca
• Oriente Médio / Norte da África
• Havaiano nativo ou outro insular do Pacífico
• Outra raça ou etnia sub-representada
A2. Elenco de conjunto geral
Pelo menos 30% de todos os atores em papéis secundários e mais secundários são de pelo menos dois dos seguintes grupos sub-representados:
• Mulheres
• Grupo racial ou étnico
• LGBTQ +
• Pessoas com deficiências cognitivas ou físicas, ou surdos ou com deficiência auditiva
A3. Enredo principal / assunto
O enredo principal, tema ou narrativa do filme é centrado em um grupo sub-representado.
• Mulheres
• Grupo racial ou étnico
• LGBTQ +
• Pessoas com deficiências cognitivas ou físicas, ou surdas ou com deficiência auditiva
PADRÃO B: LIDERANÇA CRIATIVA E EQUIPE DE PROJETO
Para atingir o Padrão B, o filme deve atender a UM dos critérios abaixo:
B1. Liderança criativa e chefes de departamento
Pelo menos duas das seguintes posições de liderança criativa e chefes de departamento – diretor de elenco, diretor de fotografia, compositor, figurinista, diretor, editor, cabeleireiro, maquiador, produtor, designer de produção, decorador de cenário, som, supervisor de efeitos visuais, escritores – pertencem aos seguintes grupos sub-representados:
• Mulheres
• Grupo racial ou étnico
• LGBTQ +
• Pessoas com deficiências cognitivas ou físicas, ou surdos ou com deficiência auditiva
Pelo menos uma dessas posições devem pertencer ao grupo racial ou étnico subrepresentados seguinte:
• Asiático
• Hispânico / Latinx
• Preto / Africano americano
• Indígena nativo americano / nativos do Alasca
• Oriente Médio / Norte Africano
• Nativo do Havaí ou outra Ilha do Pacífico
• Outra raça ou etnia sub-representada
B2. Outras funções-chave
Pelo menos seis outros cargos de equipe / equipe e técnicos (excluindo assistentes de produção) são de um grupo racial ou étnico sub-representado. Essas posições incluem, mas não estão limitadas a Assistente de Direção, Gaffer, Supervisor de Script, etc.
B3. Composição geral da equipe
Pelo menos 30% da equipe do filme é dos seguintes grupos sub-representados:
• Mulheres
• Grupo racial ou étnico
• LGBTQ +
• Pessoas com deficiências cognitivas ou físicas, ou surdas ou com deficiência auditiva
PADRÃO C: ACESSO E OPORTUNIDADES DA INDÚSTRIA
Para atingir o Padrão C, o filme deve atender aos AMBOS os critérios abaixo:
C1. Oportunidades de aprendizagem e estágio remunerado
A empresa de distribuição ou financiamento do filme pagou aprendizes ou estagiários que são dos seguintes grupos sub-representados e satisfazem os critérios abaixo:
• Mulheres
• Grupo racial ou étnico
• LGBTQ +
• Pessoas com deficiência cognitiva ou física, ou surdos ou com deficiência auditiva
Os grandes estúdios / distribuidores são obrigados a ter aprendizes/ estagiários remunerados e contínuos, incluindo grupos sub-representados (também deve incluir grupos raciais ou étnicos) na maioria dos seguintes departamentos: produção / desenvolvimento, produção física, pós-produção, música, efeitos visuais , aquisições, negócios, distribuição, marketing e publicidade.
Os estúdios / distribuidores independentes devem ter um mínimo de dois aprendizes / estagiários dos grupos sub-representados acima (pelo menos um de um grupo racial ou étnico sub-representado) em pelo menos um dos seguintes departamentos: produção / desenvolvimento, produção física , pós-produção, música, VFX, aquisições, negócios, distribuição, marketing e publicidade.
C2. Oportunidades de treinamento e desenvolvimento de habilidades (equipe)
A empresa de produção, distribuição e / ou financiamento do filme oferece treinamento e / ou oportunidades de trabalho para o desenvolvimento de habilidades abaixo da linha para pessoas dos seguintes grupos sub-representados:
• Mulheres
• Grupo racial ou étnico
• LGBTQ +
• Pessoas com deficiências cognitivas ou físicas, ou surdas ou com deficiência auditiva
PADRÃO D: DESENVOLVIMENTO DE PÚBLICO
Para atingir o Padrão D, o filme deve atender ao critério abaixo:
D1. Representação em marketing, publicidade e distribuição
O estúdio e / ou empresa de cinema tem vários executivos seniores internos dentre os seguintes grupos sub-representados (deve incluir indivíduos de grupos raciais ou étnicos sub-representados) em suas equipes de marketing, publicidade e / ou distribuição.
