Chico Buarque e o Cinema: Chico o Ator - Cinem(ação)
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Chico Buarque e o Cinema: Chico o Ator

Depois de falar das trilhas e adaptações é hora de falar da última faceta de Chico Buarque no Cinema o Chico Ator

Chico Buarque

Chico Buarque tem uma relação extremamente próxima com o cinema como pudemos ver nos últimos textos. Suas músicas estiveram em em dezenas de filmes e sua obra já foi adaptada diversas vezes para o cinema. Mas como falei no primeiro texto Chico é músico, dramaturgo, escritor e ATOR. Agora iremos justamente focar nessa faceta o Chico Ator.

Embora o próprio Chico diga que ele é um péssimo ator, é interessante ficar sabendo dessa faceta do artista. E realmente, Chico não é um bom ator. Na verdade como ator Chico Buarque é um excelente músico e escritor. Mas mesmo assim, coloque Chico Buarque para tocar e vamos ver essa última faceta de Chico no Cinema.

Chico – O Ator

Chico Buarque, Nara Leão, Hugo Carvana e Antônio Pitange em Quando o Carnaval Chegar
Chico Buarque, Nara Leão, Hugo Carvana e Antônio Pitange em Quando o Carnaval Chegar

A primeira participação de Chico no cinema foi no filme Garota de Ipanema de 1967, onde aparecia como ele mesmo tocando a música Chorinho. Mas o seu primeiro papel no cinema mesmo foi 5 anos depois no filme Quando o Carnaval Chegar. Esse filme, além de ser seu primeiro papel no cinema, é seu primeiro grande sucesso em uma trilha sonora de cinema. O filme, dirigido por Cacá Diegues, conta a história de Lourival um empresário de um grupo mambembe de cantores (Paulo, Mimi e Rosa), que viaja pelo país num antigo ônibus chamado Sheila dirigido por Cuíca. Com a proximidade do Carnaval, Lourival consegue um contrato para o grupo e também Cuíca, para se apresentarem no evento “A festa do rei” (que depois se revela como Frank Sinatra, numa suposta viagem ao Rio). Mas uma série de desavenças e discussões internas, provocadas pelos romances inesperados de Paulo (com Virgínia) e Cuíca (com uma atriz francesa) põe em risco o cumprimento do contrato para desespero de Lourival, que avisa que o contratante é o chefão do crime organizado (provavelmente um “bicheiro”) “Anjo”, que os ameaçará de diversas formas. Além de Chico, no papel de Paulo, o filme ainda tinha no elenco as cantoras Nara Leão e Maria Bethânia nos papéis de Mimi e Rosa respectivamente, e os atores Hugo Carvana, Antônio Pitanga, José Lewgoy, Odete Lara e Elke Maravilha. O filme foi feito bem na época do AI-5 e sofre com isso, e acaba se tornando datado e tem como principal trunfo a trilha sonora composta praticamente toda por Chico Buarque e interpretada por ele, Nara e Bethânia.

Vai Trabalhar Vagabundo 2

A próxima incursão de Chico Buarque como ator ocorreu em 1991, em plena crise do cinema nacional. E dessa vez foi duplamente que ele participou. Além de atuar como ator, ele também esteve presente na trilha sonora de Vai Trabalhar Vagabundo II – A Volta. Dirigido por Hugo Carvana, o filme é a continuação do clássico de 1973. Dessa vez Dino (Hugo Carvana), está exilado no exterior, e aplica um golpe numa viúva rica e mal amada de Acapulco. Com a grana, consegue retornar ao país para procurar uma antiga paixão, a Dama de Copas (Marieta Severo). Com há muitas pessoas em seu encalço, a única forma de voltar sem ser pego é, literalmente, se fingindo de morto. O falso enterro acontece entre os companheiros de copo e de samba, como Julinho de Adelaide (Chico Buarque) e suas eternas amantes. Numa das cenas mais divertidas do filme, a do enterro Julinho, personagem de Chico coloca uma garrafa em cima do caixão prestes a ser enterrado.

