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Cafarnaum (Capharnaüm, Capernaum) de Nadine Labaki, com Zain Al Rafeea e Boluwatife Treasure Bankole
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Crítica: Cafarnaum

Cafarnaum faz jus ao alto nível dos filmes indicados ao Oscar de Filme Estrangeiro e ao prêmio do júri que ganhou em Cannes.

Ficha técnica:
Direção: Nadine Labaki
Elenco: Zain Al Rafeea, Yordanos Shiferaw, Boluwatife Treasure Bankole, Kawsar Al Haddad, Fadi Yousef.
Nacionalidade e data de estreia: Líbano, 20 de setembro de 2018 (26 de outubro de 2018 no Brasil – Mostra de SP).
Sinopse: Zain tem aproximadamente 12 anos, mas não sabe ao certo pois não foi registrado pelos pais, que não se lembram de quando ele nasceu. Ele vive em uma espécie de cortiço com os pais, mas decide abandonar a família após se revoltar com o casamento forçado de sua irmã com o dono do imóvel, e acaba indo morar com uma mulher refugiada com um filho pequeno.

Beirute, o capital do Líbano, é provavelmente a cidade que mais se transformou com a crise de refugiados que o mundo vive hoje. Cafarnaum prefere retratar essa realidade mostrando a vida de um menino que, após ser preso, decide processar seus pais.

O filme, que não faz questão de deixar claro sobre o ponto geográfico exato em que se passa, também não se preocupa em explicar seu título, um termo em francês utilizado para se referir a uma bagunça ou caos. Curioso é notar o quanto Cafarnaum reforça outras informações: a ausência de documentos, a incerteza da idade do protagonista, o risco da amiga Rahil, os motivos para o processo na justiça.

Ainda que informações se repitam, com direito a momentos de lágrimas em que personagens tentam explicar suas motivações, Cafarnaum não é um filme que julga seus personagens. Compreendemos o que faz com que Zain leve seus pais a um julgamento. Mas também compreendemos um pouco do que faz seus pais agirem como agem. Da mesma maneira, entendemos perfeitamente o que leva o garoto franzino a tomar uma atitude em relação ao bebê Yonas – a cena de despedida entre eles é particularmente tocante.

Mas o que o filme tem de melhor são as atuações, seja por mérito próprio ou da diretora Nadine Labaki. O menino Zain Al Rafeea – refugiado sírio que hoje mora na Noruega – possui um poder no olhar que assusta, de tão carregado de sentimentos. A etíope Yordanos Shiferaw, que também foi presa por não ser regulamentada no Líbano, tal qual sua personagem, tem sua ausência sentida quando não está na tela. E o mais impressionante é que até a bebê Boluwatife Treasure Bankole (no filme, um menino) é capaz de expressar sentimentos que parecem impossíveis para alguém de tão pouca idade.

É nos pequenos toques, nos pequenos gestos e nas dificuldades da pobreza que Cafarnaum se constrói. Zain não precisa estar certo. A solução para os problemas apresentados pelo longa certamente não é fazer com que as pessoas parem de ter filhos. Em determinado momento, descobrimos que a mãe de Zain está grávida novamente. “Ele vai ser igual a mim”, diz o garoto, revoltado, sobre o futuro irmão. Não é porque ele é o protagonista que isso é uma verdade. Afinal, quem pode dizer? Cafarnaum é um desses filmes que funciona como um grito. De socorro ou de desabafo. E gritos são, por natureza, dramáticos. São repetitivos, imperfeitos, mas ainda assim – quiçá justamente por isso -são  verdadeiros. Nadine Labaki nos poupa de ver uma cena de violência, assim como se vale de estratégias de câmera para nos poupar dos momentos mais tensos vividos pelo garoto. Em uma região tão áspera e próxima da guerra, mostrar sangue demais é coisa fácil. O que requer coragem é sorrir.

  • Nota
4.5

Summary

Cafarnaum faz jus ao alto nível dos filmes indicados ao Oscar de Filme Estrangeiro e ao prêmio do júri que ganhou em Cannes.

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