Entrevista: Renato Siqueira Diretor do Longa: ''Atração de Risco'' -
Cinema Nacional

Entrevista: Renato Siqueira Diretor do Longa: ”Atração de Risco”

Prepare-se para um interessante bate-papo com Renato Siqueira, um profissional que ostenta a bandeira e luta diariamente pelo cenário independente do país. Diretor, roteirista, produtor, montador, ator e especialista em efeitos especiais, também é professor de atuação no SENAC. 

Nascido em São Paulo nos anos 80, se formou em radialismo e teatro. Desde os seus 14 anos de idade, se prova um amante de cinema, dedicando a sua carreira em diferentes vertentes e acumulando mais de 30 obras ficcionais.

Além de diversas participações na TV, recebeu indicações em diversos festivais de cinema com o seu filme de estréia, no qual se tornou o primeiro longa-metragem de terror sobre possessões a ter lançamento mundial para 86 países via NETFLIX. A sua jornada com Diário de um Exorcista – ZERO se tornou inspiração para produtores nacionais e internacionais. 

Recebam agora o grande Renato Siqueira! Agradeço aqui o tempo cedido pelo cineasta. Seja bem-vindo ao espaço do Cinem(Ação).

Dito quem é o “Renato’’, nos apresente Atração de Risco e fale um pouco do que se trata o seu Longa.

Renato Siqueira: Trata-se de um thriller de suspense, recheado de segredos, mistérios e reviravoltas, com toques de terror psicológico que mistura estilo o “psicopata” com “stalker”. 

É um prazer saber que somos os primeiros a entrevistá-lo! E estamos aqui falando de um filme 100% independente ou que contou com alguma lei de incentivo?

Renato Siqueira: Eu sempre trabalhei com investimento privado, seja com o dinheiro do meu bolso, ou com empresas e parceiros que invistam no cinema, portanto, meus filmes são até agora 100% independentes. Eu não sou de forma alguma contra as leis audiovisuais, só acho que elas não funcionam como deveriam funcionar. Essas “leis” pregam em ajudar quem precisa, mas não é isso que acontece. Nós sabemos que essas “leis” só beneficiam uma classe, que eu a costumo chamar de “elite”. Essa “elite” monopoliza todo o dinheiro público designado para os projetos e também a publicidade da forma que deseja. Se o seu filme não tiver rostos conhecidos, ou um diretor contratado de certas “empresas”, então, o mercado se fecha para você. Não vou mentir, eu fui atrás de órgãos públicos para tentar ganhar algum incentivo, mas devido a burocracia no processo de seleção, captação e outros problemas, evitei novamente a recorrer a essa ilusão. Eu espero que tudo seja reformulado e as leis funcionem e beneficiem quem realmente precisa, que a repartição seja justa para todos.   

Entendo perfeitamente. Queria registrar aqui o meu agradecimento pela oportunidade de entrevistá-lo novamente, viu? Tive a honra de bater esse papo quando o Diário de um Exorcista – ZERO chegou no NETFLIX e já gostaria de perguntar: o cenário nacional melhorou ou piorou de lá pra cá? 

Renato Siqueira: Eu que trabalho focado no empreendedorismo, está muito melhor, pois acredito que o cinema está passando por um ciclo de mudanças que para alguns “chorões” isso não é bom. Para mim é extremamente maravilhoso, porque vejo um cinema nacional mais forte, com opções tanto na parte privada, quanto na pública. Uma se torna extensão da outra, trabalhando juntas, fortalecendo e dividindo os incentivos para arte e cultura. Pensa comigo, no atual momento de todas as mudanças no cenário cinematográfico brasileiro, com a escassez de conteúdos novos, as produtoras, distribuidoras e investidores no geral, ficam sem opções para ofertar conteúdos novos, e o que acontece? Nesse momento o investimento privado torna-se essencial, sem estar vinculado ou dependente de financiamentos públicos, ou seja, essas empresas investem em seus produtos ou abrem falência. As que trabalham sério, continuaram no mercado, porque não sobrevive somente do governo, e assim o mercado se recicla, ficando só a coisa boa, surgindo uma nova leva de investidores, que vão investir sem medo no cinema, porque terão um bom retorno financeiro. E essa maravilha já está acontecendo bem diante dos nossos olhos. 

Se me permite, quanto tempo demorou para vocês terem alcançado o ápice do projeto, desde a pré-produção até a pós?

