15 Vilões e Vilãs Marcantes do Cinema Clássico - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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15 Vilões e Vilãs Marcantes do Cinema Clássico

O que seria de um grande herói sem um grande vilão? Não é de hoje que o cinema explora a figura dos vilões, dando a eles grande importância e profundidade à trama, sendo (em boa parte) interpretados por atores e atrizes de respeito (alguns deles até mesmo acostumados a papéis de bonzinhos).

Selecionamos 15 vilões que marcaram a história do cinema clássico.

 

Lionel Barrymore em “A Felicidade Não se Compra” (1946)

Em sua última parceria com o excelente diretor Frank Capra (“Do Mundo Nada se Leva”, de 1938; “A Mulher Faz o Homem”, de 1939), o ótimo James Stewart interpreta George Bailey, um homem bondoso que é vítima da má-fé de um rico empresário. Maior clássico sobre o otimismo já produzido pelo cinema, “A Felicidade Não se Compra” tem um grande herói e um inesquecível vilão. O veterano Lionel Barrymore (da famosa geração de atores onde Drew Barrymore faz parte) é quem interpreta o empresário que, ao não conseguir “comprar” o herói (feito por Stewart), vê a grande chance de derrotá-lo quando um dos personagens comete um grande descuido. Lionel, que ganhou o Oscar de melhor ator por “Uma alma Livre” (1931), ficou de fora das indicações ao prêmio em 1947.

 

Bette Davis em “Pérfida” (1941)

Ao contrário de outras grandes atrizes de sua época, Davis não se prendia apenas a papéis de mulheres boazinhas. Quando suas personagens não eram más, elas eram no mínimo de caráter duvidoso; à exceção de filmes como “Vitória Amarga” (1939. O papel preferido da atriz), “Estranha Passageira” (1942) e “Horas de Tormenta” (1943). Em “Pérfida”, Davis interpreta Regina Giddens, uma mulher fria, ambiciosa e manipuladora que atormenta a vida do marido doente no intuito de convencê-lo a fazer um investimento duvidoso. Este é um filme exemplar, com um roteiro excepcional (baseado na peça “As Pequenas Raposas”, da escritora Lillian Hellman), muito bem conduzido por William Wyler, diretor que melhor explorou a persona de Davis (“Jezebel”, de 1938; “A Carta”, de 1940).

 

Anthony Perkins em “Psicose” (1960)

Psicopatas não eram muito comuns em filmes no início dos anos 60. Algo também que não era frequente nas telas do cinema naquela época era personagem com dupla personalidade. Em “Psicose”, o que de início parece ser uma história sobre roubo, se transforma em uma complexa trama envolvendo Norman Bates (Anthony Perkins), um esquisito e misterioso dono de um motel de beira de estrada. Norman é simpático apenas na aparência, mas por trás daquele pacato homem se esconde um assassino frio e calculista. De vilã a vítima, a personagem de Janet Leigh tem seus últimos suspiros ao ser atacada enquanto toma banho (diga-se de passagem, a cena de suspense mais famosa do cinema). Alfred Hitchcock ‘brinca’ com o público ao não entregar nada que seja óbvio, apresentando uma obra repleta de dualidades na linha “quem é quem?”.

 

Gene Tierney em “Amar foi Minha Ruína” (1945)

Tierney era uma das mais belas atrizes de Hollywood, e seu belo perfil era muito explorado em papéis de personagens boazinhas e vítimas. Mas tais qualidades estão longe de seu papel em “Amar Foi Minha Ruína”, onde ela interpreta uma mulher que se apaixona por um escritor (Cornel Wilde, que não era um grande ator, mas era carismático). Eles se casam, e ela vai morar com ele. Mas o que ninguém poderia prever é que ela faria de tudo para afastar as pessoas (familiares e amigos) de seu novo lar, desejando assim ficar sempre a sós com o marido. Para isso, ela cria planos terríveis que terão sérias consequências. Tieney foi indicada ao Oscar, perdendo para Joan Crawford por “Alma em Suplício”.

