Oscar de Melhor Filme: As Maiores Injustiças da Academia - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Oscar de Melhor Filme: As Maiores Injustiças da Academia

Pra quem gosta de acompanhar as premiações do Oscar e torcer por seus favoritos, é uma grande frustração quando aquele filme que tanto torcíamos perde a estatueta. E o que dizer quando aquele filme que perdeu era o melhor entre os indicados? Selecionamos 16 anos da premiação do Oscar em que a Academia perdeu a chance de premiar o que era de fato o melhor filme. Há casos em que o vencedor não estava tão abaixo do que realmente mereceria ganhar, mas há casos em que o vencedor era realmente aquém. Claro que toda lista traz uma visão particular, e sendo assim, é sujeita a questionamentos e discordâncias. Vamos a ela:

 

Para facilitar, colocamos o ano do filme e não o ano da premiação.

 

1940:

Quem ganhou: “Rebecca, a Mulher Inesquecível

Quem merecia: “Vinhas da Ira

A pedido do produtor David O. Selznick (o produtor de “E o Vento Levou”), o diretor Alfred Hitchcock saiu da Inglaterra (sua terra natal) para filmar nos Estados Unidos. Logo em seu primeiro filme na terra do Tio Sam, a produção levou o Oscar principal, além do prêmio de fotografia em preto e branco. Hitchcock foi indicado a melhor diretor, mas perdeu para John Ford por “Vinhas da Ira”. “Rebecca, a Mulher Inesquecível”,  de Hitchcock é realmente muito bom, com um clima de suspense que segue até seu marcante desfecho. É um trabalho fantástico de composição e adaptação (melhorando o livro de Daphne du Maurier). Mas “Vinhas da Ira” é mais importante como cinema, como tema e como reflexão. Baseado no romance “As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck, a obra-prima de Ford (ao lado de “Rastros de Ódio”), é uma contundente crítica social, figurando entre os filmes mais poderosos e impiedosos de todos os tempos.

 

1941:

Quem ganhou: “Como Era Verde meu Vale

Quem merecia: “Cidadão Kane

O diretor John Ford venceu 4 Oscars de direção (um recorde); porém, apenas “Como Era Verde meu Vale” venceu como melhor filme. O curioso é que foi vencer justamente no ano em que Orson Welles realizou o mais revolucionário filme já feito na história do cinema. É inegável que o filme de Ford tem suas (muitas) qualidades, mas “Cidadão Kane” de fato era imbatível. Se “Como Era Verde meu Vale” é um filme bonito, nostálgico e encantador, a obra de Welles é pesada, impactante, visceral e marcante em seu excepcional trabalho de narrativa e impressionante utilização de recursos que impressionam até hoje. “Cidadão Kane” é uma verdadeira aula de cinema; um trabalho que influenciou e continua influenciando diversos diretores e roteiristas.

“Cidadão Kane”

 

 

1951:

Quem ganhou: “Sinfonia de Paris

Quem merecia: “Uma Rua Chamada Pecado” ou “Um Lugar ao Sol

Vincent Minnelli fez de “Sinfonia de Paris” o mais visualmente belo trabalho daquele ano no cinema, com Gene Kelly dando um show por uma paris estilizada, com cenários baseados em grandes trabalhos dos mestres da pintura. Mas é de se admitir que, concorrendo com ele, haviam duas obras-primas que o superam. “Uma Rua Chamado Pecado”, além de seu excelente roteiro (baseado na peça de Tennessee Williams), traz um dos melhores elencos já vistos no cinema, encabeçado por Marlon Brando, Vivien Leigh (vencendo aqui seu segundo Oscar), Karl Malden e Kim Hunter, sob a direção de Elia Kazan. “Um Lugar ao Sol” (que deu o Oscar de melhor direção para George Stevens) é um trabalho primoroso de romance, drama e suspense, com uma atuação excepcional de Montgomery Clift; além de trazer Elizabeth Taylor no auge da beleza.

