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Crítica: Paraíso Perdido

Paraíso Perdido retrata uma história de esperança acolhedora em meio a desencontros – e muita música brega.

 

Ficha técnica:
Direção e Roteiro: Monique Gardenberg
Elenco: Erasmo Carlos, Felipe Abib, Hermila Guedes, Humberto Carrão, Júlio Andrade, Lee Taylor, Majorie Estiano, Malu Galli, Seu Jorge, Jaloo, Julia Konrad.
Nacionalidade e lançamento: Brasil, 31 de maio de 2018.

Sinopse: Paraíso Perdido é uma boate gerenciada por José (Erasmo Carlos). Lá ocorrem apresentações musicais de seu filho, sobrinho e neta, entre outros. O policial Odair (Lee Taylor) se aproxima da família ao ser contratado para fazer a segurança do jovem Ímã (Jaloo), neto de José e alvo frequente de ataque homofóbicos. Aos poucos, novos elementos vão surgindo e desvendando o passado de todos.

 

Demorei alguns minutos para ser conquistado por Paraíso Perdido. O filme começa com um flashback e depois conta uma história que parece se passar há algumas décadas, ainda que claramente seja nos dias de hoje. Aos poucos, fui conhecendo os muitos personagens que compõem a família – misturada, entrecortada, unida – e me afeiçoando a eles, enquanto ocorriam as diversas apresentações musicais. Trata-se de algo diferente: melancólico porém sem qualquer indício de melodrama, “underground” mas acessível, real porém com algo de quase fabulesco quando se está dentro da boate que intitula o filme.

Com diálogos certeiros, que por pouco não se tornam expositivos (não haveria outra forma de apresentar a trama de familiares), compreendemos como se dão as relações, quem são aquelas pessoas, e por quais traumas elas passaram. É como se a música, tão brega e tão enaltecedora, fosse capaz de remover toda a tristeza do lugar. E talvez seja exatamente isso.

Paraíso Perdido

Embora o filme se dedique mais a alguns personagens que outros (pouco vemos de Erasmo Carlos), as cenas com cada um são recheadas de sentimentos. Marjorie Estiano não tem tanto tempo de tela, mas traz intensidade; os personagens todos que se apresentam na boate são sonhadores e encantadores – com destaque para o novato Jaloo e o veterano Julio Andrade – e a relação entre Lee Taylor e Malu Galli transborda afeto. É uma pena que vejamos pouco do personagem de Seu Jorge, e um diálogo entre ele e Erasmo cria a vontade de ver mais da relação de ambos.

Há um bocado de investigação por parte de Odair (Taylor), o que nos faz ficar o tempo todo pensando nas relações entre eles. Quando dois personagens se beijam, por exemplo, minha primeira reação foi de susto, já que pensei que ambos teriam parentesco, mas logo me dei conta de que não seria o caso. Com a solução da trama, ficam algumas pontas soltas: não sabemos em que condição se deu um assassinato, e fica no ar o motivo que levou José a criar a aproximação que vemos no começo do filme.

Paraíso Perdido

Se a trilha sonora de Paraíso Perdido é invejável e totalmente congruente com a proposta, o mesmo pode-se dizer da fotografia, que se aproveita das luzes do clube noturno para criar essa aura de felicidade com melancolia que a vida noturna traz – e percebemos isso muito bem quando tomamos o susto de ver os personagens em suas “vidas diurnas”. E a direção de arte faz bem ao criar ambientes simples e quase antiquados, que flertam com o período em que a música brega teve seu auge, formando um ambiente ao mesmo tempo rico, singelo e único.

 

Analisando as histórias de todos os personagens, vemos que todos estão vinculados a algum tipo de violência. Sofreram ou sofrem os efeitos dela. Ainda assim, o filme tem esse sabor agridoce que o romantismo da música brega permite. Mais do que sofridos, os personagens são extremamente esperançosos, e a última cena mostra isso muito bem.

Paraíso Perdido é um filme sobre como a arte e o amor podem ser o caminho para vencer a violência e o ódio.

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