Não há espaço para o Ódio - Infiltrado na Klan - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Não há espaço para o Ódio – Infiltrado na Klan

Como eu disse no meu artigo do Green Book, a expectativa por esse filme era grande. O enredo me intrigou muito, a escolha de atores (Topher Grace está no filme, achei que a carreira dele estava morta, rs) e o tema do racismo, que ainda hoje, é extremamente relevante e importante. Fui com a minha namorada ao cinema para descobrir que a sessão de segunda feira as 21:30 estava LOTADA! “UAU, quero assistir a esse filme mais ainda, pensei”. Acabei assistindo em casa, já que eu não conseguia pegar sessão disponível.

Em pesquisas que fiz, todos os artigos falaram muito bem do filme e, de fato, é merecido. O filme é extremamente bom, consegue com sutileza tratar temas extremamente importantes e complexos e passa uma mensagem muito, muito forte no final. Agora, é a oitava maravilha do mundo?

O policial Ron Stallworth é um dos pouquíssimos policiais negros dos EUA dos anos 70 e o primeiro policial negro a conseguir se infiltrar na Ku Klux Klan, mais famosa organização racista americana. Se o enredo não fosse baseado em fatos reais, você provavelmente acharia um cenário absurdo.

Não preciso dizer que os atores são maravilhosos e conseguem transmitir com sucesso as nuances necessárias. Acho que o filme foca no lado da comédia mais do que eu gostaria, mas entendo que é necessário para trazer leveza e conseguir abranger um público maior.

Para mim o melhor diálogo do filme é quando Ron conversa sobre a instituição polícia com Patrice, que é uma ativista negra que não gosta de policiais por já ter sofrido abusos por parte de membros racistas da corporação. Nessa hora Ron disserta que nem todos os policias são “porcos” – como ela os chama – e que muitos trabalham para fazer o bem. Fica latente que ela nutre o mesmo preconceito e ódio que sofre, só que de forma invertida. O filme mostra que ódio + ódio = ódio, equação essa, defendida pelos Panteras Negras que queriam uma guerra entre brancos e negros.

No meu ponto de vista, o filme falha na organização Ku Klux Klan como um todo. Quando Ron estabelece o primeiro contato com a Klan gera a tensão e a expectativa de que ele está se metendo em algo extremamente perigoso. O filme fica melhor ainda nessa hora! Toda essa tensão é carregada para o momento em que ele treina outro policial branco para se passar por ele nas reuniões presenciais, até que no primeiro momento em que somos apresentados aos membros neonazistas a decepção é total. Todos eles são bobalhões, ignorantes (o que já era de se esperar) e não passam medo nenhum. Achei os diálogos racistas entre eles apenas, ok. Óbvio que tudo o que falam são atrocidades imensas, mas não passou aquela sensação de temor, entende? Senti que faltou trabalharem mais para a Klan parecer realmente uma ameaça, uma instituição a ser investigada e levada a sério ao invés de um bando de caipiras loucos e racistas, cujo líder (Topher Grace) é um político bobão mór, que te faz sentir “pena” dele ao invés de medo.

Provavelmente essa imagem ridicularizada da Klan foi intencional, onde o diretor quis mostrar que é um grupo idiota que foram enganados por um policial negro. Caso isso seja verdade, entendo o motivo, mas ainda acho que faltou passar a imagem de que era uma organização perigosíssima capaz de atrocidades mil. Os integrantes são tão burros que o telespectador tem a certeza que nada vai acontecer com Ron e de que ele é muito, mas muito, mas muito mesmo, mais inteligente do que eles.

O momento que causa alguma impressão forte é quando os membros da Klan são iniciados pelo seu líder e todos aparecem com a vestimenta completa. Essa é a única cena que faz jus ao nome da tão temida organização maléfica e que logo depois essa imagem é quebrada e o público volta a acha-los patéticos. Não me entenda mal, sem dúvida qualquer racista é patético, mas tem uma enorme diferença entre um racista pateta e um racista calculista, que mata negros por prazer. Esse segundo gera medo, angústia, ódio, enquanto o primeiro você apenas ignora.

O final do filme eu achei piegas e reforça (ainda mais) o quão burros são os membros, onde eles acabam se explodindo, literalmente. O único policial racista retratado no filme da corporação é preso em flagrante em ato ensaiado, ou seja, o filme tem dois finais felizes. Também achei muito estranho ver que 99% dos policiais que eram brancos se davam muito bem com o primeiro policial negro do escritório, sendo que era uma época extremamente racista e o preconceito muitas vezes era incutido na população geral.

Eu como expectador fiquei mais incomodado com o racismo abordado em Green Book do que em Infiltrado na Klan, apesar de que a temática de Infiltrado na Klan é mais abrangente e mostra quão perigoso esse pensamento/sentimento é.

O auge do filme é a mensagem final, onde mostra que atos de violência contra os negros, marchas neonazistas e atentados contra negros ainda existem e estão voltando com força nos EUA, apoiados por um presidente que suaviza e até corrobora alguns desses atos. É uma mensagem poderosa, a qual o mundo deve ficar de olho e dizer não a qualquer tipo de ódio.

Concordo com a Academia e acho que o filme realmente não merecia o Oscar de melhor filme e nem de melhor diretor. Talvez não merecesse nem ser indicado, apesar de ser um filme ótimo.

O final do filme me lembrou de uma música da banda Disturbed chamada Who Taught you how to Hate (quem te ensinou a odiar), cujo refrão segue abaixo e eu traduzo:

Tell me now, who taught you how to hate? – Me diga agora, quem te ensinou a odiar
‘Cause it isn’t in your blood – Por que isso não está no seu sangue
Not a part of what you’re made – Não é parte do que voce é feito
So let this be understood – Vamos deixar isso claro
Somebody taught you how to hate – Alguém te ensinou a odiar
When you live this way, you become – Quando voce vive desse jeito, você se torna
Dead to everyone – morto para todos

O mundo precisa de mais paz e compreensão entre os povos, classes, genêros etc. Caso voce tenha algum preconceito, procure se esclarecer, conversar, ampliar os horizontes ou simplesmente cale-se e não promova o ódio.

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