 

1952:

Quem ganhou: “O Maior Espetáculo da Terra

Quem merecia: “Matar ou Morrer” ou “Depois do Vendaval

Alguns dizem que “O Maior Espetáculo da Terra” é o pior vencedor do Oscar de melhor filme de todos os tempos. Claro que é exagero afirmar isso, porque a superprodução de Cecil B. DeMille tem suas qualidades, mostrando os encantos e desencantos do mundo circense, com um elenco de astros e estrelas de primeira linha. Concorrendo com o filme de DeMille, tínhamos “Matar ou Morrer”, que é simplesmente um dos melhores westerns já feitos. Dirigido por Fred Zinnemann, a obra traz Gary Cooper (vencendo seu segundo Oscar) como um xerife que se vê abandonado quando mais precisava de ajuda. “Depois do Vendaval” deu o último dos quatro Oscars de direção a John Ford, e figura entre os trabalhos mais queridos e divertidos do diretor, com John Wayne à frente de um ótimo elenco.

“Depois do Vendaval”

 

1956:

Quem ganhou: “A Volta ao Mundo em 80 Dias

Quem merecia: “Assim Caminha a Humanidade” ou “O Rei e Eu

David Niven estrela a maior superprodução baseada em uma história de Julio Verne. A obra foi premiada com 6 Oscars. É uma aventura à moda antiga, porém muito longa e com alguns momentos que não empolgam muito. Melhor são: “Assim Caminha a Humanidade”, em que o diretor George Stevens (vencedor do Oscar de direção) narra a saga de uma família ligada ao petróleo, com Rock Hudson, Elizabeth Taylor e James Dean (este em seu último trabalho nas telas. Ele morreria pouco depois em um acidente automobilístico), e “O Rei e Eu”, onde Yul Brynner e Deborah Kerr brilham, cantando e dançando. É um musical movimentado, cheio de belas coreografias, cenários grandiosos e belos figurinos.

 

1958:

Quem ganhou: “Gigi

Quem merecia: “Gata em Teto de Zinco Quente” ou “Acorrentados

O musical “Gigi” caiu nas graças dos votantes da Academia, que o elegeram como melhor filme, direção (Vincent Minnelli) e mais 7 prêmios. Obviamente foi um grande exagero, sendo que se trata de um filme irregular, com poucos números musicais que realmente empolgam. Não há um astro do gênero como Gene Kelly ou Fred Astaire para dar-lhe mais brilho. Poderiam ter premiado o belo drama “Gata em Teto de Zinco Quente”, trazendo um grande e formidável embate ente um casal (feito por Paul Newman e Elizabeth Taylor), ou “Acorrentados”, um dos melhores filmes sobre o preconceito racial, com os astros “Sidney Poitier e Tony Curtis passando por todo tipo de situações e problemas durante uma fuga.

 

1979:

Quem ganhou: “Kramer vs. Kramer

Quem merecia: “Apocalypse Now” ou “All That Jazz

“Kramer vs. Kramer” é um dos melhores dramas sobre relacionamento humano; uma obra sensível que trata de temas delicados sobre separação e adaptação. Porém, não dá para esquecer que a Academia deixou de premiar o excelente “Apocalypse Now”, um filme de guerra diferente de tudo que já se viu antes (e depois). Um trabalho magnífico de Francis Ford Coppola, feito todo em tom épico. O drama familiar – estrelado por Dustin Hoffman e Meryl Streep – venceu ainda outro grande trabalho que é superior a ele: “All That Jazz”. A obra-prima de Bob Fosse é sobre um genial coreógrafo (baseado no próprio diretor, e feito por Roy Scheider). É considerado por muitos o melhor musical dos anos 70.

