TOP 10 MELHORES FILMES NACIONAIS DE 2019
Em pleno 2019 ainda tem gente que diz que os filmes Nacionais não prestam que “só tem porcaria”. Nós do Cinem(ação) tentamos durante o ano todo dar o devido destaque ao cinema brasileiro, sem patriotismo algum: um dos maiores do mundo hoje.
Temos sim diversas obras que deixam a desejar (vale também um top 10 piores nacionais). Contudo, isso é comum em qualquer país e aqui temos um agravante: vemos mais filmes sem o filtro estrangeiro. Para um filme ruim islandês chegar aqui é mais complicado.
Confira o meu top 10 melhores filmes de 2019 (sem contar os brasileiros)
Já faço um mea culpa: não vi Divino Amor que para muitos estaria na lista. Vale o destaque que a lista considera apenas os lançamentos comerciais, que estiveram em cartaz no cinema no Brasil entre janeiro e dezembro de 2019. Isso significa lançadas direto no streaming (Netflix, Amazon, etc) e filmes que só estiveram em festivais ficam de fora.
Por este critério, foram lançados 148 longas nacionais, de acordo com a lista do Filmeb (lista esta que só fica disponível até o final do ano, então quem quiser eu envio).
Vale o comentário que o Cinem(ação) tem muitos autores. Esta lista representa apenas o meu top 10 Melhores Filmes de 2019 e que com certeza diverge da dos nobres colegas (inclusive o Matheus Macedo fez a dele. A nossa só coincidiu em 3 títulos, mostrando a riqueza do nosso cinema), mas esta é a graça das listas… as discussões. E claro, amigo leitor, você está convidado a colocar nos comentários o teu top 10 🙂
Antes do top 10 Melhores Filmes de 2019 fiquem com outras listas de melhores (acho que vemos filmes só para fazer listas):
Top 10 Melhores Filmes Nacionais de 2018
Top 10 Melhores Filmes Nacionais de 2017
Top 5 (eu tava com preguiça) Melhores Filmes Nacionais de 2016
Sem mais, vamos a minha lista do Top 10 Melhores Filmes Nacionais de 2019:
10 – BLOQUEIO:
Bloqueio tenta entender as demandas dos caminhoneiros na época da paralisação que impactou o país no primeiro semestre deste ano. Há um belo trabalho de apresentação dos personagens. Humaniza-os com pequenas passagens com as famílias e até expressando a fé, além de atividades cotidianas. Os diretores dão voz aos caminhoneiros e apontam, usando quase que somente a fala dos personagens, as contradições – em especial a questão militar. Causando até um humor involuntário. Os poucos questionamentos são na medida, sem sere m incisivos a ponto de gritar com o entrevistado, mas fazendo perguntas que o público teria vontade de fazer.
Confiram a minha crítica de Bloqueio à época do Festival de Brasília de 2018
9 – TORRE DAS DONZELAS:
Depoimentos de mulheres presas na época da ditadura, incluindo a ex-presidente Dilma Rousseff. O documentário se apoia em uma forte humanidade com conversas sobre coisas cotidianas até as descrições das torturas. A trilha é presente de forma quase constante, mas sem ser intrusiva, fazendo o papel devido de pano de fundo emocional. Há ainda pitadas de humor, por vezes brotando do drama mais dramático, que surgem de forma surpreendente.
Confiram a minha crítica de Torre das donzelas à época do Festival de Brasília de 2018
8 – MORTO NÃO FALA:
A premissa é bem interessante: nosso protagonista trabalha no IML e conversa com quem já partiu e os seres falam na mesa de autopsia. Isso cria pequenas pílulas curiosas, ao virar um confidente dos presuntos recém “apresuntados”. Retrata-se bem o caos da cidade (com corpos chegando a todo momento no IML) e o da vida dupla de Stênio. Esses múltiplos tipos de terror se aliam a uma boa dose de trash, com muito sangue, espíritos e coisas voando, além de uma dose de terror psicológico. Os vários temas funcionam. Temos críticas a violência urbana, a uma espetacularização da religião, a relação pais e filhos, a mortes por “besteira” e aspectos sociais de uma vida sem luxos.
Confira a minha crítica completa de Morto Não Fala
7 – ESTOU ME GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR:
Prêmio de título mais longo, o filme é o terceiro documentário da lista. Aqui temos a visita do diretor Marcelo Gomes a uma cidade que ele visitara na infância. Contudo o clima mudou: agora a pequena região virou a maior produtora de jeans do país e as pessoas focam a vida nessa empreitada. O longa explora essa relação de trabalho e o último ato é dedicado ao título, como que a produção para para o pessoal curtir a festa popular. Algumas tomadas de câmera são bem criativas e os personagens escolhidos são divertidos e diversificados. O longa já está na Netflix.