• Mulheres
• Grupo racial ou étnico
- Asiática
- Hispânico / latino
- Negro / afro-americano
- Indígena / Nativa americana / Nativa do Alasca
- Oriente Médio / Norte da África
- Havaiano nativo ou outro ilhéu do Pacífico
- Outra raça ou etnia sub-representada
• LGBTQ +
• Pessoas com deficiência cognitiva ou física, ou surdos ou com deficiência auditiva
Sobre esses novos padrões, ou pilares, para um filme ser elegível para o Oscar de Melhor filme, o presidente da Academia, David Rubin e CEO da Academia, Dawn Hudson disseram:
A abertura deve ser ampliada para refletir nossa população global diversificada, tanto na criação de filmes quanto no público que se conecta a eles. A Academia está empenhada em desempenhar um papel vital em ajudar a tornar isso uma realidade. Acreditamos que esses padrões de inclusão serão um catalisador para uma mudança essencial e duradoura em nosso setor
David Rubin, Presidente da Academia e Dawn Hudson, CEO da Academia
Vale ressaltar que para o Oscar 2022 e o Oscar 2023, será necessário o envio de um formulário confidencial dos Padrões de Inclusão da Academia para consideração de Melhor Filme, no entanto, atingir os limites de inclusão não será necessário para elegibilidade na categoria de Melhor Filme. Já para o Oscar 2024 , um filme deve atender a DOIS de QUATRO dos padrões citados acima.
A Repercussão da Notícia
Logo após o anúncio das novas regras de elegibilidade para o Oscar de Melhor Filme, uma enxurrada de críticas invadiram as redes sociais. E houve de tudo, tudo mesmo! Teve aqueles que disseram que essas regras são uma ditadura para beneficiar apenas as minorias. Outros disseram que o Oscar vai acabar porque o que vai valer não é a qualidade, mas sim a diversidade. Outros acharam injusto essas regras porque vai prejudicar a qualidade dos filmes. E ainda outros, acreditem se quiser, disseram que essas regras vão prejudicar o processo criativo dos cineastas.
Mas claro que houve aqueles que apoiaram a atitude da Academia. Alguns destacaram que esse é o caminho para haver uma maior representatividade, não o melhor mas um caminho. Já outros destacaram que isso vai aumentar a oportunidade para quem não tem. E outros destacaram que todos irão se adaptar as novas regras, como já ocorreu em outras ocasiões.
Mas e aí? Será que essas regras são realmente tão ruins assim? Será que vai acabar com Oscar realmente? Será o fim da criatividade em Hollywood? Vamos aos fatos!
Em 92 edições do Oscar apenas uma mulher, Kathryn Bigelow, ganhou o prêmio de Melhor Direção e apenas outras 4 foram indicadas, e nunca uma mulher negra foi indicada. Apenas uma vez, uma mulher foi indicada ao Oscar de Melhor Fotografia, que foi Rachel Morrison pelo filme Mudbound em 2018.
Em toda a história do Oscar apenas uma vez uma mulher negra, Halle Berry, foi ganhadora do Oscar de Melhor atriz e apenas oito mulheres negras foram vencedoras na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, e só pra constar 6 dessas foram ganhadoras de 2007 pra cá. Entre os homens apenas quatro atores ganharam o prêmio de Melhor Ator e cinco o de Melhor Ator Coadjuvante, sendo que um deles, Mahershala Ali, ganhou duas vezes. Entre os diretores apenas cinco foram indicados e nenhum saiu vitorioso, e pasmem o primeiro indicado foi em 1991, no caso John Singleton, por Os Donos da Rua. Na categoria de roteiro apenas Jordan Peele por Corra! ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original, já na categoria de Roteiro Adaptado, apenas em quatro ocasiões tivemos vencedores negros e o primeiro deles ganhou apenas em 2010. Já no Oscar de Melhor Filme, apenas Steve McQueen por 12 Anos de Escravidão saiu vencedor. Na verdade em 92 edições, com 3.100 estatuetas distribuídas, apenas 44 vezes o Oscar foi para um negro.
