O Oscar está estranho este ano? Um apanhado geral
Não sei pra vocês, mas pra mim a temporada do Oscar está meio estranha. Geralmente, no mês de janeiro nós já sabemos quais os principais filmes a concorrerem ao Oscar, como provavelmente será o tom da cerimônia, e já temos até alguma ideia de quem deve ganhar.
Desta vez, está tudo meio estranho.
Talvez seja só impressão, mas acredito que tem muito a ver com a tentativa de popularizar as premiações. Com isso, filmes de “menor qualidade” (aspas para evitar reclamações) devem ganhar – e já estão ganhando – mais repercussão, deixando de lado produções que geralmente ganhariam mais destaque.
OK, OK… ainda está confuso? Então vamos aos nomes de alguns filmes e algumas considerações.
Pantera Negra: a surpresa agradável
O filme de Ryan Coogler é o único “filme estranho” que me agrada. Sabemos que a Academia premia pouco os filmes de super-heróis, e se for para premiar, que seja um filme de qualidade e com boa estrutura. Tenho minhas dúvidas se é um filme que deveria merecer premiações, mas não seria nenhum absurdo.
Um Lugar Silencioso: o “terror da vez”
Esse filme merece estar na corrida do Oscar e é popular o suficiente para garantir uma boa imagem da premiação. Sempre tem uma leva de filmes com indicações ao Oscar que estrearam ao longo do ano. E com o histórico de “Corra!”, outro ótimo filme de terror que abocanhou prêmios, o filme de John Krasinski, se for indicado a algumas estatuetas, será ótimo até mesmo para romper com a ideia de que somente filmes lançados “para a temporada” ganham indicações.
Nasce uma Estrela, Bohemian Rhapsody e Podres de Ricos
Além de marcarem presença no Globo de Ouro, eles já estão na lista de indicados para o prêmio do sindicato dos produtores. Estes de fato são o aceno das premiações para o popular. Vamos lá:
- Nasce uma Estrela será supervalorizado se tiver indicações para além de “Melhor Canção”. A direção de Bradley Cooper é segura, o filme é bonito, mas vamos combinar que não tem nada de especial nele. Se houvesse uma categoria de “Atriz Revelação”, talvez Lady Gaga pudesse estar lá. Mas não tem.
- Bohemian Rhapsody só deixou as pessoas felizes porque é sobre o Queen e tem músicas da “melhor banda de rock de todos os tempos”. Vamos combinar: o roteiro é mediano, as atuações não são mais do que boas (Rami Malek ainda não é merecedor de Oscar), e o filme é quase um especial de fim de ano para a TV.
- Podres de Ricos conquistou um feito incrível e tem tudo para ser uma comédia romântica queridinha. Seu significado para a representatividade de asiáticos é maravilhoso… mas o filme não tem motivo nenhum para ser lembrado em premiações.
Vice, Infiltrado na Klan, O Primeiro Homem, Green Book: O Guia, A Favorita, Se a Rua Beale Falasse
Estes são os filmes que seguem a “receita do Oscar”: grandes diretores, grandes atores, apostas de estúdios para a premiação, e lançamento próximo da temporada. Ainda não vi todos, mas posso dizer que “O Primeiro Homem” é apenas tecnicamente impecável e “Infiltrado na Klan” é um filme impactante que merece prêmios tanto pela técnica quanto pela temática.
Destes filmes, vale destacar que “Green Book” já está envolvido em polêmicas devido a um histórico machista e racista por parte de seus idealizadores (o roteirista teve tweets islamofóbicos recuperados, e o diretor teve situação de assédio sexual denunciada). No caso do novo filme de Barry Jenkins, a repercussão tem sido mais baixa que o esperado, e ele pode ser um dos esnobados da temporada.
Roma
É muito difícil que o Oscar de Filme Estrangeiro vá para outro longa. E pode ser que o filme dirigido por Alfonso Cuarón ainda conquiste alguma outra estatueta. Nesta situação, a “estranheza” está no alcance do filme: a produção Netflix já pode ser vista por qualquer um no serviço de streaming, e portanto não deve ficar restrita a poucas salas de cinema, como será com os outros indicados da categoria.
E o apresentador?
Quem vai apresentar o Oscar 2019? Parece que ninguém sabe até agora, e o motivo é sempre vinculado a questões homofóbicas. Mas o que aconteceu?
O comediante Kevin Hart tinha sido escalado para apresentar a cerimônia deste ano. Então, no início de dezembro, ele desistiu da função após ter tweets homofóbicos descobertos e criticados pela comunidade LGBTQ. Entre 2009 e 2011, o ator teria publicado coisas como: “Se meu filho chegar em casa e tentar brincar com a casa de boneca da minha filha, eu vou quebrar sua cabeça e dizer ‘pare, isso é gay'”.
Em 7 de dezembro, ele publicou em seu twitter:
“Eu optei por desistir de apresentar o Oscar neste ano… isso porque eu não quero ser uma distração em uma noite que deve ser celebrada por tantos artistas talentosos. Peço sinceras desculpas à comunidade LGBTQ por minhas palavras insensíveis do passado”.
Então quer dizer que Kevin Hart já está fora?
Não necessariamente… Em uma entrevista mais recente para a apresentadora Ellen DeGeneres (que já apresentou duas cerimônias do Oscar e representa a comunidade LGBTQ), ela afirmou ter ligado para a Academia e pedido para que eles reconsiderassem a presença de Hart. O comediante disse que reavaliaria a possibilidade de apresentar.
Segundo uma matéria do Digital Spy, produtores da cerimônia do Oscar estudam a possibilidade de não ter um apresentador específico, e sim uma série de artistas como “co-hosts”. Mesmo assim, nada está definido.
O que pode acontecer?
Posso estar enganado, mas é bem possível que tenhamos um Oscar diferente em 2019. Talvez filmes mais populares ganhem o prêmio. Talvez os premiados da Academia sejam mais dissonantes dos que vão ganhar prêmios dos sindicatos.
Talvez nem tudo esteja tão diferente, e eu só estou criando caraminholas na cabeça. Não é uma questão de ser ruim ou bom. São apenas sinais dos tempos. Afinal, o mundo muda e o Oscar deve mudar. Resta saber de que maneira.