“Apocalypse Now”

 

1980:

Quem ganhou: “Gente Como a Gente

Quem merecia: “Touro Indomável” ou “O Homem Elefante

O astro Robert Redford estreou na direção com o drama “Gente como a Gente”, um bom trabalho sobre uma família que é desestabilizada quando um jovem morre em um acidente. O mais abalado acaba sendo seu irmão (feito por Timothy Hutton, vencedor do Oscar de ator coadjuvante). Mas a Academia errou feio quando deixou de premiar “Touro Indomável”, a obra-prima de Martin Scorsese que traz uma excelente atuação de Robert De Niro no papel de um agressivo lutador de boxe. É um trabalho magistral, eleito o melhor filme dos anos 80. Outro excelente filme ignorado naquele ano pela Academia foi o ótimo e comovente “O Homem Elefante”, dirigido por David Lynch (longe das bizarrices típicas da maioria de suas obras.

 

1981:

Quem ganhou: “Carruagens de Fogo

Quem merecia: “Reds”, “Os Caçadores da Arca Perdida”, “Num Lago Dourado” ou “Atlantic City”

“Carruagens de Fogo” era a grande zebra da premiação a melhor filme em 1982. Pouquíssimas pessoas confiavam em sua vitória naquela noite. Eis que ele acaba sendo o grande vencedor, derrotando seus concorrentes. O curioso é que todos os outros quatro filmes em competição eram melhores que ele. “Reds”, de Warren Beatty (que venceu como melhor diretor) é o mais épico; “Os Caçadores da Arca Perdida” (vencedor de 4 Oscars) foi o que fez mais sucesso nas bilheterias; “Num Lago Dourado” (que premiou Henry Fonda e Katherine Hepburn) é o mais emocionante”; e “Atlantic City” (com Burt Lancaster e Susan Sarandon) é o mais reflexivo. Quatro trabalhos de peso ignorados e desprezados pela Academia.

 

1989:

Quem ganhou: “Conduzindo Miss Daisy

Quem merecia: “Nascido em 4 de Julho”, “Sociedade dos Poetas Mortos”, ou “Meu Pé Esquerdo

O drama estrelado por Jessica Tandy e Morgan Freeman é muito comovente, trazendo uma história de amizade e perseverança. Um bom e delicado trabalho. Mas não dá para esquecer que, junto com ele, concorriam obras de peso como o inesquecível e impactante drama “Nascido em 4 de Julho”, dirigido por Oliver Stone, e que traz a melhor atuação de Tom Cruise; “Sociedade dos Poetas Mortos”, em que um professor (Robin Williams) ensina seus alunos a se livrarem da opressão do colégio interno; e “Meu Pé Esquerdo”, uma emocionante história que deu o primeiro dos três Oscars de melhor ator a Daniel Day-Lewis. Mais uma vez a Academia deixa de lado os melhores.

“Sociedade dos Poetas Mortos”

 

1996:

Quem ganhou: “O Paciente inglês

Quem merecia: “Shine – Brilhante” ou “Fargo

Quando a Academia resolve dar vários prêmios a um único filme (há casos em que o filme é merecedor), sai de baixo. No caso aqui, o trabalho do (já falecido) diretor inglês Anthony Minghella saiu com nada menos que 9 Oscars. É um filme interessante que lembra às vezes alguns trabalhos de David Lean, mas a enxurrada de prêmios foi exagero. Melhor que ele naquele ano eram “Shine – Brilhante”, um intimista filme sobre um pianista (feito por Geoffrey Rush, premiado como melhor ator), e “Fargo”, uma mistura de suspense, drama e comédia que é provavelmente o melhor filme dos irmãos Coen (premiados aqui com o Oscar de roteiro original), e que deu o primeiro Oscar para Frances McDormand.

 

1998:

Quem ganhou: “Shakespeare Apaixonado

Quem merecia: “O Resgate do Soldado Ryan

William Shakespeare é sem dúvida o maior dramaturgo de todos os tempos. “Shakespeare Apaixonado” é um ótimo trabalho que inventa alguns fatos para tornar mais empolgante a história do bardo inglês que vai em busca de inspiração depois de passar por um bloqueio criativo. Porém, muita gente não gostou quando o ótimo “O Resgate do Soldado Ryan” levou melhor direção (para Steven Spielberg) mas não melhor filme. O trabalho de Spielberg já começa memorável, contando da forma mais realista possível a tomada da praia da Normandia. Tom Hanks está à frente de um pelotão encarregado de salvar a vida de um único homem, o que acaba levantando questionamentos de seus soldados.