Entre os asiáticos, apenas duas vezes tivemos dois vencedores nas categorias de atuação, o cambojano Haing S. Ngor, como ator coadjuvante pelo filme Os Gritos do Silêncio, e a japonesa naturalizada americana Miyoshi Umeki, como atriz coadjuvante pelo filme Sayonara. E apenas 2 diretores asiáticos saíram vencedores. Entre os latinos, apenas 3 ganharam o Oscar de Melhor Diretor. Nas categorias de atuação apenas 3 latinos foram vencedores, Rita Moreno como Atriz Coadjuvante, por Amor Sublime Amor, José Ferrer como Ator, por Cyrano de Bergerac e Benício del Toro por Traffic.
Ou seja, diversidade no Oscar é algo que falta e muito. E não adianta dizer que não existem opções, porque existe sim. Existe muita gente boa escondida por aí. Mas será que criar regras é a solução? Será que isso não é uma forma de “ditadura”? Criar essas regras não vai diminuir a qualidade dos filmes indicados? Agora é hora de eu dar minha opinião!
Opinião
A foto acima ficou famosa no Oscar 2014. Naquele ano tivemos alguns avanços no quesito diversidade. Lupita Nyong’o ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, John Ridley ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e Steve McQueen ganhou o Oscar de Melhor Filme, ou seja, três negros saíram premiados algo inédito até então. Mas não é por isso que essa foto está aqui. Ela está porque essa foto reflete bem a situação da indústria do cinema norte americano. Entre os 12 presentes na foto, temos apenas 2 negros e 2 LGBTQ+. O resto se resume a homens héteros brancos e mulheres héteros brancas. Ou seja, diversidade praticamente nula.
Então qual é minha opinião sobre isso? Conforme comentei em um vídeo no Youtube, eu admiro muito essa iniciativa da Academia, mas acho triste ver que para haver diversidade é necessário criar regras, ou cotas, como alguns têm dito, para os indicados ao Oscar de Melhor Filme. Mas infelizmente no mundo atual essa é o único caminho. Mas será que isso significa que existe uma ditadura para as minorias? Que agora os filmes indicados não terão de qualidade? Que o padrão para escolha será a diversidade e não a qualidade?
A resposta é simples: NÃO! Se essa regra fosse obrigatória para o próximo Oscar, até que poderíamos dizer que de certa forma sim, mas os estúdios e produtoras terão um pouco mais de 2 anos para se adaptar às novas regras. Ou seja, eles terão tempo para poder correr atrás da representatividade em suas produções. E será que isso significa que os cineastas não poderão mais fazer filmes como gostariam de fazer? Será que sua criatividade será prejudicada? Novamente: Não! Afinal essas regras valem para filmes que pretendem conseguir uma vaga entre os indicados ao Oscar de Melhor Filme. Isso significa que aqueles blockbusters de ação e explosão, e filmes e super herói continuarão a ser feitos da mesma forma. Se quiserem tentar uma vaga no Oscar de Melhor Filme, aí terão de se adaptar.
Entre os críticos dessas regras vi gente dizendo que filmes como 1917 nunca mais conseguiriam uma indicação ao Oscar. Mas será mesmo? Vejam o que diz o Academy Aperture 2025:
Para o 96º Oscar (2024) , um filme deve atender a DOIS de QUATRO dos seguintes padrões para ser considerado elegível:…
Ou seja, não é necessário mudar nada na do que é visto na tela, se você se enquadrar no padrão C e D, que tem a ver com a parte técnica e de marketing, seu filme pode ser indicado ao Oscar. Quer dizer, de certa forma, para o que vemos na tela grande, não mudará nada se houver diversidade e representatividade nos bastidores. E isso é muito bem vindo!
Queremos mais diretoras entre os indicados, queremos mais negros, asiáticos e latinos entre os indicados, queremos indígenas indicados, queremos diversidade de gênero entre os indicados, e com essa diversidade nos bastidores, isso vai ocorrer. E com essa representatividade nos bastidores, profissionais talentosos que antes não tinham oportunidade irão brilhar. Novos talentos irão surgir, e precisamos de renovação. Nada contra os grandes medalhões de Hollywood, mas o novo sempre é bem vindo! Um ar de modernidade sempre é bem vindo. Ou seja, se você é fã do filme protagonizado por homem branco hétero, eles ainda continuarão sendo feitos e até sendo indicados ao Oscar de Melhor Filme.
