A Sociedade Literária e Torta de Casca de Batata e a Fuga dos Problemas
Artigo

A Sociedade Literária e Torta de Casca de Batata e a Fuga dos Problemas

Romance Original Netflix passado em 1946 se encaixa perfeitamente em nossa realidade

Sociedade Literária e Torta de Casca de Batata

Zapeando pela Netflix a um tempo atrás foi me indicado o filme A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata. A história parecia interessante, mas acabei deixando pra depois, e depois, e depois… Sabe aquele filme que você nunca assiste? Pois é entrou nessa lista. Até que semana passada, minha querida mãezinha assistiu e falou muito bem para mim sobre o filme. Ontem estava a toa em casa, e resolvi dar uma chance ao filme. E qual foi minha surpresa ao assistir um filme que se encaixa tão bem em nossa atual realidade.

Dirigido pelo inglês Mike Newell (Quatro Casmentos e um Funeral), A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata conta uma história que se passa em 1946, e mostra uma Inglaterra tentando se reerguer após o fim da guerra. Nesse cenário a escritora Juliet Ashton (Lily James) decide visitar Guernsey, uma das Ilhas do Canal invadidas pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, depois que ela recebe uma carta de um fazendeiro contando sobre como um clube do livro local foi fundado durante a guerra. Lá ela constrói profundos relacionamentos com os moradores da ilha e decide escrever um livro sobre as experiências deles na guerra.

Com um elenco bem conhecido, que além de Lily James, conta com Michiel Huisman (o Daario Naharis de GoT), Matthew Goode (o Henry Talbot de Downton Abbey), Jessica Brown Findlay (a Sybil Crawley também de Downton Abbey), Glen Powell (Estrelas Além do Tempo) e os veteranos Tom Cortenay (Urso de Ouro em Berlim pelo filme 45 Anos) e Penelope Wilton (a Isobel Crawley também de Downton Abbey), o filme é a adaptação do livro homônimo de Mary Ann Shaffer e Annie Barrows. A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata é o típico filme para assistir com toda família. Um filme leve e bem água com açúcar, no bom sentido é claro. Se você quer ver um filme com sua namorada (o), sua mãe, sua esposa (o) ou filhos, essa é a pedida. Um filme simples e leve com uma bela mensagem.

A Torta de Casca de Batata

Não vá esperando um filme hiper mega profundo, com atuações espetaculares dignas de Oscar, um roteiro mirabolante com um grande plot twist no final. O filme em quesitos técnicos se destaca pela excelente fotografia, que retrata de maneira belíssima as belas paisagens da ilha de Guernsey, em imagens de encher os olhos. Além de uma constituição de época e um design de produção de dar gosto. Mas no quesito história, o que vemos é um romance como tantos outros que já vimos diversas vezes, mas agora com a paixão pela literatura como pano de fundo. Mas o que então tem de tão especial nesse filme?

O que tem de especial é justamente o que não vemos. O que está nas entrelinhas. Vemos no filme pessoas tentando se reconstruir após a guerra, e se unem em prol de uma paixão: a leitura. Ou seja, a arte salvando as pessoas. No filme vemos como a leitura foi a salvação daquelas pessoas para poder lidar com os horrores da guerra e do pós-guerra. Morte de parentes, separação dos entes queridos, morte de inocentes, traumas, perdas, tudo isso é amenizado com a leitura. Com os livros, aqueles personagens conseguem uma fuga de seus problemas, eles se conectam, naquele único dia, naquela hora que passam juntos, eles conseguem fugir da prisão que estão, mesmo estando livres.

A Sociedade Literária surgiu de uma necessidade, a necessidade de se conectar, de se ver livres em um mundo que as privavam de sua liberdade, mesmo estando livres. Tendo apenas batatas para comer, sem acesso ao mundo exterior, sem rádio, sem correios, sem telefone, essas pessoas eram prisioneiras de sua situação. E mesmo após o fim da guerra, ainda eram prisioneiras de seus traumas, seus medos e suas dúvidas. Nessa prisão é nas artes que eles encontram sua liberdade. E nas linhas de um livro que viajam, que sonham, que conhecem histórias de amor. É nas páginas de um livro que eles se sentem livres, através dessas páginas elas se conectam e conseguem rir.

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata mostra de forma simples e bela, o quão importante é a arte e cultura para o ser humano. Em uma sociedade em guerra, foi através da arte, da cultura que as pessoas conseguiram sobreviver. Foi através da cultura que essas pessoas conseguiram se reconectar com o mundo, e se refazer, dar a volta por cima, conseguiram se reencontrar. Elas conseguiram ser felizes, apesar dos problemas, foi graças as artes, graças a cultura, que elas conseguiram sorrir novamente. Diferente de alguns personagens, que são “contra” a sociedade, e não conseguem sorrir.

E é nesse cenário, a fuga pela arte, que A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata se encaixa perfeitamente na atualidade. Não é novidade para ninguém que estamos em uma sociedade complexa. Em uma sociedade em que reina a discriminação, a intolerância, o ódio, a polarização, desemprego batendo recordes, mortes por motivos fúteis, economia em queda, uma verdadeira crise econômica e moral, é difícil sorrir. Não é mesmo? E todos nós buscamos uma fuga, uma fuga para os nossos problemas, um momento de alegria e respiro. E onde vamos encontrar isso? Na cultura! No cinema, na música, nas páginas de um livro, no teatro, nas artes. Só ali que encontraremos uma fuga da nossa realidade, mesmo que por algumas horas, como os personagens do filme.

Mas muito me dói, ver a situação da cultura em nossa sociedade. Artistas são acusados de serem vagabundos e mamarem nas tetas do governo. Uma lei criada para incentivar a cultura é considerada por muitos um absurdo. O Ministério da Cultura foi reduzido a uma Secretaria Especial do Ministério da Cidadania. A Ancine entrou na sua pior crise parando todos os editais. Um país sem cultura não tem futuro, uma nação sem futuro não tem esperança. Uma país sem esperança é algo triste de se ver e imaginar.

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata nos ensina que para nos sentir livres, para que possamos sorrir, e que para possamos encontrar um suspiro de alegria melhor caminho é a cultura, é o cinema, são as páginas de um livro. Quantas vezes você não estava triste e ao assistir a um filme, ouvir uma música, ler um livro, você não terminou aquele dia sorrindo e por uns minutos esqueceu seus problemas? Esse é o poder da cultura nos levar para lugares que menos esperamos, nos apresentar pessoas novas, terras desconhecidas, nos fazer viajar, conhecer lugares onde nunca imaginamos ir.

Então vamos seguir o exemplo da Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata, para fugir da crise econômica e moral que estamos vivendo, vamos recorrer a cultura. Vamos viajar pelas páginas de um livro. Conhecer lugares desconhecidos pelas telas do cinema. Conhecer pessoas novas nos palcos da vida do teatro. Conhecer novas culturas pelas notas de uma canção. Vamos dar valor a nossa cultura, vamos valorizar a arte! Afinal uma nação sem cultura é uma nação sem futuro!

Então meus amigos para fugir dos seus problemas, para ter momentos de alegria nesse mundo em declínio moral e econômico, siga o exemplo da Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata, e use os que temos de melhor: a nossa cultura, a nossa arte, e sejam todos felizes! Eu te garanto, que por pelo menos algumas horas, você se esquecerá do que se passa ao seu lado, conhecerá terras incríveis, pessoas maravilhosas, histórias empolgantes, e os problemas não parecerão tão grandes assim. E quem sabe isso até mude sua vida para melhor!

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