Renato Siqueira: Foram 2 meses de gravação e 10 meses de pós-produção. Foi uma longa jornada, aproximadamente 1 ano de noites em claro, longe da minha família. Só eu, Deus e a minha ilha de edição. Porque para mim, se não tiver sacrifício, não á ganho, não há vitória. 

https://www.youtube.com/watch?v=GA7qq0qbqwI

Eu citei o Diário de um Exorcista – ZERO porque foi um grande marco para o cinema independente, mas como você disse, Atração de Risco não tem demônios e nem possessões. Trocaram os espíritos por um belo suspense. O que te fez mudar a pegada do horror macabro e explorar o thriller psicológico ?

Renato Siqueira: Eu sempre gosto de dizer que eu não sou o cara do terror, sou eclético. Gosto de mudar e me adaptar, mas não posso negar que tenho muito apreço pelo terror e pelo suspense. Não tenho uma regra, de repente posso escrever um drama, uma comédia, sei lá, depende do meu estado de espírito. 

E essa diversidade em suas obras, essa busca por mostrar domínio cinematográfico, você acredita que vai circundar todos os subgêneros do terror ou acabar ultrapassando esses limites e talvez um dia produzir um romance ou um material de ação desenfreada?

Renato Siqueira:  Como disse, sou bastante eclético, depende do meu estado de espírito, mas vou revelar um segredo. Meu gênero favorito é o suspense e sabe porque? Porque dentro do espaço fílmico desse gênero, eu consigo transmitir com mais facilidade a sensação de pavor que o nosso cérebro desencadeia quando estamos com medo. Sabe aquele frio na espinha que nos arrepia? É, eu gosto de mexer com isso, acho fascinante… E porque eu estou dizendo isso? Primeiro, porque essa é a minha forma de trabalhar, antes de começar a roteirizar uma história, eu me insiro nela, criando uma metalinguagem direta ou indireta. Direta é quando quero que o público saiba que muita coisa que aconteceu no filme, realmente aconteceu em “partes”, na minha vida. Indireta é quando não quero que isso seja perceptível ao público, mas as sensações, os medos e pânicos que vivi nessa vida, sempre estarão lá, presentes nas minhas obras. Essa é minha assinatura. Transformar meus pesadelos e acontecimentos da minha vida, em material orgânico para sétima arte. Dessa forma, eu me sinto livre para me entregar de corpo e alma ao trabalho. Eu sempre digo isso, quer me conhecer? Assista e decifre meus filmes. 

Renato, você sempre atuou em seus filmes? De onde surgiu essa vontade? Pois hoje eu sou roteirista, louco pra dirigir, mas não quero atuar de jeito nenhum. Nos conte um pouco sobre essa trajetória.

Renato Siqueira: Essa história de atuar é complicado, daria uma entrevista bem longa (risos). Eu sempre tive vontade de atuar para o cinema, e como fazia filmes desde os 14 anos e atuava neles. Gostei tanto que quis estudar. Entrei nas artes dramáticas, comecei teatro, estudei, ganhei alguns prêmios e foi isso. Quando fui para publicidade e cinema, eu percebi que não sabia nada, porque é uma linguagem totalmente diferente. Eu parei e pensei “pô, o que os profissionais em um set de filmagem querem do ator?”. Para que eu pudesse ter o conforto de estar em cena. Aí eu comecei estudar tudo. Mas você sabe que quando sai de qualquer faculdade você sabe um pouco disso, um pouco daquilo, mas isso eu não queria. Como eu estava naquela base de conquistar uma atuação verdadeira diante da câmera, de me sentir confortável, eu comecei a estudar mesmo. Me formei como câmera. Como diretor de fotografia. Como diretor artístico. Montador. Efeitos visuais e quando vi que tinha um grande currículo, fui trabalhar em novelas. Mas eu encontrava grandes erros, via câmeras quebrando o eixo. Via várias coisas erradas de profissionais. E me veio o estalo, “vou fazer os meus próprios filmes”. E comecei e não parei mais, porque me apaixonei e tinha toda uma bagagem para isso. Não precisava de nenhum profissional para fazer, porque eu fazia tudo.

Vejo que a produção de Atração de Risco está em um nível ainda mais alto e conta com grandes nomes no casting. Você diria que o Diário de um Exorcista – ZERO abriu muitas portas para você?