Mas a tendência é que isso venha a diminuir. Porque aumentando a diversidade nos bastidores, a diversidade na tela também irá aumentar. Mas será que isso diminuirá a qualidade dos filmes? Que dizer de filmes de guerra? Será que não veremos mais? Será que isso vai dificultar o processo criativo? Claro que não! Sobre os filmes de guerra, porque não usar um ator negro, ou indígena, ou asiático ao invés de ir para o clichê do homem branco salvador? E quem disse que foram só eles que são heróis de guerra? Basta uma busca no Google para ver que não. Quer um exemplo? Os filmes Destacamento Blood e Cartas de Iwo Jima são ambos protagonizados por negros e asiáticos respectivamente, e são de guerra.
E o processo criativo? Será afetado? De forma alguma! Na verdade basta usar ainda mais a criatividade! Porque não fazer um filme em que o protagonista é uma indígena lésbica, ou tem como protagonista um asiático trans? A verdade é que essas novas regras abrirão novas possibilidades, novos atores e atrizes aparecerão, e veremos na tela a diversidade tão necessária, sem nunca perder a qualidade e a criatividade. Quer um exemplo? Em Bacurau, o filme tem negros, homossexuais, trans, brancos, gringos, é uma miscigenação total, em um filme que é espetacular e com uma criatividade talvez nunca antes vista.
Mas que dizer da qualidade dos filmes? Bem, não conseguimos verificar a questão técnica de forma tão aprofundada, mas vamos analisar os vencedores na categoria, na década e 2010, lembrando que sempre levo que a década começou em 2010 e terminou em 2019. Nesse período dos 10 vencedores na questão de direção 1 foi dirigido por uma mulher, 2 foram dirigidos por latinos (e entre estes, um foi com uma personagem principal que é uma mulher muda e tem representatividade racial e LGBTQ+), 2 foram dirigidos por negros e protagonizados por negros, e um deles o tem o personagem principal gay. Dos 5 que sobraram, que foram dirigidos por homens brancos, 1 tem um negro com papel coadjuvante de grande importância na trama e o outro tem uma mulher latina com papel coadjuvante de grande importância na trama. Ou seja, de 10 filmes, 7 ainda poderiam ter sido indicados e até mesmo ganhar o Oscar. Mas e os 3 que “sobraram”? Bem, esses que “sobraram”, são os filmes ganhadores do Oscar mais questionados na década O Discurso do Rei, Argo e Spotlight, que poderiam ser indicados, e ganhar, caso entrassem em outros dois padrões.
A verdade é que, a princípio, essas novas regras não farão muita diferença, afinal os estúdios e produtores poderão utilizar os padrões C e D para fazer seus filmes e com isso a representatividade continuaria baixa, mas esse é um caminho: é um começo para uma indústria mais representativa e equitativa!
Conclusão
A conclusão que chego após essa longa análise é: a princípio pouca coisa vai mudar. Afinal as novas regras são flexíveis, possibilitando que os estúdios optem pelos padrões que se adaptam ao seus interesses. Mas a longo prazo, poderemos, sim, ver o resultado dessas novas regras. Principalmente porque, como disse o crítico de cinema Waldemar Dalenogare, do canal do Youtube Dalenogare Críticas, a tendência é que até 2030 a Academia passe a exigir que os filmes se encaixem em 3 dos 4 padrões (vídeo no fim do texto). Dessa forma eu acredito que a representatividade deve aumentar bastante. Ou seja, até 2030 pouca coisa deve mudar!
Esse vai ser um processo longo e gradativo. O impacto não será grande a princípio, mas a longo prazo veremos as mudanças que tanto queremos. O mundo mudou, e a indústria cinematográfica tem de acompanhar essa mudança. O ideal é que isso fosse de forma natural, mas já que não aconteceu, a solução para poder adaptar Hollywood as mudanças no mundo é essa, pode não ser o melhor caminho mas é um caminho, e aplaudo a Academia por essa atitude.
Mas quero ouvir você caro leitor! Quais suas opiniões sobre esse assunto? Comente abaixo e vamos abrir o diálogo, afinal esse é o caminho para nos entendermos!
Observação: Embora o Cinem(ação) apoie a diversidade e representatividadede na indústria, o texto acima corresponde única e exclusivamente as opiniões deste que vos escreve, e não te todos os membros e autores do site.