Crítica: Fútil e Inútil (A Futile and Stupid Gesture, 2018) – Original Netflix
Fútil e Inútil é uma comédia ágil e cheia de referências.
Ficha técnica:
Direção: David Wain
Roteiro: Michael Colton, John Aboud
Elenco: Will Forte, Domhnall Gleeson, Martin Mull, Harry Groener
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2018 (26 de janeiro de 2018 na Netflix)
O 4° longa original Netflix de 2018 aposta em mais uma cinebiografia (já tivemos O Rei da Polca baseado na trajetória de Jan Lewan). O foco agora é a vida de Douglas Kenney (Will Forte), um comediante que, junto com o parceiro Henry Beard (Domhnall Gleeson) influenciou gerações a partir da revista National Lampoon.
Veja as nossas críticas dos outros originais Netflix de 2018:
O Rei da Polca
Vende-se Esta Casa
Step Sisters
Aqui temos, logo no início, uma metalinguagem bem sagaz, ao estabelecer um narrador presente, que quebra a quarta parede. O filme cria um vínculo com o público e resolve problemas de explicação sem tornar a obra expositiva e desgastante. Pelo contrário, com isso temos algumas boas piadas a mais, já que este narrador interage com a história, rendendo em especial um belo, e para muitos inesperado, momento no final.
O foco aqui é claro: a vida criativa de Doug e os conflitos internos do personagem. Cai naquele esteriótipo do gênio problemático. Por mais que já tenhamos vistos histórias assim antes, a virada está em como ela é contada, indo além da mera fórmula. Se a mente inquieta fazia com que o nosso protagonista não parasse de trabalhar e criar, também o levava para outros vícios como cocaína.
Este equilíbrio é bem estabelecido em diversas instâncias. Seja na montagem que não deixa o filme pesar para nenhum dos dois lados, seja na dualidade com o sócio ou com as mulheres – estas com pouco espaço aqui. O ponto central é a construção do personagem. Por mais que ele tenha defeitos o público jamais o considera um vilão, mas tampouco um herói ilibado. Esse olhar do filme com o biografado é uma das chaves do sucesso de Fútil e Inútil.
Uma das dificuldades, a priori, seria evidenciar em pleno 2018 uma figura que fazia piadas de décadas atrás. Aí temos outro acerto do filme: o deboche. O longa para fazer os comentários ardilosos meio que pede licença ao politicamente correto, mas sempre com uma reverência de escárnio. Vide as duas cenas que ele mostra que só há brancos.
A montagem acelerada cria uma experiência agradável. Dentro de um caos organizado temos alguns tipos de transições e até de momentos contados através de tirinhas. Toda essa dinâmica vem com um custo: Fútil e Inútil acaba passando por cima de alguns pontos da história e de personagens ou simplificando demais as coisas.
A energia, o carisma e a história do humor (já que temos diversas referências e nomes que marcaram o segmento) tornam esse filme melhor do que ele poderia ser. Por hora, Fútil e Inútil é o melhor original Netflix do ano até agora. Ainda assim, fica claro a proposta nos quatro filmes lançados em janeiro pela empresa: algo mais leve tendendo para a comédia.