Renato Siqueira: Sem dúvidas as portas se abriram. Após o lançamento do “Diário de um Exorcista”, eu e meu parceiro, meu braço direito, Beto Perocini, ganhamos uma certa confiança no mercado. Sempre fazendo propostas de produzir com pouco, mas fazendo com qualidade. Com essa visão, estamos avançando e recebendo outras propostas para produzir longas nesse mesmo formato. Eu sempre digo, se me derem uma verba de 5 milhões para produzir um longa, eu faço com esse dinheiro 6 longas com extrema qualidade. Uma proposta bastante atrativa para quem quer investir em cinema, não acha? A partir dessa premissa, as chances de um investidor ter retorno é infinitamente maior. 

Ô se é! É um jeito interessante de pensar e propor trabalho. Aliás, eu gosto muito do casting, parece que você escolheu a dedo esse pessoal. Como foi trabalhar com tamanha equipe?

Renato Siqueira: Quando abrimos os testes para o “Atração de Risco” não sabíamos o que nos esperava. A seleção foi anunciada em duas etapas, a primeira o ator/atriz tinha que enviar uma cena, com um texto que a produção estava disponibilizando. A partir daí escolheríamos os candidatos para o teste presencial. Até aí tudo bem. No segundo dia da primeira etapa ficamos assustados, já tínhamos recebidos 1300 vídeos, e até o fim da data estipulada recebemos um total de 8 mil vídeos. Meu irmão, é vídeo teste que não acaba mais. Tivemos que redobrar nossos esforços e passar algumas noites em claro para escolher minuciosamente os atores para a segunda etapa. De 8 mil vídeos, selecionamos 40 pessoas para o teste presencial. Por isso posso dizer, meu elenco eu selecionei a dedo com muito amor. E posso me gabar também, pois meu faro de diretor está a cada dia mais apurado. 

Oito mil?! Que demais! Confesso aos leitores que já assisti o filme e é coisa de louco. Recomendo! Mas queria frisar que houve uma grata evolução entre seus longas, isso é graças a equipe? Bugdet? A pós está incrível!

Renato Siqueira: Como nesse filme tivemos uma pequena verba privada, eu e o Betão conseguimos terminar esse material todo em um ano. Melhoramos muito, principalmente na equipe, pudemos contar com parceiros excelentes. Agora o próximo passo é investir mais no processo de pós produção, porque na parte de montagem, edição, efeitos visuais e Sound designer, ficou igualzinho ao “Diário de um Exorcista”, ou seja, tivemos que arcar com tudo, tudo mesmo. Porque estou dizendo isso, porque estamos planejando produzir dois a três filmes por ano.

Que trabalheira! Nos conte mais sobre essa parceria com Beto Perocini, de onde surgiu essa amizade? Cedo demais para perguntar se já planejam mais coisas juntos?

Renato Siqueira: Beto Perocini, além de ser um grande profissional, que eu admiro muito, hoje ele é meu amigão também. Eu trabalho com cinema desde os meus 14 anos, atuar então, vem de berço. Nos anos 2000 comecei a lançar meus curtas na internet e foi assim que o Beto me conheceu. Olha que honra, ele se tornou fã do meu trabalho e quando estava para se formar na escola de cinema, me convidou para atuar em seu TCC. O Perocini foi até a minha casa, com bastante humildade para me mostrar o roteiro do curta, eu amei. Se tratava de um curta de super herói, fiquei motivado em participar do projeto e tomei a liberdade de chamar para atuar também no projeto, um outro grande amigo, Ruben Espinosa. Claro, com a permissão do Beto. O trabalho aconteceu, ficando bem satisfatório para época, e a partir daí, iniciamos nossa jornada de trabalho e amizade que já dura muito anos. Eu e o Betão, como costumo chamá-lo, estamos já com um novo projeto de suspense engatilhado, se não fosse pela quarentena devido ao Coronavírus, já até teríamos iniciado a produção dele.

Olha só! Mais um trabalho indo pro forno, demais! Se me lembro bem, Diários de um Exorcista – ZERO foi uma adaptação literária, é verdade que Atração de Risco está fazendo o caminho inverso? 

Renato Siqueira:  Na verdade tanto o “Diário de um Exorcista”, quanto o “Atração de Risco”, fizeram o caminho inverso. Primeiro, eu e o Beto escrevemos os roteiros juntos, e no processo de gravação dos longas, fomos adaptando a história para letras. No “Diário de um Exorcista”, chamamos para nos ajudar a escrever e também para ser co-autor da obra literária, o escritor Luciano Milici. O mesmo processo aconteceu com o “Atração de Risco”, para nos auxiliar, chamamos o escritor Dan M que também se tornou co-autor da obra. Os dois livros ficaram sensacionais, o “Diário de um Exorcista” está a venda nas livrarias e o “Atração de Risco”, está em produção e logo será lançado.

