Crítica: O Nascimento de Uma Nação (The Birth of a Nation, 2016)
O Nascimento de Uma Nação tem boas chances de Oscar em algumas categorias…
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Nate Parker
Elenco: Nate Parker, Armie Hammer, Aunjanue Ellis, Mark Boone Junior, Penelope Ann Miller, William Mark McCullough
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (10 de novembro de 2016 no Brasil)
Sinopse: no começo do século XIX, Nat Turner (Nate Parker), um escravo que sabia ler, é obrigado pelo dono, Samuel Turner (Armie Hammer), a pregar para outros escravos, como forma de contê-los. Ante várias atrocidades, Nat forma uma rebelião junto com outros escravos.
Em 1915, o longa O Nascimento de uma Nação trouxe uma produção que viria a ser marcante para a história do cinema, marcante por vários motivos. A ousadia de fazer um filme de 2h45 naquela época e com questões técnicas e narrativas de destaque merece aplausos, contudo o teor era extremamente racista – reflexo da época, é verdade…
O diretor/roteirista/produtor/ator Nate Parker resolveu criar uma obra com o mesmo título, mas dando voz para os negros. Agora de fato e não de forma caricata, como em 1915. Essa sagaz “homenagem” no título chamou ainda mais atenção para a criação de Parker, porém O Nascimento de uma Nação de 2016 nem precisava. O filme se sustenta muito bem sozinho com vários elementos de destaque, o título fica apenas como um complemento divertido/amargo e, claro, pertinente – também reflexo da nossa época.
Baseando-se em fatos reais (com algumas licenças poéticas), acompanhamos o predestinado Nat Turner desde a infância, em cenas que dão um contexto histórico-familiar-místico para o personagem. A parte histórica nos entrega cenas pesadas de todo tipo de maus tratos, perseguições e violência com os negros. Vemos também a importância da família e questão mística/ritualística nos dá a base para o que ele viria a se tornar no decorrer do longa. Nesse sentido o roteiro trabalha bem ao dispor em tela, já com Nat adulto, a continuação das relações com os que o cercam e também do caráter do personagem. A condução da trama, portanto, transporta o público para uma inevitável empatia com Nat.
As cenas de violência praticadas pelos homens brancos incomodam. Visualmente elas são impactantes e dá aquele embrulho no estômago (passar por aquilo, claro, deve ter sido indescritivelmente pior). Há uma crueza para retratar alguns momentos que tem como mérito não enveredar para um melodrama. Por outro lado, entendo o grande enfoque religioso que O Nascimento de uma Nação possui, porém as cenas se repetem e perdem um pouco de força narrativa.
Aliás, toda a primeira hora demora a engrenar. Esse tempo em um ritmo mais moroso não pode ser ignorado, principalmente porque o longa quase perde a mão e a empatia conquistada no mesmo primeiro arco. Essa calmaria (não tão calma assim) pode ser encarada como necessária para se estabelecer uma crescente e tornar os minutos finais ainda mais potentes. Ou então como um deslize de Nate Parker, diretor estreante, que tentou abraçar o mundo e ter multifunções na obra. Por exemplo, ele como ator é um reflexo do longa como um todo. Na primeira parte entrega o que precisa, sem arroubos e grandes notas, mas no final – nas cenas mais dramáticas – vemos um trabalho mais firme e marcante no que tange à postura, ao olhar, à voz e aos demais movimentos.
A parte final, aliás, é um assombro. Tudo ali funciona magistralmente bem. Tem uma cena muito marcante, envolvendo árvores, que poderia encerrar o longa. Ela é de uma brutalidade e beleza artística acima da média. E os confrontos, que poderiam ter vindo antes, mostram um potencial de certo modo desperdiçado. Ainda assim, essa parte derradeira é que poderá elevar o filme e que será mais lembrada.
O Nascimento de uma Nação é muito bem filmado, com uma fotografia que mostra que esse quesito é muito mais do que belas paisagens…uma paleta mais fria e a condução da câmera estão impecáveis aqui. A trilha é poderosa e emocionante. Ela vem nos momentos certos e é utilizada de maneira diegética e não diegética. Não tem o impacto de um Selma ou 12 anos de Escravidão, mas vale a nota. A montagem acerta ao fazer boas conexões entre ambientes diferentes, mas peca ao faltar dinamismo em boa parte do filme. Dá a sensação de que ele é mais arrastado do que da fato é. Ainda assim no todo vale também o elogio para este quesito.
Nate Parker se envolveu em uma polêmica no passado, resgatada recentemente, envolvendo um caso de estupro. Isso tem gerado algumas manifestações negativas em relação a obra, mistura essa que acho indevida. O Nascimento de uma Nação fez um grande sucesso em Sundance e vinha como forte candidato ao Oscar. Ainda o coloco como possível presença em categorias como trilha e fotografia, com um pouco de sorte até filme.
https://www.youtube.com/watch?v=wxkXhFDKdmo%20
Resumo
O Nascimento de uma nação pode vir como umas das possíveis presenças no Oscar de 2017. Em um projeto de Nate Parker, dirigido, atuado, escrito e produzido, por ele, o tema da escravidão norte-americana vem mais uma vez à tona.