51º FESTIVAL DE BRASÍLIA – 2 DIA: TORRE DAS DONZELAS E LOS SILENCIOS
Festival de Brasília
Cinema Nacional

51º FESTIVAL DE BRASÍLIA – 2 DIA: TORRE DAS DONZELAS E LOS SILENCIOS

O 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro chega ao segundo dia (primeiro da mostra competitiva). Na disputa foram exibidos 4 filmes, dois curtas e dois longas.

Confira aqui a nossa cobertura do primeiro dia do Festival. Recheado de homenagens e com a exibição especial de “Domingo”, longa de Clara Linhart e Fellipe Barbosa.

Não pude acompanhar os filmes no primeiro dia de exibição, mas a programação do Festival de Brasília inteligentemente os reprisa no dia seguinte no Museu Nacional de Brasília. Assim, pude conferir todos os curtas e longas da principal mostra, além de ver o clima e organização do evento em outra localidade que não a sede principal (o Cine Brasília).

Os quatro filmes deste dia na Mostra Competitiva foram: Boca de Loba, Torre das Donzelas, Kairo e Los Silencios

CURTAS: 

Boca de Loba: 

Ficha técnica: Direção: Bárbara Cabeça. Ficção, 19 min, 2018, CE, 12 anos. Elenco: Bianca Gois, Dhiovana Barroso Dhiôw, Fernanda Brasileiro, Heloíse Sá, Mariana Nascimento, Tatiana Valente e Tayana Tavares

Sinopse: Pressões assediadoras das ruas. E um grupo de mulheres procura pela invocação de um espírito selvagem urbano

Festival de Brasília Boca de Loba

Boca de Loba traz uma estética, por assim dizer, punk-feminista, vide uma das personagens usar uma máscara à la Mad Max, mas feita de calcinha. Bastante performático, usa-se o corpo das atrizes quase como um personagem a mais. Há uma narração diegética e não diegética que funciona melhor no primeiro, quase como conto na fogueira. A fotografia é muito boa, o olha de Bárbara junto com a diretora de fotografia Irene Bandeira trazem um espetáculo visual, sabendo transitar em diversos tons de escuridão. Contudo, todos os elogios se esvaem por conta do texto artificial e das metáforas, algumas admito não compreender. No fim soa um tanto vazio. Nota: 2,5/5


Kairo:

Ficha Técnica: Direção: Fabio Rodrigo. Ficção, 15 min, 2018, SP, 12 anos. Elenco: Vaneza Oliveira, Pedro Guilherme, Fernanda Viacava, Samuel de Assis e Jane Mara

Sinopse: Em uma escola na periferia de São Paulo, a assistente social Sônia precisa retirar o garoto Kairo, de nove anos, da sala de aula para ter uma conversa difícil.

Festival de Brasília Kairo

Kairo conta a história de uma assistente social e um garoto. Ela precisa dar uma notícia para o menino. Parte da sacada é o público meio que antever o teor da notícia em meio a momentos em que a profissional tenta achar uma brecha para fazer a revelação. Contudo, a explicação mesmo vem em uma frase após o filme. Tal opção acaba ruindo completamente o curta para mim. Se a contextualização viesse antes estaria muito bem-vinda. E ressaltaria ainda mais o belo trabalho que vinha sendo construído pela direção do Fábio Rodrigo em um ótimo posicionamento com a câmera. A qualidade dos atores e o texto que eles tem que falar oscila muito. A dupla principal vai muito bem, já o policial e a diretora do colégio ajudam a nota a cair. Kairo ainda pode preservar o impacto para muitos dado o real assunto do filme. Nota: 2/5


LONGAS:

Torre das Donzelas: 

Ficha técnica: direção: Susanna Lira. Documentário, 97 min, 2018, RJ
Sinopse: Torre das Donzelas traz relatos inéditos e surpreendentes da ex-presidente Dilma Rousseff e de suas ex-companheiras de cela do Presídio Tiradentes em São Paulo. Elas estiveram presas juntas na década de 70 na Torre das Donzelas, como era chamado o conjunto de celas femininas do presídio

Depoimentos de mulheres presas na época da ditadura, incluindo a ex-presidente Dilma Rousseff. O documentário se apoia em uma forte humanidade. Vemos desde conversas sobre coisas cotidianas até as descrições das torturas. A trilha é presente de forma quase constante, mas sem ser intrusiva, fazendo o papel devido de pano de fundo emocional. Não será difícil parte do público chorar e um choro sincero, advindo das memórias daquelas mulheres. A reconstituição das celas, tornando as falas daquelas senhores ainda mais carregadas e imersivas.

Há ainda pitadas de humor, por vezes brotando do drama mais dramático, que surgem de forma surpreendente. A exaltação do corpo feminino, tal qual no curta Boca de Loba, é percebida, há inclusive um nu frontal – em uma cena totalmente pertinente.

Mesmo com todos elogios, parte do material acaba ficando redundante e há alguns momentos de uma reconstituição encenada que também sobram. Tais apontamentos tiram a excelência do projeto. Nota: 4/5


Los Silencios:

Ficha técnica: Direção: Beatriz Seigner. Ficção, 87 min, 2018, SP, livre. Elenco: Marleyda Soto, Enrique Diaz, María Paula Tabares Peña, Adolfo Savinvino

Sinopse: Núria, 12, e Fábio, nove anos, chegam de madrugada com a mãe, Amparo, 40, a uma ilha desconhecida, na fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Estão fugindo dos conflitos armados na Colômbia e, ali, descobrem que seu pai, supostamente morto num deslizamento de terra de uma mineradora, se esconde em uma das casas de palafitas onde passam a morar.

Festival de Brasília Los Silencios

Los Silencios tem alguns méritos notórios, principalmente no início e final da obra. O trabalho de apresentar o problema, a questão dos conflitos na Colômbia e a situação fronteiriça, traz um nível de exposição ideal: sem subestimar o público e sem deixar com o plano de fundo. Além disso, já sabemos neste começo informações importantes sobre os personagens.

O final impacta mais ou menos conforme você entenda cedo ou tardiamente o que o filme propõe, estou sendo vago aqui para evitar spoiler. Mas mesmo eu que percebi logo no começo, pude me emocionar pela belíssima construção das cenas finais.

O longa usa um elenco local/amador para dar uma naturalidade e o consegue com louvor. Outro mérito destacável é a fotografia. Los Silencios tem uma parte considerável tendo que lidar com a penumbra e se sai muito bem.

O segundo ato, porém, demora muito para se encontrar e é o que possui o ritmo mais pesado, enfraquecendo, inclusive os outros bons atos. Nota: 3/5

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