 

Henry Fonda em “Era uma Vez no Oeste” (1968)

Com uma filmografia invejável feita quase que exclusivamente de personagens bonzinhos, o excepcional Henry Fonda surpreendeu a todos ao interpretar um sinistro vilão em um dos maiores westerns já produzidos. Dirigido pelo mestre Sergio Leone, em “Era uma Vez no Oeste” Fonda junta-se a um magnífico elenco encabeçado por Charles Bronson, Claudia Cardinale, Jason Robards e Gabriele Ferzetti. Feito em escala épica, o filme é brilhante em todos os sentidos. Acostumado a interpretar personagens elegantes ou coerentes, como em “As Três Noites de Eva” (1941), “Consciências Mortas” (1943) e “12 Homens e uma Sentença” (1957), aqui Fonda se enfeia, despindo-se de seu tipo galã que o ajudou a consolidar sua bela carreira. O duelo final com o personagem misterioso de Bronson é marcante.

 

Judith Anderson em “Rebecca, a Mulher Inesquecível” (1940)

A excelente atriz Judith Anderson foi indicada ao Oscar por esse filme que foi o único da carreira do genial Alfred Hitchcock a ser premiado com o prêmio principal (mas não direção). Anderson interpreta uma governanta que atormenta a vida da patroa (Joan Fontaine), relembrando a figura da ex-patroa chamada Rebecca, que morreu de forma misteriosa. É uma vilã sutil, nunca caindo em exageros. É interessante como, através da governanta, ficamos sabendo quem era Rebecca, e o que ela representava naquela mansão. Anderson preferia atuar mais no teatro, mas no cinema se destacou em obras como “Laura” (1944), “O Vingador Invisível” (1945), “Almas em Fúria” (1950), “Os Dez Mandamentos” (1956) e “Gata em Teto de Zinco Quente” (1958).

 

Orson Welles em “A Marca da Maldade” (1958)

Orson Welles gravou seu nome para sempre na história do cinema quando dirigiu, produziu, escreveu e estrelou “Cidadão Kane”, em 1941. O que alguns na época achavam ser uma tacada de sorte, o tempo mostrou que Welles era realmente genial. “A Marca da Maldade” é uma complexa trama policial envolvendo um policial mexicano (Charlton Heston) que está em lua de mel com sua esposa (Janet Leigh). Welles interpreta um sinistro capitão de polícia corrupto. Ameaçador (e irreconhecível), seu personagem é o típico retrato do mal presente nas fronteiras. O filme é notável também por seu brilhante plano-sequência inicial. Uma obra-prima repleta de inovações. Um dos melhores trabalhos do mestre Welles.

 

Anne Baxter em “A Malvada” (1950)

Algumas pessoas que não assistiram ao filme “A Malvada”, costumam associar a personagem má do título em português à Bette Davis. Ainda que aqui Davis não seja tão boazinha, a vilã da obra na verdade é Anne Baxter. Esta interpreta Eva, uma atriz novata que faz de tudo para alcançar o sucesso nos palcos. Usando e manipulando todos a sua volta, Eva vai tecendo uma teia de mentiras e intrigas, jogando o tempo todo com quem acha que ela não passa de uma jovem ingênua e sonhadora. Brilhantemente dirigido por Joseph L. Mankiewicz, “A Malvada” é um formidável estudo sobre a ambição e a inveja, formado por um elenco de primeira. Davis e Baxter foram indicadas ao Oscar de melhor atriz, mas perderam para Judy Holliday por “Nascida Ontem”.

 

Burt Lancaster em “A Embriaguez do Sucesso” (1957)

Lancaster e Tony Curtis são dois cafajestes de língua ferina e atitudes questionáveis. Enquanto Curtis é um aprendiz no mundo da ambição e do engano, Lancaster conhece tudo sobre a arte do mau-caratismo. Eles são arquitetos de um plano para afastar uma moça (a personagem que faz a irmã de Lancaster) de um rapaz. Lancaster raramente faz papéis de vilões, sendo quase sempre visto interpretando personagens heroicos. Aqui, ele é bastante perverso em suas artimanhas (que lembram os melhores vilões shakespearianos), e injustamente ficou de fora (juntamente com Curtis) da indicação ao Oscar de melhor ator. O filme é um retrato frio de uma sociedade manipuladora e egoísta (e isso lá nos anos 50).

 

Angela Lansbury em “Sob o Domínio do Mal” (1962)

Quando a ameaça da Guerra Fria aterrorizou muita gente, Hollywood explorou a paranoia que tomava conta do país, em produções de todos os tipos e gostos. “Sob o Domínio do Mal” escancarava de forma direta os fatos, mostrando oficiais do exército regressando para casa depois da guerra, atormentados por terríveis pesadelos. Protagonizado por Frank Sinatra e Lawrence Harvey, a obra expõe a fragilidade da sociedade norte-americana. Acostumada a papéis de boazinha, Angela Lansbury interpreta aqui a mãe do personagem feito por Harvey. Uma mulher influenciadora e manipuladora, agindo sempre de modo sutil, mas sempre decidida a vencer. Ela foi indicada ao Oscar de atriz coadjuvante. Meryl Streep interpretou a mesma personagem na refilmagem de 2004.