O próximo trabalho de Chico Buarque no cinema foi O Mandarim, de Júlio Bressane, de 1995. O filme é um docudrama experimental biográfico do cantor Mário Reis.  No filme cantores de diversas gerações de nossa música popular interpretam cantores clássicos do passado em um passeio documental e ficcional pela vida do “Bacharel do Samba”. O filme tem a participação de Gal Costa como Carmen Miranda, Gilberto Gil como Sinhô, Edu Lobo como Tom Jobim, Caetano Veloso como ele mesmo e é claro Chico Buarque como Noel Rosa. O filme ainda tem no elenco Drica Moraes, Giulia Gum e Renata Sorrah.

Ed Mort

Dois anos depois Chico voltou ao cinema no filme Ed Mort, de Alain Fresnot. O filme é baseado no personagem Ed Mort criado pelo escritor Luís Fernando Veríssimo. Ed Mort (Paulo Betti) é um detetive de nona categoria, que mora em um cubículo, está sempre sem dinheiro. Um dia ele é procurado por Dayse (Roseane Lima), uma sensual e misteriosa mulher que quer ajuda para encontrar o seu marido Silva (José Rubens Chachá), que é um mestre em disfarce. Mas é Silva que o encontra e revela ao detetive que descobriu na Delbono, uma indústria de salsichas onde trabalha, um maquiavélico plano. Ed se defronta com Nogueira (Ary Fontoura), o presidente da fábrica, e ainda precisa evitar o delegado Mariano (Otávio Augusto), um corrupto que sempre está perseguindo Ed. No filme Chico Buarque faz um dos disfarces de Silva em uma cena em que ele fala que já está cansado de dar autógrafos. O filme ainda tem como Silva Marília Gabriela, Cauby Peixoto, Luiza Tomé, Gilberto Gil e José Mojica Marins.

Água e Sal

O último trabalho de Chico Buarque como ator, foi no filme português Água e Sal, da diretora Teresa Villaverde. No filme, de 2001, Chico vive o Amante de Ana (Galatea Ranzi) uma mulher normal, que vive uma vida normal como outra qualquer em uma aldeia próxima ao mar com seu marido e filha. Quando seu marido sai em viagem por alguns dias, acontecem coisas que mudam sua vida para sempre. O filme português esteve no Festival de Veneza 2001 onde foi premiado com a Menção Especial do Prêmio Elvira Notari. No DVD Chico Buarque Cinema, quando Chico fala desse filme é exibido a cena em que ele participa do filme. Ali vemos que realmente como ator Chico é um excelente cantor e escritor. Como ele mesmo diz. Inclusive sobre essa cena o artista conta uma curiosidade, de que a atriz só conseguia chorar por um dos olhos.

Chico Artista Brasileiro

Além de ator Chico já foi personagem de dois documentários. O primeiro é de 1980 e chama Certas Palavras e foi dirigido por Maurício Berú. Através de entrevistas e música é contada a história do artista até ali. Mas o grande filme sobre Chico é o documentário Chico – Artista Brasileiro. Dirigido por Miguel Faria Jr., o filme através de entrevistas faz um panorama sobre toda a sua trajetória, incluindo memórias, shows, processo criativo, métodos de trabalho e até vida cotidiana. Além de seus prórios relatos, partindo de músicas apresentadas, dizendo como cada uma nasceu, outros nomes importates da música brasileira também participam, dando seus depoimentos.  O filme ainda conta com shows de Milton Nascimento, Ney Mato Grosso, Martinália, Adriana Calcanhoto, entre outros. O filme foi um grande sucesso de público e crítica, tendo ganho inclusive 3 prêmios no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Uma curiosidade sobre esse filme é que Chico Buarque não é lá muito chegado a entrevistas, mas aceitou ser objeto deste documentário em nome de uma longa amizade com o diretor Miguel Faria Jr., com quem ele escreveu o roteiro de Para Viver um Grande Amor.

É meus amigos, esse é Chico Buarque de Holanda. Um artista completo, escritor, cantor, compositor, dramaturgo e até ator. Para ele ficar mais completo só faltava ele ser dançarino! Aí já é pedir demais né? Mas fica aqui a homenagem a esse grande artista Chico Buarque, ganhador, mais do que merecido, do Prêmio Camões 2019!

Vida longa a Chico Buarque e sua obra!

Chico Buarque

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