Em nossa última entrevista – convido a leitura de todos – perguntei quais diretores o inspirava e sua resposta não se limitou apenas ao cinema de horror. Sendo assim, dessa vez lhe pergunto quais obras de suspense lhe inspira?

Renato Siqueira: Sou fanático pelo terror e suspense dos anos 80 e 90. Eles me inspiram muito. Bom, vou citar só alguns nomes de filmes do gênero suspense, ok? “Atração Fatal”, “Instinto Selvagem”, “O Silêncio do Lago”, “Invasão de Privacidade”, “Silêncio dos Inocentes”, “Infidelidade”, “Obsessão Fatal”, “Dormindo com o Inimigo”, “A mão que balança o berço”, “Medo”, “Anjo Malvado” e por aí vai…

Agora, quebrando o gelo um pouco com uma leve brincadeira, você teria algum ator/atriz que seria um sonho poder dirigir e atuar ao lado?  Se sim, por que exatamente essa pessoa?

Renato Siqueira: Vamos ao sonho que nunca vou realizar (risos) . Ellen Burstyn e Al pacino, para mim, atuar ou dirigi-los, tanto faz (risos). Agora porque essas pessoas? A resposta se encontra no trabalho magnífico que eles exerceram durante as suas carreiras. 

Agora vamos ao que interessa! Quando esse filmão estréia e por onde o leitor do Cinem(Ação) poderá assistir?

Renato Siqueira:  A partir do dia 16/04/20, a produção estará disponível nas seguintes plataformas digitais: NOW, Looke, Google Play, iTunes, Vivo Play e Microsoft Store.

Poxa, no atual cenário de pandemia, será ótimo! Facilita bastante! E este formato de streaming vem sendo uma escolha estratégica da equipe ou um pedido do mercado em geral?

Renato Siqueira:  No momento trabalhar no mercado de nicho ou formato Streaming, como preferir, está sendo muito melhor em questões financeiras. 

Com a sua experiência no segmento, como você vê o cenário nacional hoje? O que temos que evoluir para virar uma indústria? O streaming é o caminho natural para isso?

Renato Siqueira: No Brasil temos excelentes profissionais e quanto ao streaming, com certeza é o futuro. Já é. Porque possibilita que o produtor independente tenha um bom retorno financeiro. Agora vem o principal, sermos empreendedores, não ficar só na dependência do dinheiro público, buscar outros caminhos, fazer do investimento privado algo tão rentável quanto ao cinema de financiamentos públicos. Quando essa proporção ficar equiparada, teremos um grande avanço no cinema nacional, eu diria até o início de uma indústria.

Queria primeiramente parabenizá-lo por tamanha dedicação e competência, e falar que sempre estarei aqui, torcendo, consumindo e te ajudando a divulgar. Em breve farei uma crítica por aqui. Parabéns mesmo pelo esforço, e espero em breve estar fazendo uma terceira entrevista! 

Agora para encerrar, te presenteamos com este espaço para que convoque o público a assistir “Atração de Risco” no dia 16/04 e deixe uma mensagem para o pessoal do Cinem(Ação). 

Renato Siqueira: Se você quer ver boas atuações em um suspense nacional de tirar o fôlego, assista “Atração de Risco” pois, a tentação é a mais afiada das lâminas.  

https://www.youtube.com/watch?v=YolLYoxnPzw

Ficha técnica:

ATRAÇÃO DE RISCO

DIREÇÃO– Renato Siqueira

ROTEIRO – Renato Siqueira e Beto Perocini

DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA – Beto Perocini

DIREÇÃO DE ARTE – Tatiana Siqueira

SOM DIRETO – Wagner Dalboni

PRODUÇÃO EXECUTIVA – Perocini Filme e Encripta. 

PRODUÇÃO ASSOCIADA – Deus ex Machina, Humanitti, Forasteiro Filmes

ESTRELANDO – Miguel Nader, Luiz Guilherme, Carlos Takeshi, Aline Mineiro, Ricardo Ramory, Léo Lins, Reginaldo Sama, Rodrigo Fernandes (Jacaré Banguela) e Angélica Oliveira , Camila Esteves, Ruben Espinoza, Gabriela Costa, Luiz Marigo, Marcio Cassoni, Edna Lima, dentre outros.

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