 

Stephen Boyd em “Ben-Hur” (1959)

Um dos filmes mais premiados de todos os tempos, “Ben-Hur” é também o maior dos épicos sobre o Império Romano. Majestoso e irretocável, traz o astro Charlton Heston em sua melhor interpretação no cinema. Mas a superprodução dirigida por William Wyler não seria tão grande se não tivesse um grande vilão. Apesar de filmes como “Estigma da Crueldade” (1958), “A Queda do Império Romano” (1964) e “Viagem Fantástica” (1966), o ator irlandês Stephen Boyd é mais lembrado pelo público de hoje como o impiedoso vilão Messala. Mesmo sendo o tipo de vilão que beira o insano, o Messala feito por Boyd tem toques humanos. Por “Ben-Hur”, Boyd ganhou o Globo de ouro de melhor ator coadjuvante, mas sequer foi indicado ao Oscar.

 

Barbara Stanwyck em “Pacto de Sangue” (1944)

Os filmes Noir apresentam uma grande variedade de mulheres que não têm as melhores das intenções. Elas são chamadas de Femmes Fatales, e agem primeiro seduzindo suas vítimas e depois as enganando. Em “Pacto de Sangue”, o diretor Billy Wilder apresenta uma intrincada trama sobre um vendedor de seguros (Fred MacMurray) que se envolve com uma misteriosa mulher (Barbara Stanwyck). Ela o convence a assassinar seu marido. Tudo gira em torno da ambição, e por isso, as consequências poderão ser desastrosas se o plano não sair como combinado. Barbara foi indicada ao Oscar por seu fantástico trabalho de composição. Sua personagem é um exemplo perfeito de mulher fatal. “Pacto de Sangue” tem como um dos roteiristas o escritor Raymond Chandler.

 

Jack Palance em “Os Brutos Também Amam” (1953)

Palance, com sua aparência de homem mau, era o tipo ideal para interpretar vilões. No memorável western de George Stevens, ele interpreta um pistoleiro que é contratado para não facilitar em nada a vida de Shane (Allan Ladd), um (aparentemente) pacato trabalhador, que no fundo esconde um passado obscuro. Palance não aparece muito, mas quando aparece, rouba as cenas. Sempre muito calado, observador e atento, o vilão é memorável por sua sutil frieza. Esse ótimo western é um dos melhores na linha “Homem misterioso tenta se adaptar a uma nova vida, mas encontra pela frente alguém decidido a não deixar que isto aconteça”. O casal de atores que abriga Shane é feito por Van Heflin e Jean Arthur. Destaque também para o menino Brando de Wilde.

 

Mercedes McCambridge em “Johnny Guitar” (1954)

Joan Crawford detestava algumas pessoas com quem trabalhava, e uma delas era Mercedes McCambridge, uma atriz que também tinha um temperamento forte. No famoso western de Nicholas Ray, é McCambridge quem interpreta a vilã. Vianna (Crawford), a dona de um saloon, se vê ameaçada por homens que querem lhe tirar a propriedade. McCambridge, sua grande inimiga, está disposta a tudo para derrotá-la. Tudo muda quando entra em cena um forasteiro (Sterling Hayden). Em “Johnny Guitar” – um western diferente onde as cores fortes predominam – a verdadeira força está nas duas mulheres. No excelente elenco, ainda temos nomes de peso como Ernest Borgnine e Ward Bond.

 

Robert Mitchum em “Círculo do Medo” (1962)

Mitchum foi um vilão memorável no clássico “O Mensageiro do Diabo” (1955), e aqui ele volta a surpreender como um homem que passa alguns anos preso. Ao sair da cadeia, ele planeja destruir a vida do advogado (Gregory Peck) que ajudou a condená-lo. O vilão de Mitchum é calculista, frio, metódico em suas análises antes de agir. Este é um daqueles filmes em que o vilão reflete o contrário de tudo que o herói é em cena. Enquanto o advogado tem uma vida exemplar e respeitada, o vilão é um ser destruído, sem grandes chances de se recompor. Suspense exemplar, refilmado em 1991 por Martin Scorsese como “Cabo do Medo”, e estrelado por Robert De Niro.

 

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