Lésbica e Perdida: O roteiro da descoberta baseada em filmes
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Lésbica e Perdida: O roteiro da descoberta baseada em filmes

Ser lésbica no final nos anos 2000 era algo muito diferente do que é hoje quando falamos em se descobrir. Não existiam muitas lésbicas retratadas em filmes, séries ou qualquer outra produção audiovisual.

Crescer bombardeadas de histórias de amor sobre princesas e príncipes, caras populares e meninas nerds do colégio, meninas populares e ‘rapazes problema’ realmente deixa uma dúvida sobre onde nos encaixamos. Por que não existia nenhum retrato de mulheres e meninas lésbicas tratados de forma natural?

Nesse cenário, achar um filme lésbico era como um gole de água na ressaca. Acalmava e excitava o coração ao mesmo tempo. Achar um filme que realmente deixasse aberto os relacionamentos e personagens, era melhor ainda.

Pensando nisso, tentei garimpar uma breve lista de filmes lésbicos que toda lésbica assiste quando está se descobrindo. (Foi assim que começou o Lesboteca, numa época onde o acesso e o conhecimento da existência desses filmes não existia.)

  • Imagine Eu e Você
    Imagine Me & You (título original) é de 2005 e conta com as atrizes Piper Perabo (Assunto de Meninas e Show Bar) e Lena Headey (300 e a deslumbrante Rainha Cersei de Game of Thrones).

No dia do seu casamento, Rachel (Piper) cria uma conexão inexplicável com a florista, Luce (Lena). Ao se reencontrarem, elas começam a cultivar uma amizade, mas logo o amor vai tomando forma entre as duas, o que leva Rachel a questionar seu casamento e a si mesma.

  • Loving Anabelle

Amando Annabelle - Descoberta Lésbica

A aluna que se apaixona pela professora e a professora que corresponde à investida da aluna. O roteiro de Amando Annabelle é extremamente problemático, naturalizando o envolvimento da mulher mais velha com a menina de 16 anos. Quando olhamos que o filme foi baseado em  Mädchen in Uniform, de 1931, talvez faça um pouco mais de sentido. Mas a aspiração de quem assiste esse filme pode ser equivocada.

 

  • Nunca fui santa - descoberta lésbica Nunca Fui Santa

O filme é uma comédia sarcástica, escrachada, que faz piada com os esteriótipos americanos. O título original But I’m a Cheerleader já denota o que se enxergava como uma sapatão no final dos anos 90, além de fazer uma crítica ao que é visto como papel de gênero. O filme tem no elenco Natasha Lyonne (sim, a Nicki de Orange Is The New Black) e Clea DuVall, além de contar com a ganhadora do Oscar Michelle Williams.

O filme é um refresco de roteiros densos e tristes e mostra que não há cura, não é doença  e não tem problema nenhum nisso.

  • Assunto de Meninas

ASsunto de meninas, Descoberta lésbica

Desequilíbrio e tragédia. Esse filme é um dos grandes exemplos de como o ideal sapatão de romance é construído na tragédia. A adolescência é uma fase complicada, com muitas dúvidas e indagações e o apelo de Assunto de Meninas para o público adolescente formado por lésbicas era muito grande. Acho que é até hoje… O filme pode dar uma visão equivocada de amor, paixão, sacrifício e ideal em uma história do “grande amor” que não deu certo.

 

  • Beijando Jessica Stein

Beijando Jessica Stein - descoberta lésbica

A mulher que se descobre tarde ou nem mesmo se descobre, apenas vive uma aventura com uma mulher para voltar para um homem no final. Essa poderia ser a sinopse de Beijando Jéssica Stein. O filme traz em seu roteiro uma história muito comum em filmes lésbicos. A protagonista, nos seus 20 e tantos e começo dos 30, começa a pensar a possibilidade de ser lésbica. Ela se envolve com outra mulher, maravilhosa por sinal, e aprende a se permitir. O filme poderia acabar aqui, mas insistir que ele continue e colocar a personagem em uma possível volta com o seu ex estraga tudo.

Elena e Peyton - Make love to me, Peyton Já falei desse filme aqui no site. Ele é uma história de amor, mas sim, idealiza um pouco o que se entende por alma gêmea, romantismo e emocional, lidando muito pouco com a parte racional e prática da vida real. O formato “Filme-Mini Documentário”  quebra o ritmo e ajuda e atrapalha o filme, mas não é negativo.

 

A escassez de filmes do gênero acabou tornando a lista dos primeiros filmes sobre lésbicas que assistimos basicamente a mesma. Ainda assim, os filmes onde víamos nossa representatividade não retratavam relacionamentos calmos, então como colaboraram na nossa descoberta? Será que lésbicas são dramáticas porque o ideal romântico é construído na tragédia?

Existe sempre uma dúvida em relação a essa grande deficiência de roteiros de filmes lésbicos. Roteiros fracos, baseados em tragédia e produções com pouco dinheiro e qualidade. Seria essa a vida lésbica? Por que ainda há uma deficiência de conteúdos bons e que coloquem relacionamentos homoafetivos entre mulheres em outro lugar que não esse?

A maior de todas as dúvidas: Por que ainda assistimos aos mesmos filmes?

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