6 – A VIDA INVISÍVEL :
“Melodrama tropical” (seja lá o que isso for) foi como o filme se vendeu. Outro elemento forte no marketing era a presença da Fernanda Montenegro. De fato o longa é melodramático, mas segurando o tom na maior parte do tempo. A relação epistolar das duas irmãs com plano de fundo político e social da época funciona muito bem. Já a Fernanda… ela aparece pouco, mas cada gesto, fala, não fala… olha, se fosse uma atriz gringa seria indicada ao Oscar de Atriz Coadjuvante. O longa foi o representante nacional no Oscar de filme estrangeiro e ficou de fora (mas o ano realmente estava potente na categoria…). Ah, e que título plurissiginificativo e bem escolhido….
Confira o podcast Cinem(ação) sobre A Vida Invisível
5 – MINHA FAMA DE MAU:
Um dos maiores nomes da nossa música, o Tremendão Erasmo Carlos não poderia ter um filme banal e o como o filme conta a história, saindo da fórmula de uma cinebiografia quadradinha é o tchan aqui. Opta-se pela quebra da quarta parede e por uma narração em off despojada. Em especial no primeiro ato de Minha Fama de Mau a montagem dá um show. Ágil sem ser corrida, com inserções de imagens reais e colagens sem serem bagunçadas, além ajudar na apresentação/construção do universo. Ajudada pela identidade visual criativa com rabiscos animados, recortes “vivos” de jornal e um inusitado ar quadrinesco, constrói-se aqui um dos pilares do sucesso da obra. Outra sacada é Bianca Campanato interpretar várias mulheres e isso cria uma piada que quase que a transforma em uma entidade, mas que serve para abarcar vários amores. Mas o principal amor de Erasmo é o Roberto e esse “romance” é destacado de maneira carinhosa. Minha Fama de Mau atira para vários lados e como todo artista nem sempre acerta. Mas quando acerta, tal como um grande artista, aí gera uma emoção inesquecível.
4 – ANTÔNIO UM, DOIS, TRÊS
O teor da narrativa é o mais e o menos importante. O que vemos aqui são três histórias, com o mesmo núcleo, texto semelhante, mas visto de ângulos distintos. O sucesso está nesta teia – muito bem executada – e no conteúdo, uma simpática dramédia. Dá para falar que uma história está paralela e dentro da outra. O começo abre com carisma, o meio causa alguma dificuldade – intencional – e o final já estamos completamente envolvidos com aquelas figuras. A metalinguagem com a questão da construção do roteiro arranca risadas fáceis (no melhor sentido) do público. A história de amor, as desventuras e os encontros e desencontros dos personagens tornam aquele universo tão absurdo que acaba crível.
Confira a minha crítica completa de Antônio Um, Dois, Três no Festival de Brasília de 2017
3 – BACURAU:
“Quem nasce em Bacurau é o quê?” a resposta dessa pergunta é a síntese do filme. Um dos filmes mais badalados do ano pelo viés político, tem méritos cinematográficos. A construção de boa parte dos personagens (salvo a dos antagonistas, que o diretor KMF insiste e não desenvolver), cenários e a narrativa crescente justificam os elogios. As cenas emblemáticas na escola e museu dão tom. O afronte às autoridades e a forma que lida-se com o corpo também.
Confira o podcast Cinem(ação) sobre Bacurau
2- À Sombra do Pai:
Drama familiar com doses de terror. Após a morte da matriarca, uma família (pai, filha e tia) precisa se reorganizar. Todos os personagens têm arcos próprios e todos flertam com algo do oculto, sejam meras simpatias, até outros tipos de experiências. A fotografia é maravilhosa usando tons pastéis e uma penumbra sem deixar o todo escuro. As atuações estão bem firmes, demostrando a degradação, desorientação e presença. O longa faz uma referência diegética e com muito sentido narrativo a um filme clássico de terror e todo o aspecto que permeia tal citação é bem feito, mesmo que previsível. O ritmo nos engana, no melhor sentido, parece que não está acontecendo nada, que a história não anda, mas de repente tudo se justifica. E a direção, junto com a montagem, tem um controle absurdo da duração das cenas e do filme como um todo – ele corta no momento perfeito.
1 – A ROSA AZUL DE NOVALIS:
O longa estreou 19 de dezembro e entrou aqui aos 40 do segundo tempo. Mas que sorte a minha poder conferir. Esse doCUmentário encenado abre e fecha com uma cena explícita do ânus do nosso protagonista. O que ocorre nesse meio (e o trocadilho é intencional) é qualquer coisa de genial. Brincadeiras com a metalinguagem, histórias reais/absurdas, reflexões sobre a vida, cenas de sexo brutas e poéticas. Rodrigo Carneiro e Gustavo Vinagre sabem como extrair o máximo dessa persona, Marcelo (que participa do roteiro), um dândi sui generis. Indo para além do nascimento, o filme propõe revisitas a vidas passadas, e a renascimentos dentro desta vida, temos uma das melhores (des)construções de personagem do ano.