 

2005:

Quem ganhou: “Crash – No Limite

Quem merecia: “Munique”, “O Segredo de Brokeback Mountain”, “Boa Noite e Boa Sorte” ou “Capote

Mais um caso em que qualquer um dos outros 4 concorrentes ao Oscar de melhor filme eram melhores que a produção que saiu vencedora. Muita gente custou a acreditar que a Academia deixara de lado obras como “O Segredo de Brokeback Mountain (o favorito da premiação), “Munique” (o último grande trabalho de Steven Spielberg até o momento), “Boa Noite e Boa Sorte” (o melhor momento de George Clooney na direção) e “Capote” (filme que deu o prêmio de melhor ator ao saudoso Phillip Seymour Hoffman. “A vitória de “Crash – No Limte”foi um absurdo tão grande, que recentemente o próprio diretor Paul Haggis assumiu que seu filme não merecia o grande prêmio, e que qualquer um dos outros indicados eram melhores. Bola fora da Academia.

“O Resgate do Soldado Ryan”

 

2009:

Quem ganhou: “Guerra ao Terror

Quem merecia: “Avatar” ou “Bastardos Inglórios

Para medir a importância de um filme vencedor do Oscar principal, podemos fazer a seguinte pergunta: “Alguém se lembra daquele filme que venceu o Oscar de melhor filme?”. “Guerra ao Terror” (dirigido por Kathryn Bigelow) nem é mais tão lembrado hoje, e não deveria ter sido tão lembrado pela Academia, que o premiou com 6 Oscars. Até prêmios técnicos de edição de som e mixagem de som, que eram pra ter sido de “Avatar”, ficaram com “Guerra ao Terror”. E a grande fantasia de James Cameron (que venceu como melhor filme e direção no Globo de Ouro) é que deveria ter vencido. No mesmo ano, Quentin Tarantino também concorria com o marcante “Bastardos Inglórios”, seu melhor trabalho em anos.

“Bastardos Inglórios”

 

2010:

Quem ganhou: “O Discurso do Rei

Quem merecia: “A Rede Social”, “A Origem” ou “Cisne Negro

“O Discurso do Rei” é outro filme que o tempo mostrou que até poderia figurar entre os indicados a melhor filme, mas não vencer. É um filme de fórmula, uma obra feita na medida para comover. O diretor Tom Hooper sabe dirigir atores (Colin Firth mereceu o prêmio de melhor ator), mas tem a mão pesada para criar cenas. Perderam a chance de premiar David Fincher e seu “A Rede Social”, um excelente trabalho biográfico, baseado na vida do criador do Facebook. “A Origem”, de Christopher Nolan, é uma das melhores e mais inteligentes aventuras dos últimos anos, e se vencesse seria bastante justo. Outro que poderia ter sido premiado também era o impactante “Cisne Negro”, um trabalho marcante do diretor “Darren Aronofky.

 

2015:

Quem ganhou: “Spotlight – Segredos Revelados

Quem merecia: “Mad Max – Estrada da Fúria” ou “O Regresso

Às vezes a Academia é muito política, premiando como melhor filme não o que de fato é o melhor trabalho entre os concorrentes, mas o que mais dá representatividade ao momento em que o país vive. Acabaram por premiar o filme que fala sobre pedofilia na igreja católica. Claro que o tema é importante (assim como o filme), mas desperdiçaram a grande chance em inovar e premiar o melhor trabalho do diretor George Miller, que é o ótimo “Mad Max – Estrada da Fúria”. Melhor filme de ação e aventura dos últimos anos, a produção de Miller venceu 6 prêmios (merecidos, mas também de consolação). Outro filme que poderia ter saído vencedor era “O Regresso”, uma superprodução vencedora dos Oscars de direção (Alejandro González Iñárritu), ator (Leonardo DiCaprio) e fotografia.

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