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Artigo

Buscando o sentido da arte

Buscando o sentido da arte, a fim de compreender o fascínio que o cinema nos provoca.

Creio ser necessário se repetir de modo que ressignifiquemos certos conceitos ao longo da vida. Me pego questionando o papel crucial que a arte cinematográfica desempenhou na minha vida, do tipo que demonstra em curtas palavras, entrelaçadas com artifícios diversos, que é possível coexistir na realidade e em um mundo inventado; mediando esse conflito eterno de crescer em meio a uma infinita quantidade de inseguranças.

Fui-me direcionando ao outro, usando esse veículo e buscando a meditação de um processo empático. Dadas as limitações da minha vida, pude viajar para os mais diversos lugares, vivenciar incontáveis eventos e confidenciar segredos. Senti mais do que vivi, refleti e reflito mais do que consegui exprimir emoções.

Cada palavra que escrevi sobre um filme, foi como falar de um pedaço esquecido que vive dentro de mim. Uma sentença, uma ameaça, vinda do desejo do processo contínuo de compartilhar olhares, estabelecer diálogos; a pretensão sempre fora criar uma harmonia para letras que saltam em uma velocidade absurda, como uma criança agitada, cientista por natureza, traduzindo suas curiosidades mais simples em intensos “por quês”.

Ainda pequenino, me apaixonei por obras mágicas, que deslocavam-me da normalidade, causando um excelente e ousado desconforto. Existe bravura no mais doce filme da Disney; existe amargura no mais delicado do Studio Ghibli. Abracei e fui abraçado por criaturas, dentre as quais impossibilitadas de abraçar por conta de suas mãos.

Cresci como um filho amado pela sala escura do cinema, rodeado de gente que não enxergava – pela mesma escuridão que me acolhia – ao passo que, mesmo diante desse isolamento, me sentia próximo de cada nova família que ouvia. Lembro-me de uma situação, assistindo uma animação da Pixar, que nos créditos finais uma menina com vestes simples começou a dançar alegremente enquanto ouvia a canção. Eu chorei de soluçar com tamanho milagre. Compreendi que assistir filmes é amar a vida.

Na adolescência me peguei fixado nessa condição, fui inclinado para a filosofia do encontro entre o audiovisual e a vida, a luz acendendo da sala de cinema me lembrou que não existe separação entre a tela e nós, no sentido espectadores, criando uma personagem conjunta chamada interpretação. Enquanto assisto, pertenço a; enquanto sinto, sou; toda vez que vejo, nasço.

Questionei tudo e me fiz, me desfiz; transei junto, descobri-me insano e nu; disposto a injetar a dose de realidade na veia, todas às vezes, longos segundos de adrenalina ou calmaria. Compreendo que parte de mim que grita, contrasta com a parte maior de Deus que sossega em Bergman.

Cinema não pode ser confundido com entretenimento; bem como o olhar sobre a obra não pode significar arrogância. Ao pensar e escrever sobre cinema avalio não a obra, mas quem sou. É a busca do sentido e lugar no mundo que faz nascer a arte. Cinema, tal como a arte, não deve ser confortável, para evoluir é preciso alcançar o incomodo.

Cinema é intensidade, é ver para espelhar-se diante ao mundo. Embriagar-se da carne, ante a ternura de tantas outras. O sentido é a procura por sensações e seus motivos. Com o tempo percebemos que somente o cinema poderia representar tamanha teia a fim de conduzir uma experiência à catarse. A ideia é o estado bruto, seu desenvolvimento é a técnica da dialética entre setores.

Quando assisto, sinto que sou; há um fragmento do meu coração em outros corações que pulsam desejo de se deixarem ir. Câmera subjetiva, câmera na mão, não interessa, o que move o senso é quem o assiste.

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